Dia Mundial do Refugiado - Ponto SJ

Dia Mundial do Refugiado

Assinalando o Dia Mundial do Refugiado, o JRS Portugal dirige uma carta à União Europeia, num apelo a que não esqueça a sua vocação de acolhimento e de esperança

Hoje, dia 20 de junho, assinala-se o Dia Mundial do Refugiado, um momento para dar voz, rosto e dignidade a milhões de pessoas forçadas a fugir das suas casas devido a conflitos, perseguições e violações de direitos humanos.

Este ano, o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) Portugal lança uma campanha simbólica e participativa, que convida todas as pessoas a fazerem parte desta causa – de forma simples, mas significativa. Partilhamos abaixo a nota enviada.

Ao longo das últimas semanas, o JRS enviou cartas e envelopes especiais com uma mensagem de sensibilização e um apelo:

“Ao abrir esta carta, tira uma fotografia. Publica-a no dia 20 de junho com a hashtag #ComOsRefugiadosJRS e marca-nos. Vamos juntos dar visibilidade a esta causa.” Esta ação pretende envolver o público, voluntários, escolas, empresas e parceiros numa expressão coletiva de solidariedade e acolhimento. Cada partilha será uma forma de amplificar histórias reais de resistência, esperança e humanidade.

A campanha também conta com vídeos de testemunhos de pessoas refugiadas no nosso país, dando a conhecer o momento em que se sentiram verdadeiramente integrados.

“Acreditamos que pequenos gestos podem gerar grandes mudanças. Neste Dia Mundial do Refugiado, queremos mostrar que Portugal está atento, solidário e comprometido com o acolhimento de quem procura proteção e dignidade”,

André Costa Jorge, diretor do JRS Portugal

 

Cara União Europeia,

Escrevo-te com ternura — como quem escreve a uma avó sábia, daquelas que já enfrentaram invernos duros e ainda assim nos ensinaram a resistir ao medo, a acreditar no poder de um gesto humano.

Falo-te com amor, sim, mas também com aquela inquietação serena que nasce quando olhamos para quem amamos e desejamos vê-lo lembrar-se de quem é.

Tu és feita de memórias. Ainda ecoa, entre as tuas pedras antigas, a voz de Leão — o Papa que enfrentou Átila não com espadas, mas com palavras. Não o venceu pela força, mas pela coragem do espírito. Escolheu o diálogo, a compaixão, a humanidade. Lembras-te?

Hoje, batem de novo à tua porta os rostos do desespero. Não vêm com exércitos, vêm com crianças ao colo, com mochilas pequenas e esperanças maiores do que a dor que carregam.

Fogem da guerra, da fome, da perseguição. Fogem para ti, Europa. Porque ainda acreditam que tens um coração.
E, no entanto, encontram muitas vezes muros — de arame ou silêncio. Fronteiras que não escutam. Sistemas que se esquecem de sentir.

Mas tu foste feita de pontes, não de cercas. Foste o berço de ideias que ousaram afirmar que nenhum ser humano é ilegal.

Não, Europa, tu não nasceste para fechar os olhos. Lembra-te de Leão. Lembra-te da tua promessa de ser farol, e não porto fechado.

Cara União Europeia,

No Serviço Jesuíta aos Refugiados, respondemos ao apelo do Papa Francisco — de acolher, proteger, promover e integrar quem procura um novo começo — com renovado compromisso. Continuaremos a caminhar ao lado das pessoas refugiadas, a escutar as suas histórias, a defender os seus direitos e a construir, com elas, uma Europa mais justa e mais humana.

Ainda vais a tempo. Ainda podes ser o lugar onde os que fogem encontrem não apenas abrigo, mas dignidade. Onde o acolhimento seja mais do que um dever — seja um gesto de humanidade.

Escrevo-te com amor. Porque acredito que a tua beleza maior está, não nos teus monumentos, mas na tua capacidade de cuidar. E porque sei que, no fundo, continuas a querer ser essa Europa justa, viva, humana, embora possas não saber como.

Este Dia Mundial do Refugiado é mais do que uma data: é um espelho. Reconheces a Europa que vês refletida?

Com carinho e esperança,
A Equipa do JRS Portugal

Faça download da carta e partilhe com outras pessoas.


JRS Portugal

O Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) é uma organização internacional católica, parte da Companhia de Jesus, dedicada a acompanhar, servir e defender pessoas imigrantes e refugiadas em situação de particular vulnerabilidade em 56 países. Em Portugal, desde 1992, o JRS oferece apoio social e jurídico, apoio à empregabilidade, ensino da língua, capacitação profissional, apoio médico, medicamentoso e de saúde mental, tradução, interpretação e mediação cultural e apoio na procura de habitação própria. Presta ainda apoio psicossocial a cidadãos estrangeiros detidos no centro de detenção Unidade Habitacional de Santo António, no Porto, em parceria com a PSP. É atualmente responsável pela gestão de três centros de acolhimento e coordena a Plataforma de Apoio aos Refugiados, realizando sensibilização junto da Sociedade Civil e Advocacy pelos direitos e dignidade das pessoas imigrantes e refugiadas.