Cuidar da Casa Comum: caminho e desafios na Companhia de Jesus - Ponto SJ

Cuidar da Casa Comum: caminho e desafios na Companhia de Jesus

Os resultados de um inquérito feito a nível mundial na Companhia de Jesus afirmam a urgência da crise socio-ecológica e o enorme potencial da ação colaborativa. Confira aqui as principais conclusões.

Celebra-se hoje o Dia Mundial do Meio Ambiente. 2024 foi o ano mais quente de que há registo. Em setembro de 2024, o Secretariado Jesuíta para a Justiça Social e Ecologia (SJES), em parceria com a Universidad Iberoamericana, na Cidade do México, fez um inquérito às comunidades e instituições apostólicas ligadas aos jesuítas de todo o mundo para perceber como é que a Companhia de Jesus estava a responder à crise socio-ecológica global, em linha com a quarta Preferência Apostólica Universal (PAU4). Foram ouvidas 1.407 das 3.624 comunidades jesuítas e instituições apostólicas em todo o mundo. Os resultados deste inquérito foram agora conhecidos:

  • Iniciativas ecológicas abrangentes e multifacetadas: 71% dos inquiridos relatou esforços ecológicos ativos, resultando num total de 1387 iniciativas, com temas-chave recorrentes como a redução das emissões de CO2, o abrandamento da degradação dos ecossistemas e as intervenções sócio-políticas. Por exemplo, a comunidade jesuíta do Centro de Retiros Galileu, em Nairobi, Quénia, não só plantou árvores de fruto e cultivou hortas nas suas instalações propensas à erosão, como também pratica a produção sustentável de alimentos e promove a economia ecológica;
  • Impactos tangíveis e efeitos de propagação: Os inquiridos destacaram a educação ecológica e as alterações nas infra-estruturas como fatores de impacto significativos, conduzindo a resultados tangíveis, tais como uma maior sensibilização ambiental, a redução da pegada de carbono, a melhoria da gestão dos resíduos e a redução dos custos dos serviços públicos;
  • Padrões de obstáculos e soluções criativas de esperança: Os constrangimentos financeiros e a escassez de recursos humanos surgiram entre os obstáculos mais frequentemente citados, ocorrendo muitas vezes em conjunto em mais de metade dos casos. As práticas de vida insustentáveis e a falta de inclusão no plano apostólico da instituição foram também barreiras frequentemente mencionadas. Apesar destes desafios, encontram-se formas cheias de esperança para difundir o Evangelho e a cultura do cuidado para com toda a Criação, como é o caso do curso de religião “Faith in the Wild” no Xavier HS em Cincinnati, EUA, em que os alunos aprendem sobre eco-espiritualidade numa sala de aula ao ar livre e escrevem cartas aos legisladores com base no que aprenderam nas aulas, com um impacto significativo.

Os resultados deste inquérito afirmam tanto a urgência da crise socio-ecológica como o profundo potencial da ação colaborativa no cuidado da nossa Casa Comum. A colaboração não é meramente estratégica; é espiritual, enraizada na identidade e missão dos companheiros de Jesus, chamados à reconciliação com Deus, uns com os outros e com a criação.

À luz da Congregação Geral 36 e do apelo Urbi et Orbi do Papa Francisco para “remarmos juntos”, os resultados deste inquérito afirmam tanto a urgência da crise socio-ecológica como o profundo potencial da ação colaborativa no cuidado da nossa Casa Comum. A colaboração não é meramente estratégica; é espiritual, enraizada na identidade e missão dos companheiros de Jesus, chamados à reconciliação com Deus, uns com os outros e com a Criação.

No contexto desta reflexão, são avançadas algumas oportunidades de ação para o futuro, de forma a que a comunidade apostólica jesuíta possa encontrar soluções para esta crise social e ambiental:

  1. Formação de base para a transformação social – explorar o poder transformador da espiritualidade e pedagogia inacianas para ampliar o impacto das iniciativas ecológicas;
  2. Escalar o impacto, mantendo no centro a promoção da justiça e a defesa dos direitos;
  3. Promover uma liderança inaciana na colaboração, trabalho em rede e defesa da justiça social e ecológica.

Para que estas ideias se concretizem, são indicados alguns possíveis caminhos:

  1. Fortalecer a educação ecológica através dos Exercícios Espirituais e os princípios do Ensino Católico;
  2. Manter como foco central os direitos e a capacitação dos grupos marginalizados: jovens, pobres, comunidades rurais carentes;
  3. Enfrentar os desafios sistémicos: apoio financeiro, pessoal e desenvolvimento de capacidades nos esquemas no Plano Apostólico;
  4. Estabelecer padrões, políticas, práticas e indicadores globais para a monitorização estratégica e avaliação periódica;
  5. Fomentar a colaboração para partilha de conhecimentos e recursos. Parcerias intersetoriais entre as comunidades jesuítas e as instituições apostólicas da Província, organizações de base, congregações religiosas, escolas, movimentos da Igreja, ONGs, Governo Local, o sector empresarial, etc;
  6. Alimentar o trabalho em rede entre as Províncias Jesuítas para defender uma transição energética justa, o cancelamento de dívidas impagáveis do Sul e a implementação do Fundo de Perdas e Danos;
  7. Celebrar histórias de sucesso e vozes do terreno, ligando pessoas e comunidades.

Mais pormenores sobre os resultados do inquérito e sobre como outras comunidades e apostolados jesuítas estão a trabalhar para cuidar da nossa casa comum podem ser encontrados nos seguintes locais: