Na passada sexta-feira, dia 10 de agosto, o jesuíta P. Carlos Montes Rivadiet, de 73 anos, foi encontrado morto numa sala de aula do Colégio “Fé e Alegría”, da Comunidade Yamak-entsa, situada na zona amazónica do Perú. Era um homem comprometido com a sua missão e profundamente respeitado pelas populações indígenas a quem servia.
De acordo com as informações que constam de um comunicado da Província Jesuíta do Perú, este jesuíta espanhol nasceu a 14 de janeiro de 1945 em San Lúcar de Guadiana, Huelva em Espanha. Chegou ao Perú em 1969. Desde 1980 que vivia na selva Amazónica e estava há vários anos ligado ao Colégio Valetin Salegui, Fé e Alegria nº 55, Neste colégio foi professor, diretor e, actualmente, era promotor do colégio, sendo representante da Companhia de Jesus no Colégio e o elo de ligação desta escola com o movimento Fé e Alegria.
As circunstâncias que levaram à morte violenta deste jesuíta estão ainda por apurar. Várias versões são adiantadas pelos órgãos de comunicação locais, mas os jesuítas do Perú afirmam confiar nas autoridades responsáveis pela investigação e não se comprometem com nenhuma das versões adiantadas pela imprensa.
O que é o Projeto Fé e Alegria?
O movimento Fé e Alegria define-se como um projeto de educação integral e promoção social. Segundo o lema do seu fundador, o jesuíta chileno José Maria Velaz, as escolas Fé e Alegria “começam onde termina o asfalto”. Com isto, pretendia explicar que o objetivo destas instituições de ensino é o de levar educação de qualidade a zonas onde esta oportunidade está usualmente vedada às suas populações. De acordo com a história desta movimento, foi a experiência de Velaz na Venezuela que o levou a tomar consciência da necessidade da criação de uma rede de escolas que levasse às periferias mais pobres das cidades e às zonas rurais uma educação que oferecesse igualdade de oportunidades às populações desfavorecidas.
Este projeto elegeu quatro eixos prioritários como orientadores da sua ação:
- a educação popular
- o trabalho junto de zonas de exclusão
- a sustentabilidade da sua ação
- a transformação cultural social e política.
Este projeto está atualmente presente em 18 países do continente americano (especialmente na América Latina), em seis países africanos e na Europa. A presença no continente europeu acontece em Itália e Espanha. Neste caso, mais ligada a projetos de sensibilização para a promoção da igualdade de oportunidades, em termos de acesso à educação.
O Colégio em que trabalhava o P. Carlos Riudavets
O Colégio Valetin Salegui, em que trabalhava o P. Carlos Riudavets, foi fundado há cinquenta anos pela Companhia de Jesus procurando responder às necessidades de jovens residentes na zona de cinco diferentes rios localizados nas comunidades de Awajún e Wampis. Tem 270 alunos internos e associou-se à rede Fé e Alegria no ano 2001.
Num comunicado divulgado na sua página do facebook, no dia 10 de agosto, as autoridades centrais da organização do Fé e Alegria no Perú informavam que se deslocariam ao local em que o Pe. Carlos foi assassinado para colaborar com as investigações policiais.
No final do comunicado divulgado ontem pela Companhia de Jesus no Perú, os jesuítas peruanos reiteram o seu “compromisso pela construção da paz, justiça e da reconciliação como missão central da Companhia de Jesus.”
Havendo desenvolvimentos sobre as circunstâncias das causas que motivaram este assassinato daremos conta delas no Ponto SJ
“Ao Carlos ninguém lhe pode tirar a sua vida, pois durante 38 anos ele ofereceu-a a Jesus de Nazaré, à Igreja, aos seus companheiros de comunidade, aos seus alunos, ao povo awajún e wampis”.
“Ao P. Carlos ninguém lhe pode tirar a vida”
A missa e o funeral do P. Carlos Riudavets,sj tiveram lugar na paróquia de Chiriaco, na Amazónia. Durante a despedida, em que o P. Carlos foi acompanhado por muitos daqueles a quem serviu, o seu companheiro jesuíta P. Juan Cuquerella sj afirmou: “Ao Carlos ninguém lhe pode tirar a vida, pois durante 38 anos ele ofereceu-a a Jesus de Nazaré, à Igreja, aos seus companheiros de comunidade, aos seus alunos, ao povo awajún e wampis”.
Nota da Direção: Aos Jesuítas do Perú, à família do P. Carlos, a todos os que servia e de quem era amigo permanecemos unidos em solidariedade e oração. Agradecemos esta vida entregue numa zona em que a luta pelo bem e pela justiça é muitas vezes exigente.
Atualizado às 20h10 de 12 de agosto com a explicitação da função do P. Carlos como promotor e mais tarde com informações do seu funeral.