Nesta conversa João Paiva conversa com Edna Gonçalves que no Hospital de São João no Porto trabalha há alguns anos na área dos cuidados paliativos. João Paiva começa por referir que o título desta Conversa Franca, “Vivos até à morte” se inspira no filósofo protestante Paul Ricoeur.
Edna Gonçalves começa por explicar que os cuidados paliativos são cuidados de saúde que procuram ajudar a viver o melhor possível as pessoas que enfrentam problemas de saúde que ameaçam a sua vida, ainda que não sejam necessariamente doenças terminais. Nesse sentido, a paliativista esclarece que esta área da saúde não trata apenas de pessoas “que estão a morrer”, mas pretende cuidar e promover a vida. Isso não significa que a morte seja encarada como um inimigo. Aceite como um dado natural não se pretende evitá-la a qualquer custo, mas assegurar que se viva o melhor possível. E isto implica por vezes decisões difíceis, num trabalho cada vez mais multidisciplinar que não se restringe à equipa médica. Edna Gonçalves distancia-se de opções que passem por uma luta a qualquer custo contra a morte.
Num segundo momento, a médica do Hospital de São João explica, partindo da sua experiência, as razões que a levam a ser crítica da opção pela eutanásia, recordando que tal como no suicídio assistido se trata de uma morte provocada. Deste modo, Edna Gonçalves fala da dificuldade em estabelecer o ponto a partir do qual é legítimo provocar a morte a alguém sem que isso signifique que não haja situações particularmente difíceis de avaliar.
Sem colocar em causa que quem defende a legalização da Eutanásia deseje minorar o sofrimento dos doentes, a paliativista refere estudos que revelam que a maioria de pedidos de eutanásia e suicídio assistido não se relaciona com o sofrimento físico. De facto, esses pedidos estão muitas vezes associados devido ao peso que sente constituir para as famílias e à perceção de que a sua vida deixou de ser útil. A morte social e morte afetiva acabam, nestes casos, por ser prévias à morte biológica. E esta é uma questão que interpela toda a sociedade e não apenas os profissionais de saúde. E isto tanto no que respeita à disponibilidade das famílias para acolher estas situações, como no que se refere aos apoios dados para que haja a possibilidade de as famílias acompanharam aqueles que amam até ao fim.
No fim da conversa, Edna Gonçalves fala da urgência do aprofundamento dos cuidados paliativos e do modo como antecipa a relação com a sua própria morte.
Pode ouvir a conversa em formato Podcast aqui:
Fotografia de National Cancer Institute – Unsplash