A Casa da Torre em Soutelo foi o lugar escolhido para os últimos votos do P. João Carlos Onofre Pinto, sj e do P. António Valério, sj. Esta importante festa da Companhia de Jesus teve lugar no último sábado,dia 8, na Capela do Imaculado Coração de Maria, que acolheu jesuítas, familiares e amigos que se quiseram unir neste tempo de alegria que coincidiu com a Festa Litúrgica da Natividade de Nossa Senhora.
Os últimos votos decorrem sempre durante a celebração da Eucaristia e acontecem depois de um longo tempo de formação. Significam a incorporação definitiva de um jesuíta no corpo da Companhia de Jesus. No final do Noviciado (1ª etapa de formação de um jesuíta), uma vez confirmado o chamamento inicial, cada jesuíta faz os votos de pobreza, castidade e obediência perpétuas. Significa, comprometendo-se de um modo definitivo com Deus. Nessa mesma ocasião, cada jesuíta promete estar disponível para integrar de um modo pleno a Companhia de Jesus se, no final de todo tempo de formação, a Companhia entender acolhê-lo definitivamente como parte do seu corpo apostólico. É neste momento que os jesuítas fazem um voto especial de obediência ao Papa, disponibilizando-se para colaborar ativamente em qualquer missão que este entenda confiar aos jesuítas. Foi precisamente isso que aconteceu com o P. João Carlos e o P. António durante a celebração de ontem.
O amor de Deus torna isto possível
Partindo do Evangelho próprio da Festa da Natividade de Nossa Senhora, o provincial P. José Frazão Correia, que presidiu à celebração, recordou durante a homilia: “Maria não é apenas aquela que dá à luz: foi dada à luz. A sua história não começa na encarnação, começa no ter sido também ela gerada, amada, dada à luz. Antes de fazer, foi amada. A importância de voltar ao primeiro amor.” E sublinhou ainda: “Jesus foi o filho perfeito porque se sabia amado e partilhava.” Mais adiante perguntava: “É possível ser pobre, casto e obediente? Com as próprias forças não. O amor de Deus torna isto possível.”
É possível ser pobre, casto e obediente? Com as próprias forças não. O amor de Deus torna isto possível.
Finalmente, o provincial dos jesuítas em Portugal pediu que os padres João Carlos e António “assinalassem a sua vida com o nome e amor de Deus, em suma pobreza espiritual e efectiva, desejando para si o pior e o melhor para os irmãos”, insistindo para que tivessem “corações cada vez mais semelhantes ao de Jesus e de Maria, loucos por Cristo e não sábios aos olhos do mundo.”
Os últimos votos são pronunciados imediatamente antes da comunhão, diante do Corpo e Sangue de Jesus presentes no pão e vinho consagrados, e são recebidos pelo provincial em representação do Padre Geral da Companhia de Jesus.
No momento de agradecer ao todos os presentes, o P. João Carlos lembrou um frase que ouviu muitas vezes ao seu pai: “Dar graças a Deus não é pecado.” Já o P. António Valério afirmou: “Só somos felizes se formos de Deus.”
O testemunho de quem fez os votos
Ainda antes do dia da grande festa, o Ponto SJ pediu ao P. João Carlos e ao P. António que partilhassem o significado deste momento. Aqui ficam as suas palavras.
P. João Carlos Onofre Pinto, sj:
“Chegados os Últimos Votos, habita-me a nota fundamental da ação de graças, pela forma como o Senhor me tem conduzido ao longo dos anos.
Porque dos meus talentos me despertou a uma vocação consagrada, mas depressa me fez entender que nada posso sem Ele; porque, ainda assim, dos meus limites me convida a participar, como sacerdote jesuíta, da sua missão de consolar, de apontar um sentido que só Ele pode dar; porque nessa entrega me dou conta de que algo maior que eu — que não me pertence — me passa pelas mãos, e também me «salpica» e encoraja: dando, recebo sempre mais.
Pertencer plenamente à sua Companhia é, então, uma enorme graça. Tudo é graça. Assim, do coração agradecido brota naturalmente o desejo confiado de ir com Ele até ao fim: «Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, à vossa inteira vontade. Dai-me o vosso amor e graça, que esta me basta»”.
P. António Valério, sj:
“Fazer os Últimos Votos na Companhia de Jesus significa, em primeiro lugar, a certeza da ação da graça de Deus na minha vida, sempre capaz de multiplicar em bons frutos as minhas capacidades e fragilidades. Ao procurar fazer da vida uma resposta contínua à vontade de Deus, chego a este dia com a consolação do muito que me foi dado, através dos companheiros e tantas pessoas que, na missão, me despertaram para o valor da amizade e do serviço. E chego a este dia também com a consciência do tanto a que ainda sou chamado a responder. Disponho, assim, a minha vida para a missão da Companhia, naquilo que o Santo Padre dela quiser. Esta disposição interior ganha ainda, nestes tempos concretos, uma maior expressão de amor à Igreja, ferida no seu corpo por abomináveis ações de alguns dos seus membros. Gostaria muito que a celebração dos Últimos Votos fosse testemunho de que é a Cristo e à sua Igreja que devemos dar o melhor de nós, a favor dos que nos são confiados, na oração, no ministério e na missão.”