O ponto de partida é importante por razões além das óbvias. Não serve só para saber onde estamos. Saber onde estamos é já alguma coisa, mas não mete em marcha. Por isso serve, sobretudo, para saber ao que vamos e aonde vamos. Esta é uma bela intuição inaciana: a finalidade, que dá sentido, é o verdadeiro ponto de partida.
Entre os dias trinta de outubro e dois de novembro, a pastoral dos Colégios dos Jesuítas (Colégio das Caldinhas e Colégio S. João de Brito) lançou aos alunos (e educadores) uma proposta que vai neste sentido: saber ao que vamos e deitar os pés à vida. Assim, nesses dias, 260 alunos e cerca de 50 animadores da pastoral, com o apoio logístico da Associação de Pais do Colégio S. João de Brito, peregrinaram de Sousel até ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa.
Para um peregrino, o itinerário tem duas faces. Aquela visível, sob a estrada, que pode ser marcada num mapa e traduzida em coordenadas, acessível a todos. E uma outra, mais funda, que o faz caminhar lá onde as estradas não se veem, em espírito. É aí que o peregrino, que se abre ao Caminho Verdadeiro, se encontra com Cristo Jesus que o olha, se enche de compaixão, cuida das feridas e o convida a fazer o mesmo
Penso (se me é permitida tamanha subjetividade no que poderia até ser uma “notícia”), que há algo numa peregrinação que escapa à lógica comum. Com comum quero dizer do mundo, ou banal. Aqui, na peregrinação, o cansaço e o esforço, ao final do dia, são motivo de alegria. Talvez o suor e a dor de pés possam falar de um desejo de libertação, de procura do essencial. O peregrino sua o supérfluo para se libertar dele e, ao final da jornada, quando está cansado, está também mais livre.
Será que todas estas (cerca de) 300 pessoas experimentaram isto mesmo? Não tenho como saber, assim de modo imediato. É um número em massa. Mas é sempre certo que, entre a massa, há fermento. E, no caminho, Cristo.
Texto de: Eduardo Amaral, sj