Presidente condecorou o jesuíta “apaixonado por dentro e racionalmente sereno por fora”

Congresso que marcou o centenário do nascimento do P. Manuel Antunes terminou com uma surpresa. Presidente da República condecorou a título póstumo o jesuíta com a Grã-Cruz Infante D. Henrique.

O Presidente da República presidiu à sessão de encerramento do Congresso Internacional “Repensar Portugal, a Europa e a Globalização: 100 anos Padre Manuel Antunes, sj”. Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa recordou os tempos em que, como aluno de Direito, se dirigia discretamente ao Anfiteatro I da Faculdade de Letras e, sentando-se num dos últimos lugares da sala, participava em algumas das aulas leccionadas pelo professor. Como quem conta uma história, Marcelo Rebelo de Sousa desenhou a imagem de um homem “que se movimentava suavemente, sem nunca perder a postura, o tom e fio à meada”. Descreveu-o como aquele que ensinava, “apaixonado por dentro, embora racionalmente sereno por fora”.

O Presidente falou do P. Manuel Antunes como um cristão conhecedor dos debates da Igreja do seu tempo e um humanista, cujo alcance se estendia para lá dos crentes; como alguém que gerou diálogos entre “cidadãos atentos, esclarecidos e de boa vontade”.  Enfatizando que o P. Manuel Antunes viveu grande parte da sua vida antes de 1974, Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de sublinhar o que o professor de Cultura Clássica “viu, reflectiu e nos disse” sobre o Portugal que chegou com o 25 de abril. E, continuou o Presidente, “preveniu, acerca de lições do passado e das expectativas, dos riscos e dos desafios do futuro”.

Marcelo Rebelo de Sousa questionou-se também acerca da influência que Manuel Antunes, “sendo como foi e como era”, poderia ter tido em Portugal, se tivesse vivido mais tempo. “Que falta nos fez não ter podido estar connosco mais tempo, nesse outro tempo”, sobre o qual ele mesmo tinha falado e antecipado,.

Professor integro, profundo e envolvente, carismático, influente, um académico com princípios e valores, um cidadão impoluto, empenhado sábio e pedagogo, um sacerdote fiel ao cruzamento da razão com a fé, da dogmática com a compreensão humana, um ser humano completo. (Presidente da república sobre o P. Manuel Antunes, sj)

Inspirado pela figura e a herança de Manuel Antunes, Marcelo Rebelo de Sousa perguntou-se ainda como tinha sido possível deixar morrer o estudo da Cultura Clássica nos estudos pré-universitários: “tanta ignorância, tanto erro, tanta distração se poderia ter poupado com um pouco mais de conhecimento dessa cultura e da sua história.”  O antigo professor universitário de Direito lamentou ainda que modismos e pragmatismos tenham substituído a visão de largo prazo e vasto folêgo.

Já a finalizar, o Presidente da República descreveu o P. Manuel Antunes como um “professor íntegro, profundo e envolvente, carismático, influente, um académico com princípios e valores, um cidadão impoluto, empenhado sábio e pedagogo, um sacerdote fiel ao cruzamento da razão com a fé, da dogmática com a compreensão humana, um ser humano completo, na unidade do seu ser e na coerência com o seu existir, um humanista.”

Tudo isto levou a que o Presidente da República condecorasse a título póstumo o P. Manuel Antunes com a Grã-Cruz Infante D. Henrique. As insígnias foram entregues à representante da família, Noémia Simões, que as recebeu com enorme emoção.

O congresso encerrou com uma pequena atuação de Rão Kyao, que interpretou duas peças musicais.

 

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Foto de capa: Florentino Franco/Congresso P. Manuel Antunes