O congresso que evoca o centenário do nascimento do P. Manuel Antunes, sj teve início esta tarde na sala do Senado da Assembleia da República. A sessão da abertura foi presidida por Edite Estrela, Presidente da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, em representação do Presidente da Assembleia República.
As primeiras palavras da tarde foram proferidas pelo Presidente da Comissão Organizadora, José Eduardo Franco, que sublinhou o desejo de que este encontro não se fique por um mero exercício de recordação e cumpra o propósito de “pensar a humanidade, ajudando a fundar um novo projeto de cultura, de educação e da própria humanidade.”
Já o provincial dos jesuítas em Portugal, o P. José Frazão Correia, sj, afirmou que mais do que recordar o conteúdo do pensamento, desejava destacar o seu modo de pensar como um modo de ser e de proceder: “O seu pensar é mais modo e estilo de pensar do que simplesmente conteúdo pensado. Está mais do lado do processo aberto e incompleto de quem, com seriedade, procura compreender, do que do lado do lugar que se ocupa com a acumulação de saber e de erudição.”
O Presidente da Câmara Municipal da Sertã, principal promotora deste congresso, descreveu Manuel Antunes como “um homem que olhava de frente e não de cima, capaz de um o diálogo honesto, que levava a refletir e a pensar sobre o mundo.” Para Farinha Nunes o jesuíta foi “aberto e reconciliador, quando as mentes se fechavam e, por isso, esta visão desconcertante, obriga-nos a olhar de frente para uma sociedade em que, às vezes, se revelam as misérias humanas.”
Ao encerrar a sessão de abertura, Edite Estrela, lembrando os seus tempos de aluna, revelou-se impressionada pelo modo como o professor da Faculdade de Letras unia “cultura e vida”: Ao relembrar o pensamento de Manuel Antunes, citou uma frase que a marcou “a democracia é preciso mercê-la”. Inspirada por esse pensamento, sublinhou a necessidade de aprofundar o projeto europeu, recusando nacionalismos e outras tentações. É necessária, disse a deputada “uma melhor Europa, uma melhor globalização em que o acolhimento de refugiados, não se contraponha à proteção dos cidadãos e em que ritmo de transformação trabalho não coloque em causa a dignidade de quem trabalha.”
“Sermos neste mundo implica ser para o mundo.” (Lídia Jorge sobre o P. Manuel Antunes, sj)
O presidente da comissão cientifica do congresso, Guilherme de Oliveira Martins, leria mais tarde, no primeiro painel do congresso, uma mensagem de Edgar Morin em que o filósofo francês destacava o facto do jesuíta português ter sido “um conhecedor profundo da complexidade do humano.” Nesse mesmo painel, Paulo Ferreira da Cunha, da Universidade do Porto, lembrou como a revolução moral defendida pelo P. Manuel Antunes exigia justiça, solidariedade e honestidade, postulando uma primazia da “cultura sobre a economia.” Ferreira da Cunha concluiu a sua intervenção descrevendo o professor de Cultura Clássica como alguém “atento ao passado e pesquisador de futuro”
Também presente num dos painéis esteve Lídia Jorge. A escritora falou da sua experiência enquanto aluna do P. Antunes como “uma experiência inaugural e única”. Segundo Lídia Jorge para o jesuíta “sermos neste mundo implicava ser para o mundo”. Ele foi “o erudito da transformação, o pensador solene e livre”, referiu ainda a escritora.
O primeiro dia de congresso ficou ainda marcado pelas intervenções de, entre outros, Adriano Moreira e Pedro Barbas Homem.
O segundo dia de congresso decorre amanhã na Sertã.
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Foto de capa: Florêncio Franco/Congresso Manuel Antunes