Amizade gambozínica

Amizade gambozínica

Sou uma pessoa muito rica, rica em amizades! E estas amizades, geram-me mesmo felicidade.
Isto deve-se muito aos Gambozinos, onde consegui desenvolver este grande pilar da minha
vida, as relações.
Mas porque é que será que estas amizades feitas em contexto de Gambozinos são tão
especiais? É de facto algo quase inexplicável, daquelas coisas que só vivendo é que se percebe.
Tenho algumas hipóteses de resposta a esta pergunta. Talvez seja pela grande intensidade que
por exemplo um campo de verão de 9 dias ou um mini-campo de 4 nos dá. Talvez pelo facto de
termos um propósito comum, uma missão e um objetivo concreto que nos une, em darmo-nos
aos outros. Ou até mesmo porque estas amizades passam pela partilha de vida interior, do que
nos faz rir e chorar, de querermos ser mais e melhores, com os que nos rodeiam. Se calhar, as
amizades gambozínicas passam por isto e por muito mais! É um vínculo que transcende o
tempo e a distância, em que se fica meses sem ver um amigo que vive do outro lado do país,
mas tudo permanece tal e qual como quando nos despedimos.
Foi nestas despedidas de amizades intensas que se criaram em 9 dias em campos de verão que
fui desenvolvendo a minha capacidade de manter relações – e de ter e querer ter este cuidado
com cada amigo.
É difícil manter uma relação porque não se tem tempo para dar, ou não se arranja o tempo
necessário para dar. Eu gosto muito de dar esse tempo e de “gastar” o pouco tempo livre que
se tem, nisto. A minha cabeça, no meio do caos em que está sempre, a pensar em tudo ao
mesmo tempo, vai rodando entre os meus amigos e causa-me uma agitação que me “obriga”
a, simplesmente, querer perguntar: “Olá! Como estás?”; “Quando é que estamos juntos?”.
Este é o primeiro grande passo para manter uma relação de amizade. Lembrar. Perguntar.
Ouvir.
Graças aos Gambozinos, tive a alegria de, desde pequena, conhecer muitas pessoas novas e
querer crescer com elas no resto da minha vida. Amigos que perguntam por mim como eu
pergunto por eles.

Durante este tempo Quaresmal, proponho que estendas o cuidado mútuo para além dos momentos intensos que vais tendo, priorizando também o fortalecimento das tuas amizades, principalmente com aqueles que estão longe de ti. Que este tempo seja uma oportunidade para cultivares as relações e manteres laços de amizade com atenção e dedicação renovadas.

Isabel Braz

GAS – Gambozinos Amigos do SudOeste

GAS – Gambozinos Amigos do SudOeste

O Gambozinos Amigos do SudOeste – GAS – é composto por quatro fins de semana
destinados a animados do escalão G3 dos núcleos Sul e Oeste. Estes fins de semana têm
servido de motor de união entre os participantes, independentemente do seu núcleo original.
O fim de semana mais recente decorreu entre os dias 17 e 18 de fevereiro. Na
madrugada de sábado partiram quatro carros de Lisboa e do Pragal rumo a Peniche.
Após um Bom dia Senhor – BDS – (sobre o tema justiça), os participantes do G3 (15 aos
16 anos) juntaram-se aos Gambozinos do grupo Peniche é fixe (PEF), do escalão G0 (7 aos 10
anos). Havia o propósito de trabalhar com o G3 o sentido de responsabilização sobre os mais
novos. Esta união criou amizades entre os escalões e entre os participantes do mesmo escalão,
reforçando-se também o facto de virem a ser animadores.
As equipas para o jogo da tarde foram criadas pelos animados do GAS. Os G3
escolheram ficar cada um com um animado do PEF de modo a que as equipas ficassem
equilibradas!
Após um jogo muito animado, fomos todos juntos à Missa em Peniche. Uma vez
concluída a Missa, o grupo do GAS dirigiu-se a Óbidos, onde ficámos a dormir. Como já é
tradição, houve um jogo noturno chamado Avistamentos. O objetivo do jogo era encontrar
outras equipas e o unicórnio (um animador que andava a correr por Óbidos vestido de
unicórnio). No zig zag das ruas de Óbidos, os obidenses, ajudaram os Gambozinos a encontrar
o unicórnio.
Cantado o “Boa Noite”, foi tudo descansar para haver energia para o dia seguinte!
Domingo começámos o dia com um “peddy paper” por Óbidos, no qual os G3
estiveram a tirar fotografias a monumentos, com pessoas e diferentes locais de Óbidos.
Organizámos grupos de três a quatro pessoas para que houvesse uma maior partilha e à
vontade entre os gambozinos.
Estando o grupo mais unido e mais à vontade, fez-se um “Boa Tarde Senhor” focado na
Quaresma.
Com uma atividade repleta de atividades focadas em responsabilizar, orientadas para
o autoconhecimento e para o serviço aos outros, o grupo de animados do GAS esteve mais do
que à altura do desafio! Assim concluída a atividade e feitas as respetivas despedidas, os
carros regressaram aos seus destinos.
Este fim-de-semana conseguiu unir o grupo, que ainda se sentia pouco confortável
com as diferenças culturais e sociais. Ao responsabilizar os gambozinos, estes uniram-se para
assegurar a diversão e conforto dos mais novos. No sábado, o foco passou a ser o G0 e não o
G3, para promover a sua maturidade e autonomia. Foi muito recompensador ver os animados
assumirem o papel de animador, sendo nós, animadores, convidados a revermo-nos nos
diferentes perfis e amizades que se iam formando.
O “peddy paper” revelou a parte mais criativa do escalão e obrigou a que os grupos
ficassem mais à vontade entre si para poderem experimentar novas dinâmicas.

A avaliação do fim de semana foi extremamente positiva e sentimos que o grupo do
GAS está cada vez mais próximo e a caminhar em direção a um grupo mais uno!

Miguel Pupo Correia

Amigos no Senhor

Amigos no Senhor

Nos Gambozinos por vezes fala-se da importância de criarmos e cuidarmos de “Amizades
no Senhor”. Mas de onde é que vem isto? E qual a sua importância?
Ao longo do ano, seja em atividades ou campos, vamos criando relações com animadores,
animados, Jesuítas, Pais de animados… Mas nestas relações, há umas que podemos elevar a
outro nível. Relações em que não somos simples “funcionários de uma organização”, “amigos de
trabalho”, “conhecidos”, “colegas de voluntariado”, mas sim “Amigos no Senhor”.
Só há amizade quando existe uma entreajuda para que o outro seja o melhor que pode ser.
Somos guardiões dos nossos amigos, precisamos de estar atentos para quando precisam de nós.
Ajudar o outro no que ele carrega. Saber pedir perdão, saber perdoar, ser misericordioso. Uma
amizade ajuda-nos a ser muito mais, mas também exige muito! Exige que sejamos responsáveis,
como disse Antoine de Saint-Exupéry “Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que
cativas”. Também nos exige compromisso e constância a cuidar da amizade, como a raposa pede
ao principezinho – “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser
feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei
inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca
saberei a hora de preparar o coração… É preciso ritos.” Numa amizade procuro também ser mais
“sui generis”, ser mais eu mesmo, ser autêntico. Todo este caminho de amizade também se aplica
à nossa relação com o Senhor.
O gambozino procura seguir o Senhor, ser seu embaixador. E ao fazer este caminho com os
outros, tanto é ajudado como ajuda. Após cada um ouvir o Senhor a chamá-lo, leva-nos a ser seus
amigos, e por sua vez “Amigos no Senhor” de outros que tenham também aceite este convite.

Manuel Tovar

Alegra-te, Gambozino! Foste encontrado!

Alegra-te, Gambozino! Foste encontrado!

Querido Gambozino (quem quer que sejas),

Não sei se já tive a Alegria de te encontrar! Diz-me tu, caso estejas a ler isto : )

Mesmo que já nos conheçamos, acho que nunca te cheguei a contar que, ainda antes de conhecer os Gambozinos, já andava “à caça” de uns animais lendários, com o mesmo nome que nós. O meu avô dava-me a mão e passávamos tardes de domingo à procura deles, num monte perto de casa, em Barcelos. Devo dizer-te que são criaturas complicadas… nunca se deixam encontrar: vivem escondidos, isolados, adormecidos; ou então desatam a correr e ninguém os apanha.

Mas nós somos de uma espécie diferente…certo? Vá, pelo menos temos Alguém que persevera mais do que eu nestas buscas (as minhas tardes de domingo já não são o que eram). Devo admitir, temos O mais criativo Pescador de Gambozinos de todos os tempos à nossa procura. Por mais que nos afastemos, quando menos esperamos ou planeamos, lá vem Ele de surpresa. Conhece todos os nossos esconderijos (a preguiça, o desânimo, o stress, o orgulho, a autossuficiência…). Chama cada um e, se permitirmos, reencontra-nos sempre! Mas é preciso que o permitamos, porque Ele nunca se vai impor. Sabe que só O podemos amar se formos livres. E digo-te: não há Alegria mais verdadeira e duradoura do que aquela que nos inunda quando se dá este encontro, no íntimo do nosso ser. É algo que se vive e que se explica muito mal.  Contudo, recentemente, uma amiga minha conseguiu encontrar quem o conseguisse expressar por aproximação: é algo parecido com “o instante em que a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade. O instante de mergulhar no Amor infinito, no qual o tempo já não existe. Este instante é a vida em sentido pleno, no qual somos simplesmente inundados pela alegria”. Assim o exprime Jesus, “ Eu hei-de ver-vos de novo; e o vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16,22).  A partir deste instante, Gambozino, não há volta a dar. Por mais que fujas ou te tornes insensível à sua presença, foste encontrado! E Ele volta sempre.

Nem sempre se faz sentir com a intensidade que às vezes a alma deseja, nem tem respostas ou consolações prontas para nos dar no momento exato em que queremos. Passado algum tempo deste encontro, apercebi-me que é normal enfrentar a “sede” e que o olhar fique turvado. É possível até duvidar se aquilo que se viveu interiormente não passe tudo de uma ilusão, de sentimentalismo. Talvez percebas o que digo. Lembras-te daquele campo em que foste tão feliz? Agora contrasta com a distância do regresso à “vida real” e com o cansaço e dificuldades que nela tenhas enfrentado.  É aí que somos chamados a “permanecer no deserto, sem tomar atalhos”. Permanecer com Ele (na sua palavra, nos sacramentos, na oração e no serviço). Aí teremos a oportunidade de, num salto de fé, amar Quem nos amou e ama primeiro.

Sabes? Tive a graça de ser consolada quando descobri que a própria Madre Teresa de Calcutá enfrentou este “Silêncio de Deus” por mais de 50 anos, sem sentir a Sua presença ou ouvir a Sua voz. E, no entanto, por Amor, permaneceu, na fé e na missão que lhe foi confiada. Deu a vida, mesmo sem O sentir durante tanto tempo… e, paradoxalmente, Levou-O ao encontro de tantos. Foi “luz” no mundo. Já olhaste bem para ela? Para o seu sorriso? Para as suas obras? É desta Alegria que falo.

É a partir deste encontro que somos escolhidos e enviados. É neste instante que brota a missão dos Gambozinos e de todos os cristãos. Afinal, “a alegria é missionária. Não é para ficar numa pessoa, mas para levar algo”. Leva-nos a sair de nós mesmos. Imagino que já a possas ter experimentado. Como foi? Lembras-te? Se sim, repito a pergunta que nos foi feita nas JMJ: “vais guardá-la para ti ou vais levá-la aos outros? Que pensas fazer?”.

Lisete Miranda

A Alegria do Sim

A Alegria do Sim

Nota prévia:
Quando a Ginjinha (a chefe da redação do Jornal dos Gambozinos) me ligou a pedir um artigo para o dia seguinte, apeteceu-me, claro, mandá-la passear. Acontece que, quando ela me disse qual seria o tema do artigo, perdi logo a lata…
O tema era o Sim. Melhor: a alegria que vem com o Sim.
(irónico… pois)
Não sei se este era verdadeiramente o tema que estava pensado ou se foi tudo um logro, por parte da Ginjinha, para me convencer a aceitar, mas aceitei a provocação. Afinal de contas, era preciso ser muito Grinch para me recusar a escrever um artigo sobre “A Alegria do Sim”.

 

A Alegria do Sim

Qualquer Sim é antecedido, ora de uma pergunta, ora de um convite. Vamos focar neste segundo cenário: do Sim ao convite.

Há dois momentos de alegria distintos que vêm com cada Sim:

Num primeiro momento, sentimos a alegria de ser convidados. Desde logo, porque qualquer convite é, de certa forma, uma lisonja: significa que alguém acha que somos a pessoa certa para alguma coisa (o que é fixe).
A alegria do convite é a alegria de quem se sente desejado. Há sempre algumas borboletas que começam a circular na barriga quando somos convidados para alguma coisa. Uma borboleta tímida, se formos convidados para uma tarefa banal (“ao menos lembraram-se de mim”), duas ou três, se for um convite para um café com amigos, ou todo um panapaná [PT/BR: bando de borboletas] se o plano for, numa noite de cinema, partilhar um filme com aquela rapariga por quem estamos perdidamente apaixonados.

Há, depois, um segundo momento de alegria:
Quando percebemos que queremos e, antes sequer de dizermos que Sim, já nos inundou a alegria que vem de imaginar o que aquele sim trará: o desenrolar da aventura para o qual se foi convidado. Se, numa primeira fase, estamos felizes por, muito simplesmente, termos sido convidados, logo se segue uma alegria maior, que nasce da antecipação daquilo que se irá viver.
São momentos, mais prolongados ou mais fugazes, em que conseguimos prever o futuro: em que nos vemos com os amigos com quem não estávamos há tanto tempo ou em que quase nos sentimos a dar a mão à pessoa ao nosso lado quando começam a rolar, no ecrã escuro, os créditos finais.

page1image2580400

Ainda nada aconteceu. Ainda nem dissemos que sim. Mas já sentimos, por uma qualquer magia, uma quota-parte da felicidade que o futuro nos reserva.

Mas porquê dizer que sim?
Estamos nós perfeitamente satisfeitos na nossa vidinha e, sem motivo aparente, alguém nos oferece um presente: um convite.
Mas, bolas!, fomos apanhados de surpresa e não temos nada para lhe dar… O Sim é, muito convenientemente, o presente que se pode sempre dar a quem nos oferece um convite.
Não temos de dar um Sim, mas este vem mesmo a calhar….

O problema é que o Sim dá-se, mas, quando caímos em nós mesmos e percebemos que não o devíamos ter dado, é difícil recuperá-lo.
É tenso.
Ninguém gosta de quem falta ao compromisso. Daquele tipo que fica tantas vezes “debaixo de água” que mais valia arranjar um submarino. É preciso ser muito cuidadoso com os Sins que se dá, sob pena de ficar sem stock. Como numa das melhores passagens do Senhor dos Anéis: “like butter scraped over too much bread”.

O Não é uma chatice, embora seja muitas vezes a resposta certa. É uma palavra rude, demasiado redonda, que grita “confronto!”: é o desenhar de um limite, por vezes uma ofensa e, tantas vezes, o prelúdio de uma revolução.
Ainda assim, é o Sim que, muito sorrateiramente, costuma trazer as loucuras que mais se prolongam no tempo. O Sim marca o início de qualquer contrato, salto, aventura, trabalho, ideia posta na prática, de qualquer namoro ou casamento.

(estes dois últimos, claramente, os Sins mais arriscados… com o dia 14 aí à porta é preciso dizê-lo com franqueza)

E há muitos tipos de “Sim”.
Há o Sim eufórico, o Sim de mártir (de quem sabe o que aquilo lhe vai custar e faz questão de o dar a entender), o Sim de quem claramente não percebeu a questão, o Sim apaixonado, entre muitos outros…
Para além disto, há muitos convites que, na prática, não precisam de um “Sim” para ficarem firmados. Muitas vezes basta acordar, ouvir, deixar crescer…
basta um sinal, um gesto
ou um beijo.

Miguel Santos

Somos convidados a redescobrir o valor da espera

Somos convidados a redescobrir o valor da espera

Vivemos na cultura do instante e da pressa, do fazer rápido, a despachar, no menor tempo possível.

A azáfama dos dias de hoje parece muitas vezes dificultar uma postura tranquila sobre esperar. Talvez seja por isso que este conceito – que parece nos ser sempre imposto – é sempre visto como negativo e quase inútil, apesar de poder não ser.

O Advento que agora começa, convida-nos a isso mesmo: a esperar a vinda de Jesus, que vem ao Mundo, pequeno, frágil e pobre. Não escolhendo nascer num grande palácio, ou com grandes posses, mas num simples estábulo. No entanto, a espera pelo Menino não começa poucos dias antes.

“Esperar é sempre um movimento que parte de algo que já existe, para algo mais que se afigura”.

O convite parte de algo que já existe anteriormente e que nos vai movendo interiormente. Ajuda pensar que com Jesus não são necessárias provas físicas ou certezas para que a Missão ganhe forma ou sentido. Uma vez que o convite é feito, é Jesus quem nos leva com moções interiores.

Quando olhamos para a vida de Maria, conseguimos ver que também Nossa Senhora foi convidada a esperar. Depois do Anjo Gabriel lhe ter anunciado a Missão que lhe tinha sido confiada por Deus e Maria ter dito o seu “SIM”, Jesus não nasceu de imediato, aparecendo nos seus braços. No entanto, Maria não ficou simplesmente sentada à espera. Em vez disso, levantou-se e partiu apressadamente até casa da sua prima Isabel.

Também nós à semelhança de Maria e tantas outras personagens bíblicas, somos convidados diariamente a esperar. A vivência da espera é que se revela determinante. Não escolhamos permanecer sentados a esperar as nossas grandes Alegrias, mas guardemos este tempo para esperar o Senhor e os Seus convites, continuando a viver o nosso dia-a-dia e tornando o Seu Amor concreto.

A diferença estará nisto mesmo: em querermos viver uma espera ativa, em vez de passiva: que se põe a caminho e vai ao encontro, procurando a mão do Senhor nos passos que vamos dando e deixando que Ele Se manifeste pela Sua vontade, não pela nossa.

Neste tempo que agora começa, somos convidados a redescobrir o valor da espera.

Maria Mendonça