Minicampo do norte – da simplicidade à loucura

Minicampo do norte – da simplicidade à loucura

O minicampo é uma fuga à correria do dia-a-dia. Pena que passe num instante. Mas a verdade é que não é preciso muito tempo para saber parar, recentrar e saborear como é bom viver no amor e amizade gambozínica.

Do minicampo do Norte, trago comigo a gratidão. Acredito que fui para lá prontíssima para servir mas, na verdade, eu é que fui servida. Como é possível um Deus infinito caber num coração humano, naturalmente tão limitado? A vida de cada gambozino é a maior prova disso.

Aliás, este minicampo foi uma grande prova! – a alegria de cada um e a vontade de procurar o gambozino que é e de perceber que ser gambozino é viver acompanhado dos outros e para os outros, porque os gambozinos são mesmo locos dela cabeza!!

Foi mesmo bom cada um reencontrar a criança dentro de si entre aplausos, jogos, conversas na roda, músicas cantadas até a voz não dar mais. Foi mesmo boa toda a energia na Gamboliga quando ainda nem tínhamos tido tempo de acordar. Foi mesmo bom o espírito de equipa a lavar a loiça do dia anterior ou a preparar o pequeno-almoço para todos.

Depois, trago também a alegria da espera.  Sinto que o amor e a alegria da Páscoa é algo que pode ser muito intrínseco e espontâneo em nós, mas somos capazes de viver a alegria da espera na Quaresma? Acho que esse é o grande desafio, que acredito que foi superado nestes 4 dias. Com a certeza de que as sementes foram lançadas em cada gambozino, só me resta esperar e confiar nos frutos que saem destes dias vividos na simplicidade e na loucura.

Matilde Gonçalves

Amizade gambozínica

Amizade gambozínica

Sou uma pessoa muito rica, rica em amizades! E estas amizades, geram-me mesmo felicidade.
Isto deve-se muito aos Gambozinos, onde consegui desenvolver este grande pilar da minha
vida, as relações.
Mas porque é que será que estas amizades feitas em contexto de Gambozinos são tão
especiais? É de facto algo quase inexplicável, daquelas coisas que só vivendo é que se percebe.
Tenho algumas hipóteses de resposta a esta pergunta. Talvez seja pela grande intensidade que
por exemplo um campo de verão de 9 dias ou um mini-campo de 4 nos dá. Talvez pelo facto de
termos um propósito comum, uma missão e um objetivo concreto que nos une, em darmo-nos
aos outros. Ou até mesmo porque estas amizades passam pela partilha de vida interior, do que
nos faz rir e chorar, de querermos ser mais e melhores, com os que nos rodeiam. Se calhar, as
amizades gambozínicas passam por isto e por muito mais! É um vínculo que transcende o
tempo e a distância, em que se fica meses sem ver um amigo que vive do outro lado do país,
mas tudo permanece tal e qual como quando nos despedimos.
Foi nestas despedidas de amizades intensas que se criaram em 9 dias em campos de verão que
fui desenvolvendo a minha capacidade de manter relações – e de ter e querer ter este cuidado
com cada amigo.
É difícil manter uma relação porque não se tem tempo para dar, ou não se arranja o tempo
necessário para dar. Eu gosto muito de dar esse tempo e de “gastar” o pouco tempo livre que
se tem, nisto. A minha cabeça, no meio do caos em que está sempre, a pensar em tudo ao
mesmo tempo, vai rodando entre os meus amigos e causa-me uma agitação que me “obriga”
a, simplesmente, querer perguntar: “Olá! Como estás?”; “Quando é que estamos juntos?”.
Este é o primeiro grande passo para manter uma relação de amizade. Lembrar. Perguntar.
Ouvir.
Graças aos Gambozinos, tive a alegria de, desde pequena, conhecer muitas pessoas novas e
querer crescer com elas no resto da minha vida. Amigos que perguntam por mim como eu
pergunto por eles.

Durante este tempo Quaresmal, proponho que estendas o cuidado mútuo para além dos momentos intensos que vais tendo, priorizando também o fortalecimento das tuas amizades, principalmente com aqueles que estão longe de ti. Que este tempo seja uma oportunidade para cultivares as relações e manteres laços de amizade com atenção e dedicação renovadas.

Isabel Braz

GAS – Gambozinos Amigos do SudOeste

GAS – Gambozinos Amigos do SudOeste

O Gambozinos Amigos do SudOeste – GAS – é composto por quatro fins de semana
destinados a animados do escalão G3 dos núcleos Sul e Oeste. Estes fins de semana têm
servido de motor de união entre os participantes, independentemente do seu núcleo original.
O fim de semana mais recente decorreu entre os dias 17 e 18 de fevereiro. Na
madrugada de sábado partiram quatro carros de Lisboa e do Pragal rumo a Peniche.
Após um Bom dia Senhor – BDS – (sobre o tema justiça), os participantes do G3 (15 aos
16 anos) juntaram-se aos Gambozinos do grupo Peniche é fixe (PEF), do escalão G0 (7 aos 10
anos). Havia o propósito de trabalhar com o G3 o sentido de responsabilização sobre os mais
novos. Esta união criou amizades entre os escalões e entre os participantes do mesmo escalão,
reforçando-se também o facto de virem a ser animadores.
As equipas para o jogo da tarde foram criadas pelos animados do GAS. Os G3
escolheram ficar cada um com um animado do PEF de modo a que as equipas ficassem
equilibradas!
Após um jogo muito animado, fomos todos juntos à Missa em Peniche. Uma vez
concluída a Missa, o grupo do GAS dirigiu-se a Óbidos, onde ficámos a dormir. Como já é
tradição, houve um jogo noturno chamado Avistamentos. O objetivo do jogo era encontrar
outras equipas e o unicórnio (um animador que andava a correr por Óbidos vestido de
unicórnio). No zig zag das ruas de Óbidos, os obidenses, ajudaram os Gambozinos a encontrar
o unicórnio.
Cantado o “Boa Noite”, foi tudo descansar para haver energia para o dia seguinte!
Domingo começámos o dia com um “peddy paper” por Óbidos, no qual os G3
estiveram a tirar fotografias a monumentos, com pessoas e diferentes locais de Óbidos.
Organizámos grupos de três a quatro pessoas para que houvesse uma maior partilha e à
vontade entre os gambozinos.
Estando o grupo mais unido e mais à vontade, fez-se um “Boa Tarde Senhor” focado na
Quaresma.
Com uma atividade repleta de atividades focadas em responsabilizar, orientadas para
o autoconhecimento e para o serviço aos outros, o grupo de animados do GAS esteve mais do
que à altura do desafio! Assim concluída a atividade e feitas as respetivas despedidas, os
carros regressaram aos seus destinos.
Este fim-de-semana conseguiu unir o grupo, que ainda se sentia pouco confortável
com as diferenças culturais e sociais. Ao responsabilizar os gambozinos, estes uniram-se para
assegurar a diversão e conforto dos mais novos. No sábado, o foco passou a ser o G0 e não o
G3, para promover a sua maturidade e autonomia. Foi muito recompensador ver os animados
assumirem o papel de animador, sendo nós, animadores, convidados a revermo-nos nos
diferentes perfis e amizades que se iam formando.
O “peddy paper” revelou a parte mais criativa do escalão e obrigou a que os grupos
ficassem mais à vontade entre si para poderem experimentar novas dinâmicas.

A avaliação do fim de semana foi extremamente positiva e sentimos que o grupo do
GAS está cada vez mais próximo e a caminhar em direção a um grupo mais uno!

Miguel Pupo Correia

Amigos no Senhor

Amigos no Senhor

Nos Gambozinos por vezes fala-se da importância de criarmos e cuidarmos de “Amizades
no Senhor”. Mas de onde é que vem isto? E qual a sua importância?
Ao longo do ano, seja em atividades ou campos, vamos criando relações com animadores,
animados, Jesuítas, Pais de animados… Mas nestas relações, há umas que podemos elevar a
outro nível. Relações em que não somos simples “funcionários de uma organização”, “amigos de
trabalho”, “conhecidos”, “colegas de voluntariado”, mas sim “Amigos no Senhor”.
Só há amizade quando existe uma entreajuda para que o outro seja o melhor que pode ser.
Somos guardiões dos nossos amigos, precisamos de estar atentos para quando precisam de nós.
Ajudar o outro no que ele carrega. Saber pedir perdão, saber perdoar, ser misericordioso. Uma
amizade ajuda-nos a ser muito mais, mas também exige muito! Exige que sejamos responsáveis,
como disse Antoine de Saint-Exupéry “Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que
cativas”. Também nos exige compromisso e constância a cuidar da amizade, como a raposa pede
ao principezinho – “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser
feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei
inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca
saberei a hora de preparar o coração… É preciso ritos.” Numa amizade procuro também ser mais
“sui generis”, ser mais eu mesmo, ser autêntico. Todo este caminho de amizade também se aplica
à nossa relação com o Senhor.
O gambozino procura seguir o Senhor, ser seu embaixador. E ao fazer este caminho com os
outros, tanto é ajudado como ajuda. Após cada um ouvir o Senhor a chamá-lo, leva-nos a ser seus
amigos, e por sua vez “Amigos no Senhor” de outros que tenham também aceite este convite.

Manuel Tovar

Alegra-te, Gambozino! Foste encontrado!

Alegra-te, Gambozino! Foste encontrado!

Querido Gambozino (quem quer que sejas),

Não sei se já tive a Alegria de te encontrar! Diz-me tu, caso estejas a ler isto : )

Mesmo que já nos conheçamos, acho que nunca te cheguei a contar que, ainda antes de conhecer os Gambozinos, já andava “à caça” de uns animais lendários, com o mesmo nome que nós. O meu avô dava-me a mão e passávamos tardes de domingo à procura deles, num monte perto de casa, em Barcelos. Devo dizer-te que são criaturas complicadas… nunca se deixam encontrar: vivem escondidos, isolados, adormecidos; ou então desatam a correr e ninguém os apanha.

Mas nós somos de uma espécie diferente…certo? Vá, pelo menos temos Alguém que persevera mais do que eu nestas buscas (as minhas tardes de domingo já não são o que eram). Devo admitir, temos O mais criativo Pescador de Gambozinos de todos os tempos à nossa procura. Por mais que nos afastemos, quando menos esperamos ou planeamos, lá vem Ele de surpresa. Conhece todos os nossos esconderijos (a preguiça, o desânimo, o stress, o orgulho, a autossuficiência…). Chama cada um e, se permitirmos, reencontra-nos sempre! Mas é preciso que o permitamos, porque Ele nunca se vai impor. Sabe que só O podemos amar se formos livres. E digo-te: não há Alegria mais verdadeira e duradoura do que aquela que nos inunda quando se dá este encontro, no íntimo do nosso ser. É algo que se vive e que se explica muito mal.  Contudo, recentemente, uma amiga minha conseguiu encontrar quem o conseguisse expressar por aproximação: é algo parecido com “o instante em que a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade. O instante de mergulhar no Amor infinito, no qual o tempo já não existe. Este instante é a vida em sentido pleno, no qual somos simplesmente inundados pela alegria”. Assim o exprime Jesus, “ Eu hei-de ver-vos de novo; e o vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16,22).  A partir deste instante, Gambozino, não há volta a dar. Por mais que fujas ou te tornes insensível à sua presença, foste encontrado! E Ele volta sempre.

Nem sempre se faz sentir com a intensidade que às vezes a alma deseja, nem tem respostas ou consolações prontas para nos dar no momento exato em que queremos. Passado algum tempo deste encontro, apercebi-me que é normal enfrentar a “sede” e que o olhar fique turvado. É possível até duvidar se aquilo que se viveu interiormente não passe tudo de uma ilusão, de sentimentalismo. Talvez percebas o que digo. Lembras-te daquele campo em que foste tão feliz? Agora contrasta com a distância do regresso à “vida real” e com o cansaço e dificuldades que nela tenhas enfrentado.  É aí que somos chamados a “permanecer no deserto, sem tomar atalhos”. Permanecer com Ele (na sua palavra, nos sacramentos, na oração e no serviço). Aí teremos a oportunidade de, num salto de fé, amar Quem nos amou e ama primeiro.

Sabes? Tive a graça de ser consolada quando descobri que a própria Madre Teresa de Calcutá enfrentou este “Silêncio de Deus” por mais de 50 anos, sem sentir a Sua presença ou ouvir a Sua voz. E, no entanto, por Amor, permaneceu, na fé e na missão que lhe foi confiada. Deu a vida, mesmo sem O sentir durante tanto tempo… e, paradoxalmente, Levou-O ao encontro de tantos. Foi “luz” no mundo. Já olhaste bem para ela? Para o seu sorriso? Para as suas obras? É desta Alegria que falo.

É a partir deste encontro que somos escolhidos e enviados. É neste instante que brota a missão dos Gambozinos e de todos os cristãos. Afinal, “a alegria é missionária. Não é para ficar numa pessoa, mas para levar algo”. Leva-nos a sair de nós mesmos. Imagino que já a possas ter experimentado. Como foi? Lembras-te? Se sim, repito a pergunta que nos foi feita nas JMJ: “vais guardá-la para ti ou vais levá-la aos outros? Que pensas fazer?”.

Lisete Miranda