à mesa, no silêncio, na música – Fica connosco!

à mesa, no silêncio, na música – Fica connosco!

Fica Connosco. O tema dos campos de verão deste ano. Em contexto, na passagem dos
Discípulos de Emaús, estas palavras surgem como um convite feito ao Jesus que aparece a
dois homens que caminhavam. Depois de um longo dia de conversas, em que o desânimo
lentamente se transformava numa espécie de esperança, a dupla insiste para que Cristo
permaneça com eles, para que tenham tempo de qualidade, à mesa e durante a noite – “Fica
Connosco, porque é tarde e o dia já está a declinar.”. Só depois desse convite à permanência
é que os Discípulos reconheceram Jesus ressuscitado. Foi, então, necessário esse salto, esse
desejo de encontro e de serviço para que a presença de Deus fosse evidente. Tal como
acontece connosco todos os dias, quando nos deixamos espantar, comover, quando damos
tempo a sério aos nossos amigos, à oração. O fruto, o consolo, é posterior ao desejo de
busca desse próprio consolo, isto é, ao desejo que temos de ter de que Jesus esteja
connosco, que nos guie.
Este tema dos campos de verão surgiu numa altura sempre bonita de um ano de
Gambozinos – as noites de fados. Estas clássicas noites representam e reúnem tantos que
possibilitam a missão de acompanhar e dar tempo a todas as crianças e jovens que
acompanhamos. É, para mim, um momento de agradecimento e celebração. E,
simultaneamente, de reconhecimento de Jesus e da maneira tão bonita como Ele circula na
vida de todos os animadores, participantes, pais e amigos dos Gambozinos. Este ano, não foi
exceção. Tentarei, agora, traçar alguns paralelos entre o Fica Connosco que guiará o nosso
verão, e o que foram estas duas noites de fado, através de um ou outro ponto.
A MESA – na passagem dos discípulos de Emaús, a mesa é um lugar central da narrativa. Só à
refeição, ao partir do pão, é que se dá o essencial da história, o reconhecimento de que
Jesus tinha ressuscitado. Foi à mesa que Jesus se revelou, e ao longo do Evangelho, é a mesa
que assume o papel vital de encontro, novidades ou desafios importantes da Sua vida.
Também nas noites de fados, a Mesa assumiu (como tem assumido sempre) um papel
fundamental. No Norte, sentei-me à mesa a partilhar o amor pelos Gambozinos como
amigos, dos risos, às boas conversas. De certa maneira, foi imediato o reconhecimento de
Jesus naquela mesa onde estava. Tanta gente apaixonada por esta missão, apaixonada por
Cristo. No Sul, não me sentei, mas vi de fora. Uma moldura de mesas impressionante, em
que Jesus se fazia presente, ao perceber a quantidade de pessoas disposta a ajudar, a
agradecer ou a festejar a Associação. À Mesa, Jesus esteve connosco, como está sempre.
O SILÊNCIO – não há Fado a sério sem uma boa dose de silêncio. O silêncio, o parar e dar
espaço e tempo a uma outra realidade foi condição necessária para que as noite fossem
regadas de emoção. Quando os Fados começaram, todos prestavam homenagem,
acalmavam, para ouvir melhor, para ouvir a sério. No fundo, como fazemos com Deus e com
a oração. Como fizeram estes discípulos ao longo do caminho, quando Jesus lhes contava
tudo “a partir de Moisés e de todos os Profetas (…) em todas as Escrituras, o que a Ele dizia respeito.”. O silêncio, a abstração e o olhar e ouvir a sério são necessários ao encontro com
Deus. E foram o primeiro passo para esse desejo verdadeiro de que ele ficasse. No silêncio,
Jesus esteve connosco, como está sempre.

A MÚSICA – finalmente, a seguir ao silêncio atento necessário a um fado, veio a vez dos
fadistas. Que encheram a sala daquela maneira acutilante, direta e emocionada, própria do
estilo. E nesse barulho, nesses graves e agudos, nas grandes canções e interpretações, há a
presença de Jesus. Nem que seja por ter visto vários a pôr o seu talento a render,
voluntariamente, para bem dos Gambozinos. Pessoalmente, há pouca coisa que me leve
tanto para Jesus como a música. Especialmente num campo, na alegria e euforia de
cantarmos livremente, sem pensarmos como estamos a soar ou parecer. Na canção como
demonstração pura de alegria! A música faz arder o coração, como fizeram as palavras de
Jesus a estes discípulos.

E então, à mesa, no silêncio e na música, reconheci Jesus. E, a partir destes momentos de
encontro, não quero mais que ele se afaste. Vou à procura dele, quero que Ele fique comigo.
A seguir a estas noites de Fado, como sempre que estou nos Gambozinos, quero muito que
Jesus fique comigo, connosco.

António Serrano

Gambozinos de Emaús

Gambozinos de Emaús

“Fica connosco” foi o que os discípulos de Emaús disseram a Jesus, ainda antes de O
reconhecerem. Não O reconheceram imediatamente pelas Suas palavras ou pelo Seu
conhecimento das Escrituras, mas sim pelo partir do Pão, a prova viva da Sua entrega.
Nas nossas vidas, vivemos momentos de ausência e de alguma dúvida, nos nossos quotidianos,
nas nossos projetos e nos nossos sonhos. É por isso que este tema do Verão de 2024 é tão
bonito quanto abrangente.
Assim, a missão dos Gambozinos ganha mais sentido no momento de trazer a alegria e o
modelo dos campos de férias de verão para os locais e momentos em que não estamos tão
habituados a reconhecer o Senhor. É aqui que as nossas atividades durante o ano letivo se
tornam tão especiais.
Quando era animado, gostava de olhar para as atividades durante o ano como oportunidades
para fugir à rotina, ver amigos de longe e ganhar tempo para construir relações por mim
próprio, sem que precisasse do conforto de casa e das minhas “zonas seguras”. Era, por isso, o
momento ideal para poder “arrumar” espiritualmente tudo o que não me fazia sentido no dia-
a-dia e ganhar ânimo para o que aí vinha. Não penso que estava errado mas, agora, enquanto
animador, comecei a entender isto de uma forma diferente.

Neste momento, olho para cada atividade como uma oportunidade de conversar com Jesus
para que fique comigo, que não desista de mim mesmo quando eu não O vejo, ou quando já
quase que nem acredito nas maravilhas que os outros me anunciam. Os Gambozinos mostram-me que a nossa relação com Deus se constrói e solidifica mais nos momentos de
dificuldade e que esses conduzem à mesma escolha audaz que os discípulos de Emaús fizeram de
dizer “Fica connosco”.

Finalmente, este verão será uma grande oportunidade para que cada Gambozino possa
aproveitar a magia e alegria própria de Cristo Ressuscitado que é tão bem vivida nos campos.
Não só para construir este Reino cheio de pontes e diferenças, mas para podermos consolidar
esta escolha feita em Emaús, extremamente pessoal, em que pedimos a Jesus que fique,
transformando a nossa forma de conviver com a Natureza, de fortalecer nossas Amizades, e
dar significado ao nosso Serviço, sempre firmemente assentes no pilar renovado do amor de
Deus.
O Verão está a caminho, e o Senhor já nos desafiou, atreves-te a pedir-Lhe para ficar?

João Granjeia

Fica connosco!

Fica connosco!

‘Fica connosco’ não é simplesmente um momento de iluminação precipitada de dois
discípulos, ou somente um convite ingénuo feito a um estranho, muito menos um mero
tema do ano para o verão 2024. ‘Fica connosco’ é a atitude daquele que, em comunidade,
reconhece uma presença para lá do visível. Uma presença que inflama o coração, muito
antes da perceção própria do acontecimento. ‘Fica connosco’ é o plot twist de toda a História
da Salvação, marcada pelo encontro com Cristo Ressuscitado. Se, este verão, provarmos ao
menos uma migalha deste encontro, será graça bastante para nos arriscarmos a convidar
Jesus a ficar.
Na verdade, tal como em todas as grandes epopeias, este tema é um convite a começar a
história de salvação in medias res, ou seja, a meio dos acontecimentos. Já Cristo nasceu,
padeceu, morreu e ressuscitou, e nós somos lançados para o meio desta narrativa e
impelidos para a ação. Uma ação que, simultaneamente, convida ao tempo lento de quem
saboreia uma presença. Ninguém convida uma pessoa para uma casa vazia! Por isso, é
importante habitar e cuidar essa nossa casa onde queremos receber Jesus.
Sem nos darmos conta, ocorreu uma transição da iniciativa: o mesmo Jesus que se
apresenta subtilmente ao longo do caminho, tomando a iniciativa de se aproximar de quem
caminha cabisbaixo e desesperançado, agora espera um convite. Uma espera tão paciente
quanto a explicação de que tudo tinha de acontecer como dito nos Profetas. Uma espera de
Jesus que não impõe nem se impõe. A bola passou para o nosso lado, a nós que, dessa
presença subtil e pouco ostensiva, nos inflamamos até tomar a iniciativa do convite. Sim, a
‘nós’ e não a ‘mim’! É um convite feito por uma comunidade de fé, onde há espaço para
todos. Uma comunidade que descobre criativamente a forma do convite, através de uma
iniciativa plural, num caminho de discernimento comum da vontade de Deus.
É desta renovada iniciativa acolhedora que Cristo abre espaço à revelação, convidando
à memória agradecida de tanto bem recebido. E da gratidão, partimos para a pressa do
anúncio, ou não fosse já de noite e Jerusalém não ficasse a 11 km de distância de Emaús.
De facto, esta ousadia do ‘Fica connosco’ está entre este tanto dos benefícios recebidos de
Jesus e o tanto do que desejo fazer por Ele. O arrojamento dos discípulos ao convidarem
este nobre estranho a simplesmente ficar é a ponte entre o Antigo e o Novo Testamento no
seu coração, abrindo um mundo de possibilidades.
Por isso, este verão, inspirados pelo encontro com o Ressuscitado, somos convidados ao
arrojamento do convite, lembrados que “alguns, sem o saberem, acolheram anjos” (Heb 13,
2).

 

António Ferreira da Silva, sj.

Minicampo do oeste – um tempo sem guião nem figurantes

Minicampo do oeste – um tempo sem guião nem figurantes

Queria uma palavra-chave para este artigo, sabem? Aquela palavra que às vezes começa um texto de forma tão “eloquente”, sem precisar de mais do que um ponto final à frente:

“Amor. O amor é mais do que aquilo que…” ou “Verdade. Vive na verdade quem…”, bom perceberam… e não encontro a que quero, estou tão pouco criativa que até já ponderei que a palavra fosse Minicampo, e teria começado o texto tipo: “Minicampo. Aquele tempo em que…” Podia arriscar passar os próximos minutos no Chat gpt à procura, mas vou assumir seguir, sem palavra inicial, sem ideia e sem guião.

Vou assumir isto porque, para mim, o minicampo é isso mesmo – não há bem ideia ou guião. O que faz do minicampo um tempo tão especial é isso. Ainda ontem estavas num sítio completamente diferente, a viver só mais uma sexta-feira daquelas que estão no calendário com mil tarefas, trabalhos e cenas que quero deixar para amanhã e, de repente, há uma que não posso deixar para sábado: Pôr a pasta de dentes dentro da mochila que vou levar! Assim se parte para o minicampo, vindo de um dia na rotina tão atarefada que não me deu tempo e espaço para imaginar nem criar uma história com “comos” e “quandos”, não deu tempo para me seguir pelo guião e saber em que ato estou nem o que vem a seguir! Tudo é surpresa, tudo ali é tão diferente do dia a dia, tudo ali me surpreende.

“Surpresa. Não a que vem no Kinder, a de quem vê algo pela primeira…” Nope, também não é surpresa a palavra-chave que quero usar! Mas sair da rotina para viver aqueles dias, é viver uma verdadeira surpresa, é reaprender falas, receber novas indicações e redirecionar figurantes. Han? No minicampo nem há figurantes, não há como! No meio de toda a surpresa, o mais surpreendente é o outro, aquele que está ao teu lado na roda, aquele que ficou com o pé atado a ti no jogo das estafetas, aquele que te dá a mão no Boa noite, e aquele que vive contigo tudo isto e muito mais. Não pode de forma nenhuma ser figurante no “teu” minicampo, e não existe sequer um único figurante. Estamos todos juntos a viver tudo juntos.

E este foi não só o teu, mas o nosso minicampo. 4 dias na semana antes da Páscoa, em que vivemos quase como num campo de férias, todos juntos, Gambozinos, a reparar em quem está ao nosso lado, a viver a surpresa de encontrarmos quem temos à nossa volta e a deixar o papel por onde nos guiávamos em casa e deixar que outro gambozino escreva uma linha ou outra. “Agradecer.” (Só não podia ter começado com esta porque vocês ainda não sabiam o que eu vinha agradecer).

Inês Botelho

 

Minicampo do sul – reencontro de família

Minicampo do sul – reencontro de família

No sul já começa a ser hábito ter um minicampo antes da Páscoa (importante nota, para quem não sabe: já não tínhamos há algum tempo e retomámos no ano passado) e é mesmo uma alegria ter um bocadinho de Gambozinos no meio do correria do dia a dia!

Lembro-me perfeitamente do primeiro campo que fiz de Gambozinos. Como foi só em G3, já tinha feito muitos outros campos. Mas este foi diferente – é que, de repente, e sem antes conhecer (quase) ninguém, senti-me em casa. Lembro-me de achar estranho, mas de ser mesmo bom.

Acho que só agora é que consigo perceber melhor. De facto, esta nossa associação é como uma família. Por isso, cada vez que nos reencontramos, é como se chegássemos a casa. Não é a casa que tem paredes e onde normalmente encontramos os nossos avós, tios e primos, mas é quase!

O melhor é que ainda hoje sinto isso, sempre que encontro gambozinos, volto a sentir-me em casa, e o minicampo do sul não foi exceção: 5 dias de caos no meio do caos do dia-a-dia (afinal, todos sabemos que ser gambozino é ser louco e gostar dessa loucura!) mas nos quais me senti em casa. É assim que vejo este minicampo, como um encontro de família, só que em vez de ser na Páscoa, é antes, para viver o fim da Quaresma em família e sabe tão bem!

Não se enganem, um minicampo não é nada fácil! É muito mais cansativo porque somos atirados para um campo depois de um dia inteiro de aulas e atividades e, para além disso, não tem só os nossos amigos. Por isso, às vezes não apetece mesmo nada. Era muito mais fácil ficar só em casa… Mas a verdade é que compensa sempre! É impossível não nos sentirmos agradecidos pelos amigos que fizemos, pela alegria que vem dos jogos, aplausos e músicas aos altos berros e por termos arriscado vir descobrir o que é isto de ser gambozino, de que tantos falam e que parece tão bom.

O Minicampo já acabou há duas semanas mas tenho ainda comigo esta alegria do reencontro! Que bom que é voltar a casa!

Teresa Cardoso da Costa