Surpresas e Conexões

Surpresas e Conexões

Surpresas e Conexões
Com o começo de um novo ano, e ainda embalados pelo espírito natalício e pelo
que sentimos durante esse período, somos todos chamados a refletir sobre como é
que ao longo deste de 2025, podemos contribuir para a construção de um mundo
melhor e mais humano.
Talvez por isso me tenha marcado tanto um anúncio que vi ainda em dezembro,
de uma cadeia de supermercados alemã. O anúncio começa com uma mensagem
de voz de uma filha a dizer ao pai que não vai conseguir visitá-lo no Natal, depois
disso vemos o senhor a passar o Natal sozinho. No ano seguinte, para não
acontecer a mesma coisa, o avô envia uma carta aos filhos e netos a simular a sua
morte. Quando chegaram à sua casa, convencidos de que iam para o enterro do
pai, os filhos são surpreendidos pelos enfeites de Natal e a mesa posta para a
Consoada. Ao olhar para todos eles, o pai diz algo como “De que outra maneira
conseguiria eu reunir-vos a todos?”. Depois de o ver, fiquei a pensar em como às
vezes, no meio das nossas vidas cada vez mais apressadas, vamos deixando o
essencial para trás. Vieram-me também à memória todas as notícias e dados que
nos mostram que cada vez mais há pessoas, especialmente idosos, a viverem
sozinhas ou isoladas.
O que é que nós podemos fazer em relação a isso? Como é que, enquanto
católicos, podemos combater este flagelo que afeta a nossa sociedade? Não tenho
uma resposta certa, mas não custa nada começar por algum lado!- em particular
pela nossa família.
Por isso, deixo-te dois desafios! Durante o início deste novo ano reza pelas
pessoas que vivem na solidão. E em segundo lugar, surpreende alguém que aches
que se sinta sozinho! Pode ser um almoço, um lanche, um passeio, ou até mesmo
uma simples chamada! Quem sabe se ao tentar surpreender não sejas também
surpreendido?
Para os mais curiosos fica o link do anúncio:
https://youtu.be/V6-0kYhqoRo?si=9JgNp95mJENA_VbX

José Dias

Então animemos!

Então animemos!

Então, aninemos!
Este ano, a pasta formação escolheu para as linhas de fundo a expressão “Então, animemos!” da
seguinte passagem, retirada da Carta de S. Paulo aos Romanos:
Porque, assim como em um só corpo temos muitas partes, e todas elas têm funções diferentes,
assim também nós, embora sejamos muitos, somos um só corpo por estarmos unidos com
Cristo. E todos estamos unidos uns com os outros como partes diferentes de um só corpo.
Portanto, usemos os nossos diferentes dons de acordo com a graça que Deus nos deu. Se o dom
que recebemos é o de anunciar a mensagem de Deus, façamos isso de acordo com a fé que
temos. Se é o dom de servir, então devemos servir; se é o de ensinar, então ensinemos; se é o
dom de animar os outros, então animemos. Quem reparte com os outros o que tem, que faça
isso com generosidade. Quem tem autoridade, que use a sua autoridade com todo o cuidado.
Quem ajuda os outros, que ajude com alegria.
Romanos 12:4-8
No ano passado, reconhecemos que fomos, e somos, escolhidos e enviados por Deus, quer a
esta missão, quer ao convite pessoal que Deus nos faz todos os dias para O seguir e servir. Este
ano sugerimos passar à ação! Que, recordando este convite, sejamos capazes de colocar os
nossos talentos a render, ao Seu serviço. Mas como fazemos isso?
Primeiramente, descobrindo-nos parte d’Este corpo que é a Igreja, perceber que fazemos parte
de Algo Maior e que os Gambozinos não são um fim em si mesmo, mas um meio para a
construção d’O Reino. Portanto, reconhecer que quando faço alguma coisa pelos Gambozinos
estou a fazê-la também por Deus e que grande alegria tem de ser essa responsabilidade! Foi-nos
confiada, a cada um de nós, esta missão tão especial, fomos escolhidos e enviados por Deus a
animar, então, animemos!
Animar e dar testemunho requer compromisso, temos a responsabilidade de utilizar os nossos
dons, que Deus nos confiou, para fazer com que Ele esteja presente em tudo o que fazemos na
nossa vida e em especial nos Gambozinos. Sim! Porque apesar de fazermos todos parte desta
missão, o convite e a missão pessoal de cada um é diferente! Cada um é diferente, mas fazemos
parte do mesmo Corpo e nos complementamos perfeitamente, portanto este ano não
escondamos estes dons que são essenciais para os Gambozinos mas ponhamo-los a render para
que deem muito fruto, e para que esse fruto perdure no tempo.
Não fiquemos na apatia, tenhamos um papel ativo para construir o presente e futuro dos
Gambozinos. Comprometendo-nos, alegremente, com a responsabilidade que é fazer parte
desta missão. É incrível pensar que os sonhos do passado fazem parte do presente e que, os
sonhos do presente podem mesmo um dia tornar-se no futuro. Portanto, sonha ativamente esta
missão!
Agora num tom mais pessoal, e termino com esta ideia: tenho percebido que quanto mais dou
de mim aos Gambozinos mais gosto e me sinto parte desta missão. Quem corre por gosto não
cansa, não é? Parte de uma pré-disposição de serviço e entrega a Deus, fazermos as coisas por
Ele e não por nós. Parte também por darmos mais que os serviços mínimos e, por exemplo,
desafiarmos e deixar-nos ser desafiados por gambozinos em idas espontâneas ao dia a dia deles
ou ao nosso. Parte por ir arrumar a sede e saber onde está tudo para uma ida eficiente antes de
uma atividade. Na verdade, não há uma check list do que é preciso para sentir isto,
simplesmente, requer arriscar, sonhar e mais importante que tudo: estar.
Os frutos da nossa ação nem sempre serão logo observáveis, mas é importante reconhecer o
tempo de Deus e entregar-Lhe essa espera. Tenho reconhecido ao longo deste último ano frutos
de sementes que foram plantadas bem lá no início da minha “carreira de animadora” e digo-vos
que tem sido uma grande alegria. Nada que façamos, por mais pequeno que seja, passa
despercebido a Deus! E isso deve bastar!
Esta é a nossa hora favorável animador! De, através dos Gambozinos, construirmos O Reino e
Deus só nos pede uma coisa, que “então, animemos” 🙂

Beatriz Brás Melro

à mesa, no silêncio, na música – Fica connosco!

à mesa, no silêncio, na música – Fica connosco!

Fica Connosco. O tema dos campos de verão deste ano. Em contexto, na passagem dos
Discípulos de Emaús, estas palavras surgem como um convite feito ao Jesus que aparece a
dois homens que caminhavam. Depois de um longo dia de conversas, em que o desânimo
lentamente se transformava numa espécie de esperança, a dupla insiste para que Cristo
permaneça com eles, para que tenham tempo de qualidade, à mesa e durante a noite – “Fica
Connosco, porque é tarde e o dia já está a declinar.”. Só depois desse convite à permanência
é que os Discípulos reconheceram Jesus ressuscitado. Foi, então, necessário esse salto, esse
desejo de encontro e de serviço para que a presença de Deus fosse evidente. Tal como
acontece connosco todos os dias, quando nos deixamos espantar, comover, quando damos
tempo a sério aos nossos amigos, à oração. O fruto, o consolo, é posterior ao desejo de
busca desse próprio consolo, isto é, ao desejo que temos de ter de que Jesus esteja
connosco, que nos guie.
Este tema dos campos de verão surgiu numa altura sempre bonita de um ano de
Gambozinos – as noites de fados. Estas clássicas noites representam e reúnem tantos que
possibilitam a missão de acompanhar e dar tempo a todas as crianças e jovens que
acompanhamos. É, para mim, um momento de agradecimento e celebração. E,
simultaneamente, de reconhecimento de Jesus e da maneira tão bonita como Ele circula na
vida de todos os animadores, participantes, pais e amigos dos Gambozinos. Este ano, não foi
exceção. Tentarei, agora, traçar alguns paralelos entre o Fica Connosco que guiará o nosso
verão, e o que foram estas duas noites de fado, através de um ou outro ponto.
A MESA – na passagem dos discípulos de Emaús, a mesa é um lugar central da narrativa. Só à
refeição, ao partir do pão, é que se dá o essencial da história, o reconhecimento de que
Jesus tinha ressuscitado. Foi à mesa que Jesus se revelou, e ao longo do Evangelho, é a mesa
que assume o papel vital de encontro, novidades ou desafios importantes da Sua vida.
Também nas noites de fados, a Mesa assumiu (como tem assumido sempre) um papel
fundamental. No Norte, sentei-me à mesa a partilhar o amor pelos Gambozinos como
amigos, dos risos, às boas conversas. De certa maneira, foi imediato o reconhecimento de
Jesus naquela mesa onde estava. Tanta gente apaixonada por esta missão, apaixonada por
Cristo. No Sul, não me sentei, mas vi de fora. Uma moldura de mesas impressionante, em
que Jesus se fazia presente, ao perceber a quantidade de pessoas disposta a ajudar, a
agradecer ou a festejar a Associação. À Mesa, Jesus esteve connosco, como está sempre.
O SILÊNCIO – não há Fado a sério sem uma boa dose de silêncio. O silêncio, o parar e dar
espaço e tempo a uma outra realidade foi condição necessária para que as noite fossem
regadas de emoção. Quando os Fados começaram, todos prestavam homenagem,
acalmavam, para ouvir melhor, para ouvir a sério. No fundo, como fazemos com Deus e com
a oração. Como fizeram estes discípulos ao longo do caminho, quando Jesus lhes contava
tudo “a partir de Moisés e de todos os Profetas (…) em todas as Escrituras, o que a Ele dizia respeito.”. O silêncio, a abstração e o olhar e ouvir a sério são necessários ao encontro com
Deus. E foram o primeiro passo para esse desejo verdadeiro de que ele ficasse. No silêncio,
Jesus esteve connosco, como está sempre.

A MÚSICA – finalmente, a seguir ao silêncio atento necessário a um fado, veio a vez dos
fadistas. Que encheram a sala daquela maneira acutilante, direta e emocionada, própria do
estilo. E nesse barulho, nesses graves e agudos, nas grandes canções e interpretações, há a
presença de Jesus. Nem que seja por ter visto vários a pôr o seu talento a render,
voluntariamente, para bem dos Gambozinos. Pessoalmente, há pouca coisa que me leve
tanto para Jesus como a música. Especialmente num campo, na alegria e euforia de
cantarmos livremente, sem pensarmos como estamos a soar ou parecer. Na canção como
demonstração pura de alegria! A música faz arder o coração, como fizeram as palavras de
Jesus a estes discípulos.

E então, à mesa, no silêncio e na música, reconheci Jesus. E, a partir destes momentos de
encontro, não quero mais que ele se afaste. Vou à procura dele, quero que Ele fique comigo.
A seguir a estas noites de Fado, como sempre que estou nos Gambozinos, quero muito que
Jesus fique comigo, connosco.

António Serrano

Gambozinos de Emaús

Gambozinos de Emaús

“Fica connosco” foi o que os discípulos de Emaús disseram a Jesus, ainda antes de O
reconhecerem. Não O reconheceram imediatamente pelas Suas palavras ou pelo Seu
conhecimento das Escrituras, mas sim pelo partir do Pão, a prova viva da Sua entrega.
Nas nossas vidas, vivemos momentos de ausência e de alguma dúvida, nos nossos quotidianos,
nas nossos projetos e nos nossos sonhos. É por isso que este tema do Verão de 2024 é tão
bonito quanto abrangente.
Assim, a missão dos Gambozinos ganha mais sentido no momento de trazer a alegria e o
modelo dos campos de férias de verão para os locais e momentos em que não estamos tão
habituados a reconhecer o Senhor. É aqui que as nossas atividades durante o ano letivo se
tornam tão especiais.
Quando era animado, gostava de olhar para as atividades durante o ano como oportunidades
para fugir à rotina, ver amigos de longe e ganhar tempo para construir relações por mim
próprio, sem que precisasse do conforto de casa e das minhas “zonas seguras”. Era, por isso, o
momento ideal para poder “arrumar” espiritualmente tudo o que não me fazia sentido no dia-
a-dia e ganhar ânimo para o que aí vinha. Não penso que estava errado mas, agora, enquanto
animador, comecei a entender isto de uma forma diferente.

Neste momento, olho para cada atividade como uma oportunidade de conversar com Jesus
para que fique comigo, que não desista de mim mesmo quando eu não O vejo, ou quando já
quase que nem acredito nas maravilhas que os outros me anunciam. Os Gambozinos mostram-me que a nossa relação com Deus se constrói e solidifica mais nos momentos de
dificuldade e que esses conduzem à mesma escolha audaz que os discípulos de Emaús fizeram de
dizer “Fica connosco”.

Finalmente, este verão será uma grande oportunidade para que cada Gambozino possa
aproveitar a magia e alegria própria de Cristo Ressuscitado que é tão bem vivida nos campos.
Não só para construir este Reino cheio de pontes e diferenças, mas para podermos consolidar
esta escolha feita em Emaús, extremamente pessoal, em que pedimos a Jesus que fique,
transformando a nossa forma de conviver com a Natureza, de fortalecer nossas Amizades, e
dar significado ao nosso Serviço, sempre firmemente assentes no pilar renovado do amor de
Deus.
O Verão está a caminho, e o Senhor já nos desafiou, atreves-te a pedir-Lhe para ficar?

João Granjeia

Fica connosco!

Fica connosco!

‘Fica connosco’ não é simplesmente um momento de iluminação precipitada de dois
discípulos, ou somente um convite ingénuo feito a um estranho, muito menos um mero
tema do ano para o verão 2024. ‘Fica connosco’ é a atitude daquele que, em comunidade,
reconhece uma presença para lá do visível. Uma presença que inflama o coração, muito
antes da perceção própria do acontecimento. ‘Fica connosco’ é o plot twist de toda a História
da Salvação, marcada pelo encontro com Cristo Ressuscitado. Se, este verão, provarmos ao
menos uma migalha deste encontro, será graça bastante para nos arriscarmos a convidar
Jesus a ficar.
Na verdade, tal como em todas as grandes epopeias, este tema é um convite a começar a
história de salvação in medias res, ou seja, a meio dos acontecimentos. Já Cristo nasceu,
padeceu, morreu e ressuscitou, e nós somos lançados para o meio desta narrativa e
impelidos para a ação. Uma ação que, simultaneamente, convida ao tempo lento de quem
saboreia uma presença. Ninguém convida uma pessoa para uma casa vazia! Por isso, é
importante habitar e cuidar essa nossa casa onde queremos receber Jesus.
Sem nos darmos conta, ocorreu uma transição da iniciativa: o mesmo Jesus que se
apresenta subtilmente ao longo do caminho, tomando a iniciativa de se aproximar de quem
caminha cabisbaixo e desesperançado, agora espera um convite. Uma espera tão paciente
quanto a explicação de que tudo tinha de acontecer como dito nos Profetas. Uma espera de
Jesus que não impõe nem se impõe. A bola passou para o nosso lado, a nós que, dessa
presença subtil e pouco ostensiva, nos inflamamos até tomar a iniciativa do convite. Sim, a
‘nós’ e não a ‘mim’! É um convite feito por uma comunidade de fé, onde há espaço para
todos. Uma comunidade que descobre criativamente a forma do convite, através de uma
iniciativa plural, num caminho de discernimento comum da vontade de Deus.
É desta renovada iniciativa acolhedora que Cristo abre espaço à revelação, convidando
à memória agradecida de tanto bem recebido. E da gratidão, partimos para a pressa do
anúncio, ou não fosse já de noite e Jerusalém não ficasse a 11 km de distância de Emaús.
De facto, esta ousadia do ‘Fica connosco’ está entre este tanto dos benefícios recebidos de
Jesus e o tanto do que desejo fazer por Ele. O arrojamento dos discípulos ao convidarem
este nobre estranho a simplesmente ficar é a ponte entre o Antigo e o Novo Testamento no
seu coração, abrindo um mundo de possibilidades.
Por isso, este verão, inspirados pelo encontro com o Ressuscitado, somos convidados ao
arrojamento do convite, lembrados que “alguns, sem o saberem, acolheram anjos” (Heb 13,
2).

 

António Ferreira da Silva, sj.