O que é o Secretariado das Missões e qual a sua função?
É uma obra da Companhia de Jesus que apoia os missionários portugueses que estão no terreno, noutros países. Isto faz-se através do apoio económico e do acompanhamento quando vêm a Portugal, de férias ou por questões de saúde.
Estamos a falar dos jesuítas que estão em missão fora de Portugal?
Sim.
Quantos jesuítas estão nessas circunstâncias?
São 7. O P. Manuel Ferreira (Professor de Teologia, no Seminário Teológico do Maputo, e de Vida Consagrada, no Instituto Superior Maria Mãe de África); o P. David Ferreira da Silva (colabora nas Paróquias de Lifidzi, Chabwalo e Domwe) e o P. Paulo Teia (responsável pelo Projeto “Sementes do Amanhã”, Assistente do Pároco da Paróquia do Coração Imaculado de Maria, em Fonte Boa) em Moçambique e o P. Virgílio Costa, Mestre de Noviços na Província de Zâmbia-Malawi. O P. João Felgueiras (assistente da Escola e da Obra “Amigos de Jesus”) e o P. José Alves Martins (atende espiritualmente inúmeras pessoas), em Timor. O P. Gonçalo Castro Fonseca, na Síria Director do JRS-Síria. Para além disso, todos eles orientam Exercícios Espirituais, e fazer Direção Espiritual.
Qual a missão concreta desses jesuítas?
O Secretariado existe desde o tempo em que Portugal tinha colónias e havia uma preocupação missionária ad gentes da Província de mandar jesuítas para esses territórios. O peso dos missionários sempre foi muito grande e o Secretariado servia para ajudar nesta missão. A verdade é que hoje em dia a realidade é completamente diferente e os missionários foram diminuindo. Por isso, surge a pergunta: será que o Secretariado das Missões é um Secretariado para os missionários ou para as missões? É sobre isso que tenho refletido desde que o Provincial me nomeou para esta função. Na carta de nomeação que me escreveu, o Provincial diz: “tendo nascido (o Secretariado) num contexto muito diferente do atual, e para responder a necessidades que hoje não se verificam, será importante redimensionar e reajustar este meio aos fins que se venham a estabelecer”. Durante muitos anos, o Secretariado foi conduzido pelo P. Afonso Herédia e, nos últimos cinco, pelo P. Francisco Rodrigues. Foram tempos de grande cuidado com os missionários mas percebeu-se agora que é preciso redefinir a obra, tendo em conta que o contexto se alterou muito nos últimos tempos. A missão que me é confiada é, juntamente com quem tem colaborado diretamente no Secretariado, pensar na forma como podemos projetar esta obra para o futuro, tendo em conta o Plano Apostólico da Província e as Preferências Apostólicas Universais, recentemente definidas pela Companhia para todo o mundo.
Mas o objetivo é ajudar os jesuítas que estão fora ou ajudar o trabalho pastoral aí desenvolvido?
O trabalho pastoral tem a sua sustentabilidade própria, local. E hoje em dia nasceram outras obras na Companhia que se dedicam especificamente aos projetos e à respetiva angariação de fundos, como é o caso da Fundação Gonçalo da Silveira. O Plano Apostólico da Província para o período de 2016-2020 continua a falar da cooperação missionária e com a Companhia universal, o que quer dizer que continuamos com esta frente missionária que não se pode perder. Penso ainda que não podemos perder a identidade missionária do nosso carisma inaciano. Desde o início que Santo Inácio de Loiola mandava jesuítas para as missões. Sem este Secretariado perderíamos quem continuasse a despertar em nós o desejo de ser enviado em missão. Podem ser poucos mas temos de continuar a ter missionários, pois faz parte da nossa identidade. A nossa Província nasceu deste contexto, quando D. João III mandou chamar os jesuítas a Portugal e enviou logo um deles para a missão.
O envio de missionários parte das necessidades locais, de quem pede a ajuda da Companhia?
Há de tudo. Há uns anos o P. Geral pediu missionários para a China. Às vezes há apelos da Companhia Universal para determinados locais, como aconteceu com a Síria, para onde partiu o P. Gonçalo Castro Fonseca. O desejo dele partiu de um apelo universal que foi feito aos jesuítas. Temos também ainda alguma responsabilidade com a região de Moçambique e de Timor. Em tempos, tivemos Angola, que agora já não pertence à Província Portuguesa. Penso que o Secretariado pode fazer-se presente na vida destes missionários não só através do apoio económico, mas também de uma proximidade afetiva. Para que, mesmo sentindo-se longe, possa haver alguém na província que se preocupa com eles, que lhes escreve no dia do aniversário, que vai comunicando à província como estão e o que vão fazendo.
No fundo, estes jesuítas acabam por ficar durante muitos anos.
Temos missionários que estão desde o tempo do antigamente, como o P. Manuel Ferreira ou David Ferreira da Silva. Foram há muitos anos, já com o intuito de ficar em missões. Depois temos o P. Gonçalo que foi por um período limitado, com um compromisso diferente, embora a disponibilidade interior seja a mesma. Hoje em dia não podemos dizer que quem parte vai para o resto da vida mas vai com generosidade, e pode regressar mais cedo ou mais tarde.
Há ainda, entre os jesuítas, um profundo desejo missionário?
Talvez haja no coração mas pouco verbalizado. Também sabemos que as necessidades da Província em Portugal são muitas, por isso, é-nos pedido que fiquemos a responder às exigências das nossas obras. Mas não digo que isso retire o desejo de partir. Mas os jesuítas vivem muito presos às necessidades locais, que se calhar não têm muito espaço para pensar noutra coisa.
No meu caso concreto, nunca fui missionário, mas na terceira provação tive oportunidade de estar nove meses no México, num dos quais fui trabalhar numa ilha-prisão no Pacífico, e estive também no serviço de apoio dos jesuítas aos migrantes, nos centros de acolhimento que apoiam as pessoas que vêm da América Central nos corredores de passagem que têm de atravessar desde o México a caminho dos Estados Unidos. Vivi estas duas experiências como missão. No meu coração quis perceber o que é ser missionário no terreno, por isso, procurei inculturar-me o mais possível, até afetivamente, na vida destas pessoas. Foi um tempo muito rico na minha vida. Enriquece-nos muito conhecer outras culturas e realidades, não só culturais, mas eclesiais, ver formas de Igreja e expressão da fé muito diferentes das do nosso contexto europeu.Foi aprender a estar com eles sem impor a nossa visão e isso abriu-me muito os horizontes.
Por isso, acredito que o Secretariado pode responder a este apelo, recordando que somos, na nossa génese, missionários. Como dizia o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, “A igreja está em missão no mundo sempre”. Faz parte da nossa condição de batizados pormo-nos a caminho e não estarmos parados, irmos ao encontro dos outros. Temos que alimentar este espírito missionário dentro de nós. Isso passa também por reforçar a nossa presença eclesial, como por exemplo, participando nas Jornadas Missionárias que todos os anos são organizadas em Fátima.
Mas a Missão, no sentido mais lato, passa por aqui também.
Estamos sempre em missão, em qualquer lado. Mas para os jesuítas o Secretariado pode ser uma janela para o mundo inteiro e para as necessidade da Companhia a nível mundial. A ação missionária não se poderá perder, tem de ser redefinida. Seria pena que o Secretariado das Missões ficasse apenas como um gabinete que, pontualmente, responde às necessidades dos jesuítas que estão no terreno, e não fizesse mais nada. Penso que vinculá-lo ao Sócio do Provincial, que tem acesso ao conjunto da província, pode ajudar a que isto possa acontecer de forma mais efetiva e ágil.
O Secretariado vive também muito do apoio que os benfeitores vão dando para o trabalho lá fora?
Sim, desde sempre que houve benfeitores preocupados com o trabalho dos missionários que, com generosidade, colaboravam com o Secretariado. É preciso que isto continue a acontecer. Por isso, temos de dar a conhecer às pessoas que há missionários e que é preciso cuidar deles. Estou também a pensar na forma de comunicar melhor o seu trabalho através das redes digitais, de modo a que nos aproximemos mais de quem está longee demos a conhecer o seu trabalho a quem queira ajudar financeiramente.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.