O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) fez ontem um balanço positivo da primeira sessão da XVI Assembleia do Sínodo dos Bispos, que decorreu no Vaticano, apelando a “novas atitudes” na Igreja”. “Interessa criar atitudes novas, modos novos de ser dentro da Igreja. E isto já está a acontecer na medida em que começou nas bases”, disse D. José Ornelas.
Os trabalhos da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, iniciados a 4 de outubro, encerraram-se ontem, sábado, com a aprovação do documento de síntese; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
“Não é simplesmente uma Igreja voltada para trás, para aquilo que já foi, mas é uma Igreja que cria constantemente mundos novos”, aponta D. José Ornelas, realçando que este processo sinodal prossegue nos próximos meses. O bispo de Leiria-Fátima falou de uma “primeira parte formidável da escuta da Igreja”, de forma capilar, por iniciativa do Papa, que deu origem a um “caminho muito, muito significativo, inovador a todos os títulos”. “É uma Igreja em caminho é uma Igreja que, se por um lado se reúne, por outro lado se movimenta e caminha”, sublinha.
Para o presidente da CEP, mais do que o debate sobre um conjunto de temas, este Sínodo representa “o lançamento de um processo”, que visa promover “uma Igreja sempre à escuta” e em convergência.
Para o presidente da CEP, mais do que o debate sobre um conjunto de temas, este Sínodo representa “o lançamento de um processo”, que visa promover “uma Igreja sempre à escuta” e em convergência. “É uma Igreja múltipla, na sua variedade de existências e das condições onde vive, mas é una e é assim que tem de funcionar, sempre” insiste.
Questionado sobre a eventual desilusão de quem esperava medidas concretas, desta reunião de representantes eclesiais dos cinco continentes, D. José Ornelas indica que o objetivo do Sínodo é mais do que “aprovar decretos”. “O Papa tem-no repetido constantemente: isto não é um parlamento, onde se vai ver quem perdeu”, adverte.
Decisões sobre temas como o papel das mulheres ou a ordenação de homens casados, por exemplo, podem ser desenvolvidas, segundo o presidente da CEP, “em consequência das atitudes e dos esquemas de viver a Igreja, de ser Igreja” que se estão a definir neste Sínodo. Mais do que isso: que tipo de liderança é que queremos? Como queremos implicar todos nas comunidades? Como se constitui a corresponsabilidade, dentro da orientação das nossas comunidades e da Igreja no seu conjunto?”. O bispo de Leiria-Fátima destaca que, destas semanas de trabalho, sai o reforço do princípio de que cada católico, pelo Batismo, tem “direito e dever de participar, ativamente, dentro da Igreja”. “Não vamos fazer tudo de novo, mas vamos ter a possibilidade de integrar o todo da Igreja”, acrescenta.
Decisões sobre temas como o papel das mulheres ou a ordenação de homens casados, por exemplo, podem ser desenvolvidas, segundo o presidente da CEP, “em consequência das atitudes e dos esquemas de viver a Igreja, de ser Igreja” que se estão a definir neste Sínodo.
O responsável recorda a forma como os trabalhos decorreram, em mesas-redondas, no Auditório Paulo VI, apresentando a imagem de “uma Igreja circular, uma Igreja povo de Deus”, em que todos têm a mesma “dignidade”, como filhos de um mesmo Pai. D. José Ornelas lamenta que a categoria de “povo” tenha perdido um sentido teológico, dada a prevalência de leituras sociológicas, recordando que este é “o ponto de inserção fundamental para todos”, na Igreja. “Estamos todos juntos”, realça. O presidente da CEP assume “orgulho” em participar neste processo e assume a “esperança” nos seus frutos, que exigem “paciência”. “Isto é o início de uma nova etapa, que nós estamos a viver”, conclui.
A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, teve 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo. Os trabalhos desenvolveram-se em volta das quatro partes do ‘Instumentum Laboris’ (IL), antes do debate conclusivo.
Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano. O Vaticano adiantou que os participantes na segunda sessão desta assembleia sinodal, no próximo ano, serão os mesmos que estiveram na primeira.
A Conferência Episcopal Portuguesa está representada pelo seu presidente e vice-presidente, respetivamente D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.