O relatório de síntese da primeira sessão do Sínodo dos Bispos, que decorreu no Vaticano desde o início do mês, assumiu a divisão dos participantes quanto ao tema do diaconado feminino, apelando a um aprofundamento da questão, do ponto de vista teológico. “Foram apresentadas diversas posições relativamente ao acesso das mulheres ao ministério diaconal. Alguns consideram que este passo seria inaceitável, por estar em descontinuidade com a Tradição; para outros, conceder esse acesso retomaria uma prática da Igreja das origens”, pode ler-se no documento, divulgado ontem pelo Vaticano.
Este ponto foi o que mereceu o maior número de votos contra – 69 – dos 344 participantes que marcaram presença na congregação geral conclusiva, sob a presidência do Papa. O texto refere que este passo seria visto por alguns como “uma resposta apropriada e necessária aos sinais dos tempos”, dando um sinal aos que “procuram uma renova vitalidade e energia na Igreja”. O relatório regista ainda o “temor” manifestado por alguns destes participantes de que este pedido resulte de uma “perigosa confusão antropológica”.
Todos os pontos do documento, com cerca de 40 páginas, foram aprovados com mais de dois terços de votos favoráveis dos participantes, vindos dos cinco continentes.
Outro ponto, que mereceu 67 votos negativos, convida a “prosseguir a investigação teológica e pastoral” sobre o diaconado feminino, recordando as comissões criadas por Francisco, para este efeito. “Se possível, os resultados deveriam ser apresentados antes da próxima sessão da assembleia”, em 2024. Os participantes indicam “incertezas” sobre a “teologia do ministério diaconal” que ainda persistem na Igreja de rito latino – a maioria das comunidades católicas em todo o mundo, incluindo Portugal.
Outro ponto, que mereceu 67 votos negativos, convida a “prosseguir a investigação teológica e pastoral” sobre o diaconado feminino, recordando as comissões criadas por Francisco, para este efeito. “Se possível, os resultados deveriam ser apresentados antes da próxima sessão da assembleia”, em 2024. Os participantes indicam “incertezas” sobre a “teologia do ministério diaconal” que ainda persistem na Igreja de rito latino – a maioria das comunidades católicas em todo o mundo, incluindo Portugal.
Em 2020, o Papa decidiu instituir uma nova comissão de estudo sobre o diaconado feminino na Igreja Católica, na sequência do Sínodo especial para a Amazónia. Uma primeira comissão para o estudo do diaconado feminino, anunciada a 12 de maio de 2016, veio a revelar-se inconclusiva, tendo Francisco descartado mudanças no futuro imediato. O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio. Com origem grega, a palavra ‘diácono’ pode traduzir-se por servidor, e corresponde a alguém especialmente destinado na Igreja Católica às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas.
O relatório de síntese apela ainda a uma “profunda conversão espiritual”, indicando que muitas mulheres falaram numa Igreja que “fere”, por causa do clericalismo ou do machismo. “Abusos sexuais, de poder e económicos continuam a exigir justiça, cura e reconciliação. Perguntamo-nos como é que a Igreja se pode tornar um espaço capa de proteger todos”, pode ler-se.
Os participantes sugerem que os textos litúrgicos da Igreja tenham maior atenção “ao uso de uma linguagem que leve em igual consideração homens e mulheres”, com maior recurso a imagens vindas da “experiência feminina”.
A sessão sinodal debateu ainda o tema do celibato sacerdotal, elogiando o seu valor de “profecia e testemunho”, mas questionando se deve traduzir-se necessariamente, na Igreja latina, numa “obrigação disciplinar”, especialmente onde “os contextos eclesiais e culturais o tornam mais difícil”. O documento de síntese pede que os padres que deixaram o ministério possam desempenhar “um serviço pastoral que valorize a sua formação e a sua experiência”.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.