Diz o Papa Francisco que nós «temos muita dificuldade em entender a gratuidade da salvação em Jesus Cristo”. Tendemos a reduzir a imensidão de Deus à nossa compreensão humana e não nos deixamos maravilhar. Teimamos a enquadrar o Amor de Deus nos nossos limites pequenos e não nos deixamos transformar pela gratuidade do amor que nos é oferecido. Respondemos segundo a mesma parca parte e não chegamos a viver a plenitude do que nos é dado viver.
Na proposta desta semana somos convidados a deixar-nos envolver por este Amor, sempre maior, que constantemente nos chama à intimidade capaz de O reconhecer em todas as coisas.
Se conhecesses o amor que te tenho
Olharias para mim em cada coisa que visses:
Em cada pormenor mais pequenininho e discreto.
Acordarias todos os dias o sorriso que te mostra feliz
E falarias da experiência do amor que te tenho
Ao mundo… a todo o mundo.
Os teus olhos falariam dele
E não precisarias mais do barulho das palavras.
Porque o silêncio do teu olhar
Preencheria todo o desejo dos vocábulos doces e meigos
Que dirias sem pensar.
O teu correr seria flutuante.
Seria um vulto de alegria silenciosa de um lado para o outro;
E as tuas mãos estariam sempre abertas de mansinho
Para segurar as incertezas
Próprias da alma inocente.
Se conhecesses o amor que tenho
Amarias os inimigos com o mesmo olhar
Que não reconhece a inimizade,
E dançarias com todos, mesmo de noite e às escuras
Sem saberes quem são e para onde te levam.
Sonharias memórias felizes durante a espera
E o teu dia seria agradecê-las – amando.
Serias como uma uva que é colhida, pisada,
E se dá no vinho
Que o paladar não reconhece;
(E entregarias a tua vida completamente)
Deitar-te-ias sobre a relva
A apanhar a chuva que devolverias ao mar,
Como algo que não te pertence
E quando o visses a dançar o meu nome, ao sabor do vento,
Não te seria estranho chorares:
Porque, afinal, as lágrimas são salgadas e também dançam
Só que tu não vês.
Os teus ouvidos estariam despertos
Para o que os passarinhos te dizem
E não mais rejeitarias
O raio de sol que te aquece a cara.
Ele não te ofusca –
Ele aquece-te e aclara-te e ama-te também,
Com o mesmo amor que te tenho.
Desenhos: Rui Silva, sj
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.