Regras para ordenar-se face às notícias sobre a COVID-19

Oito regras claras que nos ajudam a não perder nem o norte, nem o critério enquanto navegamos na imensidão das notícias.

Oito regras claras que nos ajudam a não perder nem o norte, nem o critério enquanto navegamos na imensidão das notícias.

Estar informado é um bem potencial. Mas, na bonança como na tempestade, na crise mais aguda como na crise contínua da vida, importa ter critério e usar da informação tanto quanto nos conduz à finalidade para a qual estamos amorosamente a ser criados.
Apresentamos um conjunto de regras/sugestões, na esperança de ajudar. Compreendemos as tentações de excesso, também por nós vividas. Por isso alinhamos, antes de mais para nós mesmos, umas dicas orientadoras. Para que as notícias, sendo água, não nos inundem nem afoguem, mas nos reguem moderadamente, para dar fruto sobre a realidade que vivemos:

 

1- A dose importa
Todos nós, nestes tempos conturbados, tendemos a abusar da dose noticiosa. É compreensível mas é duvidoso querer saber tudo e a toda a hora. Esta ânsia pelas últimas notícias desfoca-nos da atenção à realidade presente, do tempo necessário para saborear, refletir e integrar.
Valerá a pena planear os tempos de recepção de notícias e ser fiel a esse propósito. Por exemplo, talvez baste um e apenas um telejornal por dia, uma leitura de um ou outro artigo de opinião, se possível em horas pré-determinadas. Que tal uma leitura de artigos de manhã (depois e não durante o pequeno almoço, desejavelmente a seguir a um momento meditativo/orante) e o telejornal das 20h ou das 21h, apenas?

 

2- As fontes importam
Preferível jornais de referência e televisões menos bombásticas. A título de exemplo, têm merecido incontestável consideração o Jornal Público e o telejornal da SIC. Estas fontes já selecionam, por sua vez, fontes cientificamente credíveis e peritos bem colocados. Fazem um trabalho de seleção noticiosa de várias amplitudes e sensibilidades. Seria uma tentação sermos nós a filtrar a informação e, se nos aventurarmos a fazê-lo, arriscamo-nos a uma imersão pouco respiradora.
Embora possa parecer um pouco rígido, talvez valha a pena optar por não valorizar as redes sociais como fonte de notícias. Aí, ao contrário, o filtro e o critério são absolutamente erráticos…

 

3- E se as redes sociais fossem só para ajudar?
Será excessivo pedir a quem se move muito nas redes sociais para as abandonar neste tempo (ainda que alguns possam entender por bem essa defensividade radical), mas sugere-se que estas redes tenham filtro receptivo e de emissão. Que se escute, leia, veja e valorize apenas o que leve a um bem maior. Que se ‘post’ apenas o que puder ajudar (eventos difundidos no ponto sj ou campanhas de solidariedade credíveis, por exemplo).

 

Cada crise é um desafio, cada ferida é uma potencial bênção, cada acontecimento, cada notícia, pode ser integrável, levar ao todo e ao Tudo do ser… e fazer crescer!

 

 

4- O que é importante e o que é menos importante
Há uma ‘auto-cusquisse’ endémica que nos ataca a todos nestes momentos. Tantas vezes nos deixamos enganar e valorizamos equivalentemente o que tem importâncias muito diferentes. Mais ainda, convém ativarmos uma espécie de lupa sensível para as boas notícias e sermos capazes de procurar e depois valorizar interiormente as boas notícias: os esforços heroicos, as procuras de essencialidade, as expressões de solidariedade, os pretextos de reflexão global e melhoria pessoal e coletiva.

 

5- Levar as notícias à oração
Para um crente, Deus não mete férias nem entra em crise. A afirmação da fé vivida é precisamente a de um Deus connosco, que caminha e nos solicita a ser as Suas próprias mãos. Levar as notícias à oração confunde-se com levar as notícias à vida. Podemos ensaiar a esperança e a confiança, lembrar os outros sofrentes e, principalmente, diante de cada notícia que fez eco em mim, pedir a confiança da solidez e oferecer a fragilidade e a força de que somos tecidos para aliviar vários jugos.

 

6- Não deixar de ter acesso a outras notícias, a outras leituras e a outras visualizações
Não esquecer de ler outras notícias, visualizar outros filmes, descansar em tantos livros, assistir a outros debates e escutar tantas outras melodias. O ponto sj, em particular, está a organizar-se para interessantíssimas ofertas.

 

7- O silêncio traz boas notícias
Um apelo à paragem, ao silêncio e à meditação. Nem no rebuliço do stress quotidiano nem nas crises mais agudas se torna óbvio o apelo ao silêncio e à meditação. Porem, quer ali quer aqui, nada há mais urgente e fecundo do que algum silêncio de encontro. Desse silêncio, desejado, praticado, disciplinado (e, porventura, apenas muito depois, gozado) sopram sempre boas novas…

 

8- Estar atento, com critério e com defesas, é um estado de vida
Há um estado ontológico, próprio do ser humano e particularmente da existencialidade crente, que norteia todo o critério, também o da filtragem noticiosa, hoje e sempre: cada crise é um desafio, cada ferida é uma potencial bênção, cada acontecimento, cada notícia, pode ser integrável, levar ao todo e ao Tudo do ser… e fazer crescer! Neste sentido, o ambiente vivido na crise do coronavírus é “só” uma vivência mais concentrada da esperança que nos apoia e nos liberta, todos os dias e em todas as circunstâncias. Tal intensidade é bom pretexto de arrumação da casa, exterior e interior. Que as notícias, no modo certeiro de as autogerir, nos ajudem nesta limpeza…

 

 

Fotografia: Марьян Блан | @marjanblan – Unsplash

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.