As férias permitem-nos mudar de ritmo, de espaço mas nem sempre permitimos que este seja um tempo para…não mudar. O desafio é o de aproveitarmos este tempo não para mudar mas antes para estar e para estar com o … tempo.
Como?
Procuramos dedicar a semana à volta do tema “tempo”. Não apenas o tempo meteorológico ou cronológico mas antes a diferença entre o tempo de “fazer” e o tempo de “estar” (o tempo que damos uns aos outros, o tempo que damos à oração, o tempo que estamos a fazer coisas, o tempo que aprendemos a estar).
Como somos uma família de 6 pessoas, com idades que vão dos 45 aos 5, cada um ficou com um dia da semana e assim surgiram 6 desafios à volta do tema. A sugestão que lançamos é escolherem uma hora ou momento do dia para estarem com tranquilidade e disponibilidade. Nós escolhemos a hora de jantar. Antes do jantar o responsável do tempo do dia, lançava a oração do dia, ficávamos uns minutos em silêncio e durante o jantar conversávamos.
A mais pequenina da casa, tem trissomia 21, por isso, procuramos que os momentos de oração sejam visuais e/ou musicais e nesta medida privilegiamos histórias, músicas, desenhos, fotografias ou teatros. Procuramos também que no seu tempo, a sua oração, seja ouvida plenamente, para tal, um de nós tenta preparar com ela o momento de forma a garantirmos que a sua escolha e o seu espaço de participação sejam plenos. E, por regra, somos surpreendidos com a sua profundidade. Afinal, é só uma questão de tempo, cada um de nós tem o seu.
Dia 1 – Tempo do tempo (Pai Miky):
No primeiro dia, ouvimos a música “Time” dos Pink Floyd e traduzimos uma parte da letra:
“Ticking away the moments that make up a dull day
Fritter and waste the hours in an offhand way.
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way.”
Refletimos sobre como o tempo é aquilo que fazemos com ele. Como pode ser lento. Pode ser rápido. Pode ser alegre ou triste. Nosso ou Dele. Como temos tantas pessoas à nossa volta que fazem parte do tempo. Tantos são os que se cruzam no nosso caminho. Tantas necessidades e tantas capacidades para explorar. Tantos mistérios por desvendar…
Ter Jesus, a sua vida e o seu exemplo, no pensamento, enquanto discernimos o que fazer com o nosso tempo é o tempo do tempo.
O desafio é : pensarmos nos vários momentos do dia, em que estivemos preocupados em fazer coisas, pensar como era o espaço à nossa volta. Fechar os olhos e recordar os locais onde estivemos, tentar compreender os espaços e refletir sobre se nos escapou alguma situação que devíamos ter estado atentos. Este é o desafio que aqui fica, embalado pela melodia dos Pink Floyd nesta canção intemporal.
Pistas de Oração:
– Como equilibrar a nossa vida, entre o nosso tempo e o tempo dos que nos estão próximos? (Trabalho e família. Pais e filhos. Casa e comunidade.)
Dia 2 – Tempo da Despedida (Mãe Joana)
O desafio do tempo neste dia foi ouvir de olhos fechados a música “aDeus” da Helena Kendall e, no final, ficarmos uns minutos em silêncio, a pensar sobre esta palavra tão forte: adeus.
Já todos tivemos de nos despedir de alguém que nos é querido, dizer adeus é sempre difícil mas esta música fez-nos refletir como a despedida pode ser vista por outro prisma: como podemos transformar a dor da separação em gratidão pelo que vivemos com essa ou essas pessoas. Se pensarmos na palavra Adeus como (a)Deus, que esta música faz de uma forma tão especial, podemo-nos aproximar de Deus e ficar “tão leve a sensação de estar perto de ti assim. Vou subindo sem saber se sei descer”.
Pistas de Oração:
– O que significa oferecer a Deus aquilo que é mais precioso para nós?
– Será que a despedida é sabermos que nada é nosso e que devemos ser humildes para transformar em gratidão o que nos é tão difícil de largar?
https://www.youtube.com/watch?v=SHUWsrH6tPI
Versão em estúdio TV: aqui
Dia 3 – Tempo de Escolher (Henrique, 15 anos)
Neste dia olhamos para esta fotografia durante algum tempo e o desafio foi rezar sobre o que são as escolhas.
A vida é feita de escolhas. Tantas vezes os adultos nos contam histórias que começam com uma pequena decisão e que acaba por lhes mudar completamente a vida. Seja escolher se vamos falar com aquela pessoa, se aceito o cigarro que os amigos oferecem, se ajudo aquela senhora com os sacos ou aquela criança que não chega aos mentos ou escolher a área que se vai no secundário. Todas essas escolhas terão impacto daqui para a frente.
Pistas de Oração:
– Como fazer estas escolhas? Será que esta é a escolha certa? Será que é esta a escolha que me vai fazer aproximar de Deus? Como é que posso tomar esta decisão com a minha família? E como os ajudo nestas decisões?
Dia 4 – Tempo de Sonhar (Nonó, 12 anos)
Vamos mergulhar nos sonhos? Todos sonhamos, desde bebés a velhinhos. Há vários tipos de sonhos: pesadelos em que temos medo de voltar a dormir ou sonhos em que temos medo de acordar e nos esquecermos da sensação maravilhosa de sonhar. Sonhar dá-nos asas para seguir: tanto os sonhos enquanto estamos a dormir como os sonhos quando estamos acordados. Os sonhos fazem-nos acreditar e confiar. Será que os sonhos são presentes de Deus?
Pistas de Oração:
– Quais são os meus sonhos? Como me estou a preparar para os meus sonhos?
Dia 5 – Tempo de Fazer e Estar (Teté, 9 anos)
Neste dia, começamos a oração a olhar para este desenho da Teté fez sobre uma passagem do Evangelho. Partilhou que, na missa em Maxixe, ficou e acha que todos ficamos a pensar durante algum tempo nestas palavras que Jesus disse “ Marta, Marta, estás ansiosa e te ocupas com muitas coisas. Entretanto poucas são necessárias, ou antes uma só. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada.» (Lucas 10:38-42)”.
A Teté acha que Jesus nos quer dizer que quando nos encontramos com alguém, em qualquer sitio, devemos olhar e ouvir bem essa pessoa pois é assim que crescemos e aprendemos.
Pistas de Oração:
– Será que ao longo do dia, dou atenção às pessoas com que me cruzo?
– Será que tenho perguntado aos meus amigos se estão bem?
Dia 6 – Tempo da Coragem (Juju, 5 anos):
A Juju, no seu dia, quando perguntamos qual foi o tempo que escolheu, falou-nos da Mãe elefante. Fomos buscar fotografias dos dias que passamos no Kruger Parque (África do Sul) e escolheu esta fotografia. Explicou que a Mãe Elefante levanta as orelhas e a pata quando tem medo que façam mal ao seu filhote. E disse-nos que tem saudades da Mãe Elefante.
Pistas de Oração:
– Será que nos momentos especiais da nossa vida, como este de estar ao lado de elefantes, sabemos identificar os sentimentos que vivemos ou estamos tão focados com a emoção do momento que não vamos ao fundo?
– Qual a origem do medo e da coragem? O que fazemos quando temos medo?
Bons mergulhos no tempo e, claro, no mar também!
Consulte as propostas anteriores da rubrica Férias com Deus:
Proposta 1 – Só avança quem descansa
Proposta 2 – Dilatar o coração
Proposta 3 – Pode a oração ser uma luta?
Proposta 4 – Ser herói ou ser santo?
Proposta 5 – Férias: tempo em família para criar e fazer memórias
Proposta 6 – Desenhos para aprofundar o sentido da vida
Proposta 7 – Recomeçar
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.