“De um dia para o outro tudo pareceu novo.” Assim começa o P. Manuel Antunes, jesuíta e ilustre pensador do século passado, o seu emblemático artigo “Repensar Portugal”, publicado na revista Brotéria de 1974. Escritas poucos dias após o 25 de Abril, estas palavras originaram até um livro, lançado em 1979 e republicado há poucos meses, considerado pela crítica da altura de leitura obrigatória para os membros da classe política, dada a notável atualidade que as suas reflexões encerram.
É também esta reflexão do P. Manuel Antunes que dá o mote à rubrica Memória (sj) de Abril que o Ponto SJ lança esta semana com o desejo de recordar este momento histórico do País e, através dele, ajudar a repensar o presente e o futuro. Iniciaremos esta rubrica relendo este texto em que o P. Manuel Antunes sublinha o “surpreso despertar de um pesadelo de anos” e descreve um “país que quer tomar nas mãos o próprio destino”, não sem, contudo, deixar de alertar para a necessidade de “repensar para refazer” e de colocar questões essenciais como: que Estado somos chamados a construir?
Numa reflexão que foi escrita entre os dias 10 e 15 de maio mas poderia ter sido escrita para os nossos dias, marcados pela polarização e pelo populismo, Manuel Antunes defende a importância de habitar as “zonas temperadas”, onde “o homem pode construir uma existência mais de acordo com a sua natureza de ser inteligente e livre”; “se tornam impensáveis – ou menos pensáveis – as injustiças globais, a inteira sobreposição ao Povo, a trituração dos mais fracos e o desprezo cínico pelos adversários”.
Numa reflexão que foi escrita entre os dias 10 e 15 de maio mas poderia ter sido escrita para os nossos dias, marcados pela polarização e pelo populismo, Manuel Antunes defende a importância de habitar as “zonas temperadas”, onde “o homem pode construir uma existência mais de acordo com a sua natureza de ser inteligente e livre”; “se tornam impensáveis – ou menos pensáveis – as injustiças globais, a inteira sobreposição ao Povo, a trituração dos mais fracos e o desprezo cínico pelos adversários”.
Distinguindo-se por uma lucidez e clarividência notáveis, o pedagogo Manuel Antunes escrevia, já em 1974, que a “democracia, é preciso merecê-la”. E acrescentava: “é necessário traduzi-la, pelo esforço de todos — mas sobretudo daqueles a quem assiste maior responsabilidade política, social, económica e cultural — a democracia é necessário traduzi-la, nos factos e nas instituições que objectivem e encarnem a verdade, a justiça, a fraternidade e a liberdade de uma comunidade verdadeiramente humana.”
Este texto do P. Manuel Antunes, sj será divulgado amanhã no Ponto SJ, numa versão escrita e também numa versão áudio gravada, 50 anos depois, pela voz de outro jesuíta, o P. Duarte Rosado.
Revisitaremos o 25 de Abril também através da memória de três jesuítas que viveram os dias da revolução na primeira pessoa, já na Companhia de Jesus, e a partir de diferentes locais e gerações. Recordarão as memórias desse dia, a forma como foram acompanhando, em Portugal ou à distância, o desenrolar desse dia e também o impacto que a liberdade trouxe à sua vida.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.