1.
GRETA THUNBERG E A GREVE CLIMÁTICA: podem os jovens salvar o planeta?
Goste-se ou não do estilo e do tom da comunicação, é inegável que Greta Thumberg colocou o tema da urgência climática na agenda mediática internacional. A jovem sueca de 16 anos, que começou por fazer greve às aulas no verão do ano passado para se sentar em frente ao parlamento sueco e com isso chamar a atenção dos políticos para a necessidade de tomarem medidas urgentes pela preservar o planeta, conseguiu arrastar milhares de jovens – e não só – para a sua causa.
As greves pelo clima, conhecidas como Friday for future, espalharam-se um pouco por todo o mundo e as preocupações e reivindicações de Greta ganharam escala e voz. O ponto alto do seu ativismo deu-se na sede das Nações Unidas, em setembro, quando a ‘Pirralha’ Greta – como foi apelidada recentemente por Bolsonaro – acusou os líderes mundiais de lhe terem “roubado os sonhos” com as suas “palavras vazias”. Num discurso emocionado, Greta pediu aos responsáveis mundiais que agissem em nome do futuro dos mais jovens, salvando o planeta da sua destruição. As palavras da jovem sueca caíram mal em muitos sectores, mais ou menos poderosos (de Trump a Putin), que a acusaram de ser uma jovem alarmista, inconsequente, mentalmente instável e de estar ao serviço de interesses obscuros.
A verdade é que milhares de jovens pelo mundo se têm juntado a este movimento, protestando nas ruas, alertando para a inexistência de um planeta B e exigindo ações concretas aos seus governantes. Muitos lançam-se em ações ativistas, alteram o seu modo de vida e praticam a sustentabilidade. Mas a incoerência de muitos outros, que saem à rua em protesto mas recusam abdicar de uma vida consumista e cheia de comodidades altamente prejudiciais ao ambiente, suscita críticas e gera indignação, principalmente entre aqueles que não estão dispostos a fazer nenhum esforço para reduzir a sua pegada ecológica.
Os jovens são o futuro, diz-se. Mas como poderá um problema tão grave e tão atual ficar dependente da ação das gerações futuras? Qual o papel que cada um quer assumir nesta história?
2.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: porque não conseguimos acabar com este drama?
Quase três dezenas de mulheres mortas às mãos dos maridos ou ex-companheiros. Eram estes os números trágicos da violência doméstica a 25 de novembro, dia internacional para a eliminação da violência contra as mulheres. Esta é, contudo, uma contabilidade dramática inacabada, que se tem vindo a repetir anualmente em Portugal, afetando inúmeras crianças e destruindo famílias inteiras.
O ano de 2019 poderá distinguir-se como aquele em que o tema esteve mais presente na agenda mediática. Fizeram-se campanhas de sensibilização, apostou-se na formação dos agentes de segurança, apelou-se à denúncia de casos e muitas foram as mulheres que deram o seu testemunho de vítimas para que situações semelhantes às suas deixassem de acontecer. Mas, apesar do choque que se abate sobre a sociedade de cada vez que é noticiada mais uma morte, é caso para perguntarmos: porque não conseguimos acabar com este drama? Onde estará a solução para tamanho problema?
Também na Igreja, o discurso a favor da proteção das mulheres foi reforçado ao longo do ano, com vários apelos do Papa contra a violência, bem como de bispos e instituições eclesiais que têm acompanhado as vítimas e as suas famílias. Mas sabemos que este é muitas vezes um drama silencioso, que corre dentro de portas e longe dos olhares da sociedade, passando, por vezes, despercebido até aos amigos próximos e familiares. Poderá a solução passar também por um olhar mais atento e cuidado da nossa parte?
3.
NOVOS PARTIDOS: o que mudou no Parlamento?
O estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos “Identidades religiosas na Área Metropolitana de Lisboa”, publicado em 2019, ajudou-nos a tomar consciência de que a nossa sociedade é hoje mais diversa nas suas escolhas e nos valores que enquadram a ação das diferentes pessoas. Os resultados eleitorais das legislativas de outubro confirmaram esta maior diversidade de opções. O círculo eleitoral de Lisboa foi responsável pela entrada de três novos partidos para a Assembleia da República: Chega, Livre e Iniciativa Liberal. Foi saudada a maior pluralidade política que este facto manifesta.
Mas as polémicas surgidas à volta do Livre e o rápido aumento da popularidade do Chega, captado por estudos de opinião, expressam que a emergência dos novos partidos trouxe consigo uma maior polarização e um discurso mais identitário e mais extremado. Esta situação tem originado discursos que alimentam uma lógica de “guerras culturais”, geradoras de divisão, e uma leitura mais emotiva e imediatista da realidade, com maior desprezo e agressividade diante de quem pensa de modo diferente.
A dificuldade em lidar com esta situação tem sido sentida por diferentes atores e responsáveis políticos, pelos “velhos” partidos e mesmo por comentadores e analistas. A interrogação que fica é: será que o avançar da legislatura será propício a um “serenar de ânimos” que contribua para uma visão mais clara da realidade permitindo que as injustiças e incoerências sejam mais facilmente reconhecidas e que o diálogo seja mais efectivo e proveitoso?
4.
FECHO DO COLÉGIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO: o Estado é dono da Educação?
O Encerramento do Colégio da Imaculada Conceição (CAIC) em Cernache, Coimbra, constituiu um momento duro para os Jesuítas em Portugal e para uma comunidade que, ao longo de mais de 60 anos, serviu uma zona distante da realidade urbana. O CAIC não foi a única escola com quem o Estado rompeu o Contrato de Associação que se viu forçada a encerrar. Independentemente da avaliação que se possa fazer de cada uma destas escolas e do seu contexto, cabe perguntar se a opção do Estado em assumir uma atitude monopolista face à Educação será o melhor modo de servir a sociedade.
Alguns dados devem fazer-nos pensar. Portugal é o país da União Europeia com a maior concertação de alunos no ensino privado não financiado: cerca de 17%. Isto significa que há uma tendência para a diminuição do número de estudantes expostos diariamente a realidades escolares em que a diversidade social esteja presente. A não partilha de responsabilidades do ensino público com a sociedade civil não conduz a uma escola pública estatal mais diversa mas à promoção do aumento de escolas privadas, a que apenas têm acesso alunos com maiores possibilidades económicas. Estas escolas privadas são as que permitem de modo mais eficaz o acesso dos alunos à formação superior que desejam. Tal como está, o sistema não promove a igualdade de oportunidades, torna-a mais difícil.
Por outro lado, a maior flexibilidade curricular promovida pelo Governo deveria ser um passo importante para uma maior autonomia das escolas e para um efetiva participação das comunidades envolventes no projeto educativo das diferentes escolas. Contudo, era preciso que fossem as comunidades a assumir o papel de fazer diferente e melhor. A verdade é que a tutela da autonomia, assumida pela Direção Geral da Educação, mesmo quando é feita de boa fé, ocupa um espaço que deveria ser da sociedade civil em torno da sua escola. A flexibilidade curricular deveria ser promovida e sustentada pelos agentes locais: o Conselho Geral, os pais, os professores, os dirigentes de cada agrupamento escolar. A presença do Estado central dificulta a abertura da escola pública à sociedade.
A pergunta que fica é: a tendência monopolista e a propensão centralista são conformes à pluralidade própria de um Estado Democrático?
Para votar nos outros pontos:
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.