PONTO DE LUZ

Acontecimentos ou figuras que, em 2019, iluminaram a realidade e nos ajudaram a olhar para o mundo à nossa volta de modo mais profundo. Vote online no melhor ponto de luz de 2019.

Acontecimentos ou figuras que, em 2019, iluminaram a realidade e nos ajudaram a olhar para o mundo à nossa volta de modo mais profundo. Vote online no melhor ponto de luz de 2019.

1.

ABUSOS SEXUAIS NA IGREJA: a luz ao fundo do túnel

O assunto há muito que marca a agenda mediática e a atualidade eclesial. Mas é caso para dizer que no tema dos abusos sexuais cometidos na Igreja há um antes e um pós 2019. Foi em fevereiro deste ano que o Papa Francisco desencadeou uma iniciativa inédita: convocou todos os representantes das conferências episcopais para irem a Roma debater o assunto. Mais do que conversar sobre o que tem sido feito e é preciso continuar a fazer, Francisco encontrou a forma certa de mobilizar e convocar os bispos para a urgência e gravidade deste problema: pô-los a escutar os testemunhos de sobreviventes de abusos sexuais. Com isto, o Papa conseguiu colocar a tónica naquela que deve ser a ação da Igreja: cuidar das vítimas, escutando-as e ajudando-as a ultrapassar o seu drama. Depois deste encontro, chegaram as orientações concretas da Santa Sé, que passam pela criação de estruturas locais que possam lidar com o problema, por uma aposta na prevenção e por procedimentos claros e concretos a tomar em caso de denúncia.

Os passos foram sendo dados um pouco por todo o mundo e Portugal não foi exceção. Apesar de, inicialmente, algumas dioceses terem manifestado reticências em fazê-lo, por todo o país começaram a ser criadas comissões diocesanas para lidar com este problema, juntando membros da Igreja e especialistas em matéria de infância e abuso.

Enquanto as dioceses procuram respostas para corrigir e prevenir este flagelo social, pelo mundo continuam a surgir denúncias e notícias de padres que abusaram de menores e relatos das dificuldades da Igreja em lidar com a situação. Contudo, ao contrário do que acontece noutros países como Espanha, França ou Chile, em Portugal a tarefa de constituir estas equipas e linhas de trabalho tem decorrido sem sobressaltos mediáticos e sem divulgação pública de casos.

O teste ao cumprimento destas diretrizes papais acontecerá em junho do próximo ano, altura em que todas as dioceses deverão ter as suas estruturas a funcionar. Até lá, urge aprofundar o trabalho de prevenção e de gestão dos casos.

 

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Papa Francisco chamou a Roma este ano responsáveis pelas conferências episcopais para debater tema dos abusos sexuais.

 

2.

ONDA DE SOLIDARIEDADE: Portugueses mobilizam-se para salvar bebé Matilde

A história de Matilde emocionou Portugal. E os portugueses não hesitaram em juntar-se à onda de solidariedade que se gerou para salvar a vida à bebé de dois meses que sofre de uma doença rara: atrofia muscular espinhal tipo 1. Em poucas semanas, os pais da criança conseguiram angariar 2,5 milhões de euros destinados a suportar o custo do medicamento que poderia salvar a vida da sua filha e que custa dois milhões.

Os donativos foram angariados depois de o caso se ter tornado público e de os pais terem corrido as televisões e as redes sociais a apelar à ajuda para que a sua filha pudesse receber o tratamento de que necessitava. Sensibilizados para o drama da pequena Matilde, milhares de portugueses doaram dinheiro e rapidamente o valor angariado excedeu o necessário.

O Estado português veio depois juntar-se a esta causa, assumindo os custos da aquisição do medicamento que foi enviado dos Estados Unidos e administrado à criança no verão. Nos últimos meses, a bebé tem vindo a recuperar e a crescer, embora com as limitações que a sua doença acarreta. E com a verba angariada para o seu tratamento, têm sido ajudadas outras crianças. Os pais vão relatando nas redes sociais um pouco da vida da bebé para que os que se juntaram à sua causa possam acompanhar o seu crescimento. Recentemente divulgaram também o número de crianças com o mesmo problema já apoiadas: 42.

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Portugueses angariaram 2,5 milhões de euros para pagar tratamento de bebé com doença rara.

 

3.

ELEIÇÃO DE D. TOLENTINO: Os novos cardeais do Papa

Em menos de dois anos, Tolentino Mendonça passou de padre poeta a cardeal. O sacerdote da Madeira, de 53 anos, conhecido pela sua produção literária e aproximação ao mundo da cultura, terá dado nas vistas quando foi escolhido pelo Papa Francisco para orientar o retiro de Quaresma da Cúria Romana, e a partir daí a ascensão na hierarquia da Igreja acelerou-se. Primeiro, Tolentino foi chamado a Roma para assumir a responsabilidade da Biblioteca do Vaticano e pouco depois foi nomeado bispo, tendo a ordenação episcopal sido concretizada 28 de julho do ano passado, no Mosteiro dos Jerónimos.

Um ano depois, o Papa Francisco voltou a convocar D. José Tolentino, desta vez para o juntar aos seus conselheiros mais próximos: o Colégio dos Cardeais. Com esta entrada para o núcleo duro de Francisco, o novo cardeal português junta-se também ao grupo de eleitores do próximo Sumo Pontífice, passando a integrar o Conclave, e espelha a intuição do Papa de que a missão da Igreja no mundo contemporâneo passa também pelo campo da estética e das artes.

A notícia da escolha do cardeal português entusiasmou os meios culturais e eclesiais nacionais, que se congratularam com a chegada de um português a um cargo tão elevado. Tolentino procurou afastar a distinção do cargo, comparando a missão de um cardeal à de um operário e de um refugiado.

D. José Tolentino não foi, contudo, a única surpresa do Consistório de outubro que deu posse a 13 novos cardeais e retirou a primazia da Europa entre os seus elementos. Com ele, entraram também no colégio dos cardeais bispos de lugares mais distantes do Vaticano, como a República Democrática do Congo, a Guatemala ou Marrocos; bem como três jesuítas: D. Michael Michael Czerny, o subsecretário da secção Migrantes do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral; Jean-Claude Höllerich, arcebispo do Luxemburgo e D. Sigitas Tamkevičius, Arcebispo Emérito de Kaunas, na Lituânia.

Fotografia de Agência Ecclesia: Arlindo Homem
D. Tolentino Mendonça foi feito cardeal em outubro, juntamente com mais 12 bispos, de várias zonas diferentes do mundo.

4.

PRÉMIO NOBEL DA ECONOMIA – A economia atenta à pobreza 

O prémio Nobel da Economia de 2019 foi atribuído ao indiano Abhijit Banerjee, à francesa Esther Duflo e ao norte-americano Michael Kremer pela “abordagem experimental” feita no estudo relacionado com formas de mitigação da pobreza. Ao justificar o Prémio Nobel da Economia deste ano, o Banco da Suécia, responsável pela sua atribuição, recordou que, apesar da melhoria global nos padrões de vida da população mundial, há ainda 700 milhões de pessoas que subsistem com rendimentos muito baixos. Referiu também que todos os anos quase cinco milhões de crianças, com menos de cinco anos, morrem devido a doenças que poderiam ser fácil e economicamente prevenidas e curadas e que metade das crianças ainda abandona a escola apenas com capacidades básicas de leitura e Matemática.

O contributo destes investigadores é passível de ser aplicado a políticas e incentivos de combate à pobreza. Partindo do terreno e enquadrados pela chamada “economia do desenvolvimento”, os vencedores do Nobel procuram soluções para pequenos problemas encontrando respostas sobre as melhores políticas de combate à pobreza. Num mundo demasiadas vezes dominado pela percepção da existência de princípios económicos que parecem assumir um carácter quase determinista, é muito positivo que haja quem procure soluções que contrariem as consequências negativas da assunção desse determinismo económico.

Numa altura em que o tema da Economia é cada vez mais assumido como uma prioridade para a Doutrina Social da Igreja – o que se reflete em iniciativas como a “Economia de Francisco” – este prémio é um incentivo a não desistir de encontrar na Economia um ponto de luz.

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Pela primeira vez, Nobel da Economia distinguiu investigação ligada ao combate à pobreza.
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* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.