No domingo, dia 14, será canonizado o Papa Paulo VI, (Cardeal Montini) com forte experiência na vida diplomática e sobretudo na Secretaria de Estado do Vaticano. Muitas pessoas das novas gerações não o conhecem. Quem foi Paulo VI? De sólida formação intelectual e espiritual, a sua figura emergiu perante a Igreja e o mundo a partir do Concílio Vaticano II e da morte do Papa João XXIII. Este, eleito já com bastante idade e opondo-se a outras correntes da Igreja, teve a ousadia e a liberdade de convocar um Concílio Ecuménico (universal) e acompanhou os seus inícios. A morte, no entanto, veio colhê-lo e, a meio do Concílio, foi necessário escolher (1963) outro bispo de Roma e Papa, precisamente o Papa Montini, Paulo VI.
O Concílio continuou, o novo Papa acompanhou cuidadosa e interessadamente o seu percurso, respeitou as opiniões expressas e pôde levá-lo à solene conclusão. Mas Paulo VI não se limitou a fazer progredir o Concílio e a promulgar as suas decisões. Começou uma profunda e séria reforma da Cúria Romana, internacionalizou-a, preocupou-se com a paz, a guerra e a justiça, produziu importantes documentos (p.ex.a encíclica Populorum Progressio) tendo até sido recebido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, perante a qual discursou.
Preocupado com a “Igreja no mundo de hoje”, procurou levá-la a um verdadeiro “aggiornamento”, i e, actualização aos tempos modernos. Foi também Paulo VI que iniciou, de modo estável, o diálogo com judeus, muçulmanos e não-crentes, criando as respectivas comissões.
Renovando o papel do laicado na Igreja, a ele se deve a renovação litúrgica do Concílio, a instituição do Sínodo dos Bispos e do dia 1 de janeiro, como Dia Mundial da Paz. Paulo VI foi ainda o primeiro papa dos tempos modernos a sair do Vaticano, deslocando-se numa série de viagens carregadas de simbolismo, como Jerusalém, Índia, Fátima, Istambul, além da já referida presença em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas. Atento ao que estava a acontecer no mundo, a sua posição face aos movimentos de libertação e descolonização não foi bem aceite pelas instâncias oficiais de Portugal.
Controversa foi também a sua encíclica Humanae Vitae (1968) sobre a dignidade da vida humana, onde recusa os métodos artificiais da limitação dos nascimentos. A sua posição foi muito contestada fora e dentro da Igreja Católica, provocando fraturas que ainda hoje não estão saradas. Austero, íntegro, discreto, sem a aura popular de João XXIII ou de João Paulo II, sem dúvida, foi um grande papa reformador que marcou e marca a Igreja Católica até hoje.
Fotografia no topo da página: Paulo VI de visita a Fátima em 1967.
Ambas as fotografias pertencem ao Arquivo da Companhia de Jesus.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.