Como descobriste a Igreja?
O meu percurso na fé e de contacto com a Igreja começou muito cedo, talvez até antes de ter nascido pois, ainda ligada por um embrião, a minha mãe entregava-me à Mãe todas as noites e em oração pedia por mim. Cresci assim numa família católica com forte ligação às Irmãs da Aliança de Santa Maria que acompanharam o meu crescimento. A minha paróquia não me era muito próxima e sempre fui, por isso, impulsionada pelo seio familiar a ir à descoberta de encontros de jovens e atividades da Igreja. Frequentei durante alguns anos o GVX em Leiria que me deu uma perspectiva de comunidade e fé muito real e concreta. Continuei esse caminho ao conhecer o Movimento Católico de Estudantes (MCE) da Diocese de Leiria-Fátima que me fez entender que Deus vive-se todos os dias. O momento fulcral no meu percurso de fé foi o sacramento do Crisma em que disse “Sim” a acolher o chamamento diário de Jesus Cristo e a segui-Lo para onde quer que me chamasse.
Como vives a fé no dia-a-dia, na escola, no trabalho, em casa?
Todos os dias somos chamados a ser mais, até nos momentos mais pequenos do dia. Com esta crença, e tendo em conta a identidade do MCE que tem como principal premissa “Ser católico na escola e estudante na Igreja”, considero que, ao nos entregarmos totalmente a Jesus Cristo, o Espírito Santo atua pouco a pouco em nós, em pequenas conversas, nas tarefas mundanas, no estudo e até em saídas à noite. Ele está, sempre!
Tendo em conta a identidade do MCE que tem como principal premissa “Ser católico na escola e estudante na Igreja”, considero que, ao nos entregarmos totalmente a Jesus Cristo, o Espírito Santo atua pouco a pouco em nós, em pequenas conversas, nas tarefas mundanas, no estudo e até em saídas à noite.
Viver a fé, para mim, tem um grande segredo que se encontrou sempre à descoberta na vida de Jesus Cristo – parar e rezar. Tantos são os momentos bíblicos em que Ele se afasta para orar. A oração é uma hiper fonte de energia e discernimento para compreender e refletir no dia que passou, para aceitar a frustração dos dias pouco produtivos de estudo, como para agradecer todos os que são colocados na nossa vida.
Costumo sempre afirmar que a Igreja somos todos nós (e somos mesmo!), como se cada um fosse um tijolo e juntos construíssemos um lar seguro. Daí que a pergunta “em que preciso de ajuda da Igreja…?” leva sempre a outra “em que posso ajudar a Igreja…?”. Não faz sentido uma sem a outra.
Em que sentes que precisas de mais ajuda da Igreja?
Olho muito para a minha juventude como a história do Filho Pródigo, algumas vezes como filho, perdido e sem rumo, outras como o irmão, obediente e por vezes impiedoso. O Pai, vejo-o como a Igreja, um espaço que não prende ninguém, mas que está sempre de portas abertas para o filho perdido e também para o filho obediente. Sinto que a Igreja e todos nós que nos inserimos nela somos chamados a ser este Pai, que reflete Deus.
Tendo em conta esta comparação, sinto que, como jovem, é necessário um maior acompanhamento, maior disponibilidade para estar e falar de fé, pois há uma imensa curiosidade que necessita de ser esmiuçada e saciada pelos jovens. Sei que existem muitos espaços em que tal é possível, mas considero que ainda há muitos locais para evangelizar e para dar mais apoio, quer de leigos, quer de consagrados.
Considero também que os jovens devem ser escutados e não apenas ouvidos, num ambiente de misericórdia e perdão, uma vez que a juventude é um tempo de descoberta, com muitas dúvidas. A perspectiva de uma Igreja mais próxima, tão falada neste Sínodo, deve ser aprofundada, de forma a existir um acompanhamento constante e um olhar atento aos jovens.
Como podes colaborar mais com a Igreja?
Nestes últimos anos tenho vivamente me sentido parte da Igreja, semeando pouco e colhendo numa medida desmedida. A verdadeira alegria de ser Igreja passa, em primeiro lugar, pelo sentido de ser Comunidade, de fazer parte. Nasci neste ambiente, conheci consagrados com uma alegria sem igual e com um sentido de vida muito concreto. Frequentei encontros de jovens e conheci alguns grupos de jovens que me deram muito. Ao encontrar o MCE entendi que estava na altura de arregaçar as mangas e de fazer mais, foi assim que começou uma grande aventura de equipa de coordenação diocesana e agora a nível nacional. Acredito muito na minha geração e nos jovens, e considero que ao apostar nos encontros, ao chamar jovens para conhecer a Ação Católica Portuguesa e o Método de Revisão de Vida, dou um bocadinho de Jesus aos outros, espalho a mensagem da Igreja e a sua identidade.
Mas mais do que colaborar no sentido de grupo, penso que é na relação com o outro, com os idosos da minha aldeia, com os miúdos que saem da catequese a correr, com os colegas da faculdade, em família, que somos chamados a ser Igreja, a ser exemplo. Vejo aí o desafio – colaborar com a Igreja no dia-a-dia e não ter medo de levar o Evangelho aos outros. Sendo jovem estudante nunca esqueço – “Ser católico na escola e estudante na Igreja”.
A Maria pertence ao Movimento Católico de Estudantes mas nesta entrevista dá-nos o seu testemunho pessoal.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.