A exposição Sob o Manto de Nossa Senhora, Coleções de Arte Russa em Portugal que se exibe até dia 24 de Novembro de 2019 na Galeria de Exposições Temporárias do Museu de São Roque, dedicada a imagens icónicas da Virgem Maria, é exemplo do feliz encontro de três conjuntos museológicos e de uma parceria institucional entre a Fundação D. Luís I e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Com curadoria de Irina Marcelo Curto, Diretora do Centro de Artes e Cultura Russa, e Vítor Serrão, Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, resulta da reunião de vários exemplares de composições pictóricas e escultóricas (baixos-relevos), dos sécs. XVI a XIX, do legado de Ana Maria Pereira da Gama, do Museu Nacional Grão Vasco (Viseu), e do legado Pedro Vieira da Fonseca, do Museu Municipal dos Condes de Castro Guimarães (Cascais), bem como de parte do acervo do Companhia de Jesus, hoje colecção do Museu de São Roque (Lisboa).
Esta mostra de peças, com materais tão diversificados quanto a tempera, o cobre, a prata e o ouro, e técnicas tão distintas, que vão desde a pintura, à cinzelagem, passando pelo cloisonnée, oferece ao visitante vários olhares sobre a imagética mariana.
O primeiro núcleo, dedicado à Vida Terrena de Nossa Senhora, apresenta um conjunto de ícones russos que percorrem aspectos da vida da Virgem, como o Nascimento, a Apresentação no Templo e a Assunção.
O segundo, que resulta da reunião de um grupo de peças, sob o tema Antigo Testamento e imagens simbólicas da Virgem, exibe, por sua vez, a iconografia da Sarça Ardente, cuja fonte é o Livro do Êxodo.
Já o terceiro conjunto, que corresponde ao grupo Imagens de Nossa Senhora na Liturgia e a Iconóstase Russa, conduz à Eucaristia e à distribuição espacial dos ícones na Iconóstase, e revela a iconografia de Maria, como Mãe de Deus Suplicante.
Trata-se, portanto, de uma exposição que cruza olhares tão distintos quanto aquele de matriz bizantina, e outro pleno dos principios pós-tridentinos, que determinou a produção de imagens sagradas,
O quarto núcleo, Ilustração de Cânticos de Veneração de Nossa Senhora, apresenta Nossa Senhora Pokrov ou do Manto Protector de Nossa Senhora, onde a Virgem surge como guardiã, rodeada de Anjos e dos Santos João Evangelista e João Baptista, de acordo com o milagre fixado por Santo André Yuródiviy, obriga à reflexão sobre a articulação entre este programa e a sua exposição no contexto da ilustração dos cânticos marianos. O tema Imagens de Nossa Senhora em ícones mais conhecidos e Sagrados, congrega interpretações iconográficas tão distintas quanto a da Virgem Entronizada, a da Virgem da Ternura ou a da Mãe de Deus que mostra o Caminho.
O último grupo, de Ícones portáteis, pendentes e medalhões, mostra um conjunto de objectos devocionais de pequeno porte, metálicos, dos sécs. XVIII e XIX.
Por fim, o percurso museológico encerra no primeiro espaço, integrando três cópias do Salus Populi Romani (duas pinturas sobre madeira e uma sobre cobre, num relicário A Tabula), cujo culto e difusão foi uma das prioridades da Companhia de Jesus. Para além dessas pinturas, destaca-se ainda a presença de uma composição, também pictórica, da Mater Omnia, cuja afinidade com a iconografia de Nossa Senhora Pokrov é por demais evidente.
Complementa o discurso expositivo um catálogo com 188 páginas, com textos da autoria de Edmundo Martinho (SCML), Carlos Carreiras (CMC) e Odete Paiva (DGPC/MNGV), a que se seguem os estudos “História, Morfologia e Sentido Espiritual dos Ícones Eslavo-Bizantinos”, de Sérgio Gorjão (DGPC/PNM), “Iconografia da Senhora do Pópulo e da Mater Omnia na arte portuguesa dos séculos XVI-XVIII”, de Vítor Serrão (ARTIS/FLUL), e “Imagens Icónicas na Arte Cristã Latina com Origens na Importação de temas da Igreja do Oriente: O Vir Dolorum e o Ecce Homo”, de Fernando António Baptista Pereira (CIEBA/FBA-UL).
A primeira investigação aborda exemplarmente o percurso histórico, geográfico e o caminho iconográfico percorrido pelo ícone, deambulando pelas diversas tipologias compositivas, e a segunda conduz-nos de forma emotiva pela produção pictória da Virgem de São Lucas, de e para a Companhia de Jesus, durante os sécs. XVI, XVII e XVIII, recordando-nos a singularidade da alegoria cristã de Nossa Senhora da Misericórdia. A terceira reflexão incide sobre a génese de algumas iconografias icónicas, como o Vir Dolorum e o Ecce Homo, que apresentam como traço comum a algumas pinturas marianas a capacidade de provocar novos sentimentos, abrindo novas hipóteses de trabalho.
Às anteriores exposições sucede-se uma nota explicativa aos já mencionados seis núcleos, da autoria de Irina Marcelo Curto (CACR), onde são evidenciados os pressupostos que nortearam o percurso delineado pelos curadores, mas também onde se dão a conhecer aspectos formais e técnicos decorrentes da catalogação dos objectos expostos.
Trata-se, portanto, de uma exposição que cruza olhares tão distintos quanto aquele de matriz bizantina, e outro pleno dos principios pós-tridentinos, que determinou a produção de imagens sagradas, e que permitiu um contacto com composições icónicas, diversas no que à dimensão devocional e artística refere, mas reunidas, em boa hora, Sob o Manto protector e misericordioso de Nossa Senhora.
Informações Úteis
Sob o Manto de Nossa Senhora – exposição temporária – até 24 de novembro.
Entrada Livre
Local
Museu de São Roque
Largo Trindade Coelho –
1200-470 Lisboa – Portugal – (Google Maps)
Site do Museu de São Roque
Horários
Segunda-feira | 14h00-18h00
Terça a domingo | 10h00-12h00 e 14h00-18h00
Encerra aos feriados
Visitas condicionadas às celebrações litúrgicas
Contactos
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Telefones: 213 240 869 | 887 | 889
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