O diálogo, a compreensão, a difusão da cultura da tolerância, da aceitação do outro e da convivência entre os seres humanos contribuiriam significativamente para a redução de muitos problemas económicos, sociais, políticos e ambientais que afligem grande parte do género humano. (Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado pelo Papa Francisco e pelo grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, a 4 de fevereiro de 2019)
1. Identificar zonas de risco: o que me faz saltar a tampa? O que me deixa impassível?
Não discutimos apenas com ideias. E não discutimos apenas as nossas ideias. Há heranças que moldam a nossa visão do mundo, há histórias que deixaram feridas, há tons ou pessoas que nos irritam, inseguranças (ou ignorâncias) que escondemos com falsas certezas. E também há temas a que somos indiferentes, problemas que não nos tocam, a que somos insensíveis. Se não olhamos com simplicidade e verdade para estas zonas de risco interior, não saberemos conversar.
Exercício – Construir o mapa das minhas zonas de risco.
Zonas de altas temperaturas – os temas, tons, pessoas que me tiram do sério.
Zonas de turbulência – que feridas, medos, inseguranças, preconceitos, ignorâncias me tiram o chão.
Zonas de baixas temperaturas – a que temas é que sinto que gostava/deveria dar importância, mas a que sou insensível? Consigo compreender o porquê dessa insensibilidade?
2. Dispor-se a escutar
Quando me coloco diante de alguém é importante dispor-me a ouvir, não ter pressa de responder ou de dizer o que sinto.
Dialogar tem a marca da cruz, implica “sair do seu próprio amor, querer e interesse”, dispor-se a morrer às suas ideias, ao desejo de “ganhar a discussão”, para me centrar verdadeiramente no outro e no que ele me traz, implica deixar que surja entre nós algo de novo que nasce da capacidade de cada um morrer a si mesmo.
Sinto-me disponível para “viver a morrer todos os dias” no modo como converso?
https://www.youtube.com/watch?v=tlvJehSct4g
3. Salvar a proposição do próximo
Leio e sigo as indicações do capítulo 1 do Manual de sobrevivência para tempos de ignorância organizada.
Sou capaz de me demorar no primeiro e no segundo passo? Qual destes passos sinto que é mais difícil de dar ao modo de Jesus, em atitude de verdadeira compaixão?
Sou capaz de dar o terceiro passo com toda a honestidade, clareza e, ainda assim, reconhecendo que não sou dono da verdade?
4. Dispor-se a dialogar
O diálogo da salvação foi aberto espontaneamente por iniciativa divina: “Ele [Deus] foi o primeiro a amar-nos” (1 Jo 4,10). A nós tocará outra iniciativa, a de prolongarmos até aos homens esse diálogo, sem esperar que nos chamem.
O diálogo da salvação ficou ao alcance de todos; foi destinado a todos sem qualquer discriminação (cf. Cl 3,11). Também o nosso deve ser, em princípio, universal, isto é, católico, e capaz de entabular-se seja com quem for, a não ser que o homem o recuse em toda a linha ou finja recebê-lo sem sinceridade. (Paulo VI, Ecclesiam suam)
Como posso ser mais imagem de Deus no modo como dialogo: na gratuidade (sem ser interesseiro) e na generosidade (comunicar-me sem disfarces)? Sou Católico (universal) ou sectário (seletivo), disponho-me a dialogar com todos ou só com os do meu clube?
Que gozo encontro no diálogo? Que frutos? Que desafios?
Há alguma conversa especialmente desafiadora e transformadora que tenha tido recentemente? O que fui capaz de perder nesse momento? O que recebi?
Rever cada um dos pontos deste exame. O que fica? O que desejo agradecer? O que quero entregar a Deus? Que Graça quero pedir?
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.