“Estai atentos”, “vigiai”, exorta-nos o Advento.
É possível que nos faça falta sentir mais intimamente, ou que precisemos de pensar com mais profundidade. Porém, nos tempos que correm e em tempos em que andamos sempre a correr por falta de tempo, talvez a atenção seja um dos bens de que mais precisamos. Parar para reparar. Reparar, no sentido de ver com tempo e com atenção, de notar os contornos e os detalhes, de atender ao que não se dá imediatamente à superfície. Reparar, como consertar o que estava quebrado, endireitar o que estava curvo, curar o que estava ferido, lembrar o que estava esquecido, celebrar o que estava ausente.
Houve quem dissesse, com razão, que ver mal começa por significar ver pouco – nós que vivemos saturados de imagens e de sons, de sabores, de experiências e de contactos, corremos, de facto, o risco de caminhar cegos e surdos, de viver insensíveis e indiferentes. Houve também quem recordasse que a atenção é a oração natural do ser humano. Quem vive atento já reza. Por isso, o apelo deste tempo de expectativa e de espera é tão vital.
Não antecipemos o Natal em mil festas que celebram tão pouca coisa. Demos tempo ao tempo. Não o consumamos, consumindo-nos nele. Vivamo-lo como graça, como útero que concebe, gera e dá à luz. São quatro semanas, num ritmo crescente, em direção à luz, à alegria, ao canto; são quatro etapas para reaprender a estar atentos e a vigiar, que é o mesmo que dizer, a rezar. Paremos. Levantemos os olhos e a vida. Curemos a memória e o desejo. Recentremos o coração e façamo-lo bater ao ritmo de Deus. Porque o Senhor vem.
Que este caderno, preparado com afeto por tantos, possa ajudar pais e filhos a cultivarem a atenção e a vigilância do coração. Será o coração atento e vigilante quem melhor reconhecerá e celebrará o Senhor presente. O nascimento é sempre um ato de amor
Este texto consta do Caderno de advento 2019, editado pela Associação de Pais dos Alunos do Colégio de São João de Brito, que pode ser descarregado e consultado na íntegra aqui.
Uma proposta que conta com a colaboração generosa de famílias, representantes das associações de pais, jesuítas, professores e membros do conselho de direção do Colégio de São João de Brito (CSJB), em Lisboa, e do Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso. Conta ainda com a participação inspiradora dos recém-criados Grupos de Apoio à Pastoral (GRAPA) do Colégio das Caldinhas e do Centro da Pastoral Inaciana de Cernache. Este último formado por jesuitas, pais e antigos alunos do antigo Colégio da Imaculada Conceição (CAIC).
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.