Esperando um céu e uma terra nova onde habite a justiça

No segundo domingo de Advento, partilhamos o testemunho do P. José Luis Vásquez, jesuíta espanhol que vive em Nador, Marrocos, um local de fronteira, sofrimento e tensão, onde chegam muitos refugiados em busca de uma vida melhor.

No segundo domingo de Advento, partilhamos o testemunho do P. José Luis Vásquez, jesuíta espanhol que vive em Nador, Marrocos, um local de fronteira, sofrimento e tensão, onde chegam muitos refugiados em busca de uma vida melhor.

A Palavra de Deus do segundo domingo do Advento convida-nos a viver na esperança, porque “a glória do SENHOR manifestar-se-á, e toda a gente a há-de ver ao mesmo tempo” (Is 40,5). Na pequena comunidade jesuíta de Nador (Marrocos), composta por quatro companheiros, tentamos alimentar esta esperança, unidos à Igreja local e no meio da complexa realidade da Fronteira Sul: um lugar de encontros, trocas e diversidade, mas também de conflito, injustiça e sofrimento.

“Uma voz clama no deserto, preparai um caminho para o Senhor” (Is 40,3)

A viagem da família humana migrante, em busca de uma vida melhor, assemelha-se muito a uma travessia no deserto, não só porque a maioria dos que chegam a Nador tiveram de atravessar fisicamente o deserto do Saara (uma viagem terrível a que muitos não sobrevivem), mas também pela situação precária e incerta em que se encontram aqui, dada a dificuldade de atravessar para a Europa para aí continuarem o seu projeto migratório.

Nós, Jesuítas, apoiamos o trabalho da Delegação Diocesana para as Migrações, onde uma rica equipa intercultural e inter-religiosa trabalha para humanizar a situação das pessoas em trânsito, com especial atenção aos mais vulneráveis: Também em El Aaiún (para onde muitos migrantes se deslocaram, em direção às Ilhas Canárias, um membro da nossa comunidade e um grupo de voluntários juntam-se ao esforço da Igreja de lá para “preparar um caminho no deserto”, acompanhando os nossos irmãos e irmãs neste percurso da sua rota.

A imensidão da tarefa e as dificuldades quotidianas ameaçam por vezes desencorajar-nos. Mas conforta-nos a comunhão – concreta e viva – com o resto da Igreja em Marrocos (outras comunidades religiosas, leigos e leigas) e, sobretudo, o saber e o sentir que atrás de nós está Aquele “que pode mais”: o Senhor Jesus, que nos sustenta e encoraja, e que continua a convidar-nos a partilhar o seu caminho de amor e de doação.

“Consolai, consolai o meu povo” (Is 40,1).

A nossa presença procura também servir a população local, com base no respeito e no diálogo (Marrocos é um país maioritariamente muçulmano). O Centro Baraka de formação, orientação e inserção sócio-profissional oferece educação, formação profissional e apoio social a mais de mil beneficiários por ano, e a Cáritas paroquial, recentemente revitalizada, ajuda as pessoas mais desfavorecidas, especialmente mulheres e crianças. A Cáritas diocesana, com a qual trabalha um dos nossos colegas, está também envolvida na assistência a catástrofes e na reconstrução após o terramoto que devastou uma grande parte do país há alguns meses.

“Depois de mim, virá alguém que pode mais do que eu” (Mc 1,7).

A imensidão da tarefa e as dificuldades quotidianas ameaçam por vezes desencorajar-nos. Mas conforta-nos a comunhão – concreta e viva – com o resto da Igreja em Marrocos (outras comunidades religiosas, leigos e leigas) e, sobretudo, o saber e o sentir que atrás de nós está Aquele “que pode mais”: o Senhor Jesus, que nos sustenta e encoraja, e que continua a convidar-nos a partilhar o seu caminho de amor e de doação.

Vivamos este Advento como um tempo de graça para renovar a nossa fé e a nossa esperança n’Ele, porque “a salvação está próxima […] e a glória habitará na nossa terra” (Sl 85,9).

 

Texto do 1º Domingo do Advento – partilha do P. Gonçalo Castro Fonseca, sj que viveu na Síria durante a guerra

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.