Deus Todo Poderoso

Um vulcão expele lava, destrói vidas e bens com a sua acção, um furacão varre tudo à sua passagem, um terrorista mata gente indiscriminadamente, um homem bom morre inesperadamente e ouvimos - Como permite Deus que isto aconteça?

Um vulcão expele lava, destrói vidas e bens com a sua acção, um furacão varre tudo à sua passagem, um terrorista mata gente indiscriminadamente, um homem bom morre inesperadamente e ouvimos - Como permite Deus que isto aconteça?

Estava a observar um Volvo V40 e, fazendo um comentário à peculiaridade das luzes de presença diurna em forma de um T deitado, responde-me o vendedor – São os martelos de Thor! – com um sorriso franco, próprio das pessoas boas e puras de coração.

Faz sentido que um automóvel escandinavo tenha referências à Mitologia Nórdica, ao todo-poderoso deus dos trovões que, martelando na sua bigorna, produzia raios e trovões em tempestades que imagino medonhas. O deus Thor! Um deus cheio de poder, um deus a que muitos de nós provavelmente já rezámos na vida. Como é bom ter um deus todo-poderoso do nosso lado. Não terá isso já acontecido, fazermos apelo a um deus com capacidade para lançar raios e coriscos sobre tudo e, principalmente, sobre aqueles de que não gostamos? Não!? Pelo menos os Apóstolos assim o entenderam fazer quando «Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo (…) os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?” Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os.» (Lc. 9, 51-55). Imagino Jesus após esta sugestão, a levantar os olhos ao Céu e ter rezado «Abba, dai-me paciência …».

Contudo, os Apóstolos não estão sozinhos nesta história, que dizer do Imperador Constantino e o seu célebre “In Hoc Signo Vinces”? Nós, portugueses, também começámos cedo com esta adoração, deveria dizer instrumentalização?, a um deus todo-poderoso e vencedor. Basta lembrarmo-nos da batalha de Ourique e de toda lenda que se criou à sua volta, em que, na véspera, Afonso Henriques teria tido uma visão, um sinal de um deus todo-poderoso que fazia acepção de pessoas, que tomava partido numa batalha, que amava uns e detestava outros. Este deus estava mais perto do Abba – Paizinho ou de Thor? E muitos outros episódios semelhantes poderíamos lembrar como S. Tiago pelos castelhanos e S. Jorge pelos portugueses na batalha de Aljubarrota.

Eu far-me-ei fraco para te acompanhar, para sentir o que tu sentes, para te amparar, para te acolher.

Mas, os dias de hoje também não escapam a este culto. Um vulcão expele lava, destrói vidas e bens com a sua acção, um furacão varre tudo à sua passagem, um terrorista mata gente indiscriminadamente, um homem bom morre inesperadamente e ouvimos – Como permite Deus que isto aconteça? Onde estava Deus naquela hora? Quando estas questões se colocaram após o ataque às torres gémeas, em Nova Iorque, houve uma resposta, a meu ver muito sábia, – Deus estava com os bombeiros que ajudavam, estava com os que sofriam.

Onde estava Deus quando eu tive um derrame no olho esquerdo? Felizmente, após cerca de nove messes de tratamento, fiquei curado. No entanto, só cerca de um ano e meio depois é que atentei num pormenor, um pequeno pormenor, mas muito importante. O primeiro sintoma de que o meu olho não estava bem tive-o quando estava na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Estava na igreja quando tive esse primeiro aviso de que o meu olho estava doente. E eu só me apercebi desse pormenor tanto tempo depois. Foi como se o Abba me dissesse – Estás doente, mas apercebes-te disso na Minha Casa. Eu estou e estarei contigo nos teus momentos de dúvida, de incertezas, de angústias, até nos momentos menos confortáveis do teu tratamento. Eu far-me-ei fraco para te acompanhar, para sentir o que tu sentes, para te amparar, para te acolher. Poderia estalar os dedos, poderia fazer como sugeriram ao Meu Filho «Então, o diabo conduziu-o à cidade santa e colocando-o sobre o pináculo do templo, disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se firam nalguma pedra.»» (Mt, 11, 5-6), mas o Meu Filho mostrou bem que nada temos a ver com o espetáculo e os poderes deste mundo. Eu estarei contigo. Eu estarei!

Fotografia de: Piermanuele Sberni – Unsplash

O autor escreve de acordo com o antigo acordo ortográfico.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.