O Papa Francisco entregou ontem, sábado, dia 30 de setembro, pelas 10h39 o anel e o barrete cardinalícios ao bispo português D. Américo Aguiar, numa cerimónia que decorreu na Praça de São Pedro, pedindo-lhe para na sua missão “ter Setúbal no coração”.
A celebração do Consistório, presidida pelo pontífice, começou com uma saudação de D. Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, em nome dos 21 novos cardeais, antes da oração proferida por Francisco, a leitura de uma passagem dos Atos dos Apóstolos e a homilia. Após esta intervenção, o Papa leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; seguiu-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores.
Francisco entregou ainda um anel aos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma – que simboliza a “participação na solicitude pastoral do Papa” na cidade -, bem como a entrega da bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz. D. Américo Aguiar recebeu o o título de Santo António de Pádua na Via Merulana (Sancti Antonii Patavini de Urbe), em Roma,
O Papa disse aos novos cardeais que o Colégio Cardinalício deve ser como uma “orquestra”, ao serviço de uma “Igreja sinfónica e sinodal”. “O Colégio Cardinalício é chamado a assemelhar-se a uma orquestra sinfónica, que representa a dimensão sinfónica e a sinodalidade da Igreja. Digo também sinodalidade, não só por estarmos nas vésperas da primeira Assembleia do Sínodo que tem precisamente este tema, mas porque me parece que a metáfora da orquestra pode muito bem iluminar o caráter sinodal da Igreja”, referiu na homilia, sublinhando que, neste conjunto, cada um “dá o seu contributo, ora sozinho, ora combinado com outro, ora com todo o conjunto”. Francisco acrescentou ainda que “a diversidade é necessária, é indispensável. Mas cada som deve concorrer para o resultado comum. E, para isso, é fundamental a escuta mútua: cada músico deve ouvir os outros”.
Papa diz que os cardeais compõem uma orquestra mas têm de saber escutar
O Papa falou do papel do maestro, “o serviço desta espécie de milagre que é sempre a execução duma sinfonia”. “Tem de ouvir mais do que todos os outros e, ao mesmo tempo, a sua tarefa é ajudar cada um e a orquestra inteira a desenvolver ao máximo a fidelidade criativa, a fidelidade à obra que se está a executar, mas criativa, capaz de dar uma alma àquela partitura, de fazê-la ressoar duma forma única aqui e agora”, ilustrou. “Vós, novos cardeais, viestes de diversas partes do mundo, e o mesmo Espírito que fecundou a evangelização dos vossos povos, agora renova em vós a vossa vocação e missão na Igreja e para a Igreja”, apontou o pontífice.
O Papa justificou a escolha da passagem bíblica lida na celebração, que relata o dia de Pentecostes, o “batismo da Igreja”, destacando que os cardeais “são de todas as partes do mundo, das mais diversas nações”, como muitos dos povos que eram identificados nos Atos dos Apóstolos. “Os Apóstolos eram todos galileus, enquanto o povo que se reunira era proveniente de todas as nações que há debaixo do céu, precisamente como o são os bispos e os cardeais no nosso tempo”, precisou.
Francisco falou numa “espécie de inversão de papéis”, convidando a refletir neste “batismo do Espírito Santo, que fez nascer a Igreja una, santa, católica e apostólica”. “Redescobrir, com espanto, o dom de ter recebido o Evangelho na nossa língua, como dizem aquelas pessoas”, observou, repetindo a convicção de que a fé se transmite em “dialeto”, com particular protagonismo de mães e avós.
Novo cardeal quer levar cultura da ternura
Depois do Consistório, o novo cardeal celebrou missa na Igreja de Santo António dos portugueses, em Roma. Nessa celebração, D. Américo Aguiar disse querer ajudar o Papa Francisco a levar a “cultura da ternura” a “todos” e deu conta do orgulho ao ser saudado pelos “irmãos cardeais” que elogiaram a JMJ Lisboa 2023. “Às vezes armamo-nos em santos mas nem batizados merecemos ser. Muitas vezes há irmãos com uma consciência tão profunda de serem pecadores que devíamos proclamá-los santos. E é este caminho que eu quero ajudar, dentro do possível, o nosso querido Papa Francisco. Este caminho da ternura, de todos, todos, todos. Inaugurarmos, não um tempo novo, porque sempre foi assim, o evangelho sempre foi para todos”, afirmou o cardeal português, durante a homilia da celebração a que presidiu.
O consistório para a criação de 21 cardeais, entre eles D. Américo Aguiar, conta com a presença de 12 delegações oficiais, sendo Portugal representado por Ana Catarina Mendes, ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares.
Este é o nono consistório do atual pontificado, após os realizados a 22 de fevereiro de 2014, 14 de fevereiro de 2015, 19 de novembro de 2016, 28 de junho de 2017, 28 de junho de 2018, 5 de outubro de 2019, 28 de novembro de 2020 e 27 de agosto de 2022.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.