É o quarto poder e é assim classificado desde o século XIX. A designação começou no Reino Unido, mais de cem anos depois de um aristocrata, político, jurista, filósofo e escritor francês ter defendido a teoria da separação de bens. Aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, Montesquieu poderia acrescentar o Jornalismo. A esta distância temporal, será um mero exercício especulativo, mas a comunicação social é um pilar fundamental de um Estado de Direito Democrático.
À semelhança dos outros poderes, também a comunicação social tem atribuições com relevância inegável: fiscalizar, buscar a verdade, denunciar. Para tal, a independência é irrefutável.
Os tempos mudaram, a velocidade da comunicação social não é a mesma da de outros poderes, nomeadamente o judicial, mas a voragem pela informação é tal e os órgãos para a divulgar são tantos que surge a dúvida, tantas vezes suscitada, sobre a veracidade do que é noticiado, mesmo nos canais tradicionais. Nunca como agora houve tantas plataformas com uma espécie de “notícias on demand“, mas também nunca houve tanta desinformação.
À medida que aumentam os meios para aferir até a veracidade da informação, sendo que a inteligência artificial o pode também fazer, parece que a velocidade a que as chamadas “fake news” se espalham parece cada vez maior.
Urge fazer uma reflexão sobre o que queremos, até onde poderemos ir, e qual o papel individual de cada um de nós para defender uma informação exata, objetiva, transparente.
Várias religiões têm tentado posicionar-se nos meios de comunicação social até com canais próprios nas plataformas de televisão. Passam as mensagens que pretendem mas nunca podem ser confundidos com informação. Também as redes sociais não têm escapado às diversas confissões religiosas face à relevância que assumem em todas as gerações…É mesmo um meio considerado imprescindível para chegar às faixas etárias mais jovens.
Consciente da importância da comunicação, o Papa Francisco foi deixando, ao longo dos seus 12 anos de pontificado, várias mensagens aos profissionais de comunicação social, falou com vários durante as suas viagens e nem as redes sociais “escaparam” ao Chefe da Igreja Católica, onde tinha contas onde foi fazendo publicações sobre a realidade do mundo católico, tentando também assim aproximar-se mais dos fiéis…tantas vezes separados fisicamente da Igreja.
Francisco, tal como alguns dos seus antecessores, divulgou todos os anos uma mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Este ano não foi excepção. Meses antes de deixar a vida terrena, Francisco escreveu uma mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais com o título “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações”. Apelou à partilha da esperança que está nos corações dos jornalistas. Na realidade, o Chefe da Igreja Católica gostaria que os jornalistas fossem agentes de esperança, com uma comunicação que cure, una e construa pontes.
Sem dúvida que há um nexo de causalidade entre aquela mensagem e o lema do Jubileu deste ano: “Peregrinos de Esperança”, alertando para os desafios actuais da comunicação, nomeadamente a desinformação e a polarização, que tantas vezes provocam o medo e/ou o ódio. Propõe uma reflexão para que não se caia na armadilha do simplismo. Considerando que também o jornalismo não é uma mera profissão mas sim uma vocação, uma missão onde a ética é fundamental.
Num momemto em que a própria comunicação social atravessa uma crise de credibilidade, com várias pressóes económicas e políticas, cada profissional deve combater e estar atento às notícias falsas, contar as histórias tal como acontecem, sem manipulação sendo per si também uma forma de resistência à censura…
Como lembrou o sucessor de Pedro, “o bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante, esteja próximo, possa encontrar o melhor de si”. A comunicação deve humanizar e não dividir. Deve sempre ter em conta o contraditório para que, tal como a justiça, tenha como uma das essências a busca pela verdade.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.