Desde há muitos anos que o meu maior período de férias são, invariavelmente, três semanas seguidas. É algo que tento que não seja negociável, e felizmente tem sido possível manter esta minha determinação em todos os lugares por onde já passei. Não raras vezes oiço pessoas perguntarem-me, com ar espantado, “como é possível?”. E eu geralmente respondo sempre o mesmo: “O ano tem 52 semanas. Se eu parar durante três semanas seguidas, não me parece que venha mal ao mundo”. É daqui que vem a percentagem que vos apresentei no título. Três semanas de férias representam 5,8% de um ano de trabalho. Quase nada, portanto.
E esta é a primeira coisa que gosto de ter em mente quando começa o meu período de férias, em que entro em modo off-line – também para justificar o facto de desligar absolutamente de tudo aquilo que é referente ao trabalho. E tenho, efetivamente, uma série de estratégias para o fazer, e que repito ano após ano, na certeza de que preciso delas para conseguir descansar e chegar àqueles três últimos dias de férias com muita vontade de regressar à rotina.
1. A minha resposta automática de out of office é ligada no meu penúltimo dia de trabalho. Isto permite que eu não deixe pendentes quaisquer assuntos e faz com que a minha caixa de email não fique entupida com mensagens às quais não vou conseguir responder nos dias seguintes. Baixa as expetativas de quem envia emails e a minha ansiedade;
2. Passei a aplicar uma regra na minha caixa de email sempre que saio por longos períodos: todas as mensagens recebidas na minha ausência são automaticamente apagadas, e o remetente recebe uma mensagem a informá-lo dessa questão e com a indicação da data do meu regresso – se fizer sentido, voltarão a enviar-me a mensagem – e um contacto alternativo para assuntos URGENTES (escrito mesmo assim, em caixa alta, porque a minha ausência não tem de ser ainda mais fatigante para quem fica);
Três semanas de férias representam 5,8% de um ano de trabalho. Quase nada, portanto. E esta é a primeira coisa que gosto de ter em mente quando começa o meu período de férias, em que entro em modo off-line – também para justificar o facto de desligar absolutamente de tudo aquilo que é referente ao trabalho.
3. Apago do meu telefone quaisquer aplicações que use em período de trabalho, seja email, software de chamadas e conversas instantâneas ou aplicações de jornais e revistas. Só as volto a instalar quando regresso ao trabalho
4. Vou ao quiosque e compro todas as revistas cor-de-rosa que tenham saído nos últimos dias; vou à estante – à minha e à de amigos – e escolho apenas livros de ficção para guardar dentro da mala;
5. Não vejo telejornais nem oiço os costumeiros noticiários da manhã – para um jornalista, uma das maiores dificuldades é ouvir um acontecimento e não pensar em como nós o trataríamos ou se não devíamos estar na redação. Só consigo evitá-lo se não tiver conhecimento do que se passa. Quando acontece algo muito grave, a notícia chega-me sempre. Caso contrário, o mundo continua mesmo que eu esteja desatenta.
Não vejo telejornais nem oiço os costumeiros noticiários da manhã – para um jornalista, uma das maiores dificuldades é ouvir um acontecimento e não pensar em como nós o trataríamos ou se não devíamos estar na redação. Só consigo evitá-lo se não tiver conhecimento do que se passa.
6. Não tenho horários nem planos, exceto os obrigatórios – por exemplo, horários de check-in e check-out em alojamentos ou idas ao mercado antes que ele feche. Não há horários para deitar, para acordar, para fazer refeições ou para ir para a praia. Cada um faz as suas coisas ao seu ritmo, e isto vale também para a minha filha de 6 anos – que me obriga às vezes a orientar o meu ritmo pelo dela, mas tudo bem.
7. Como não se pode fazer todas as refeições fora, a regra que vigora durante as três semanas – exceto se estivermos num hotel – é a seguinte: ao almoço, cada um come o que houver já feito (ou sandes!) quando e onde lhe apetecer. Ao jantar, cozinha-se algo simples e a refeição é feita em família. Quando estamos num grupo grande, cada dia cozinha uma ou duas pessoas enquanto as outras tratam da loiça, alternadamente. Os restos (a haver) ficam para o tal almoço sem regras… 😉
8. Descansar com crianças é, muitas vezes, um desafio. Eu adoro dormir até tarde, a miúda é uma cotovia; eu gosto de estar na praia, ela nem por isso. É um exercício de respirações longas e profundas porque há coisas que não conseguimos controlar nem podemos evitar. E, quando possível, deixar os avós felizes com a visita dos netos e fazer uns dias de férias – mesmo que poucos – sem os petizes pode ser boa estratégia.
9. No mesmo tema, quando estamos com a família alargada ou amigos, é pedir que alguém tome conta de vez em quando – que dê o pequeno-almoço se já estiverem acordados, que deitem um olho quando querem ir à piscina e nós não – e aproveitar essa coisa bonita chamada amor que, por norma, as nossas pessoas têm pelos nossos filhos.
10. Assumir que o tempo de férias é isso mesmo: um tempo de férias. Não é preciso haver regras, grandes planos nem grandes irritações. São as três semanas por ano em que não temos horários ou tarefas pré-definidas para cumprir e isso vale para adultos e crianças. Não se ralem se não houver sopa, fruta e salada todos os dias. Ou se houver mais sumos e gelados e bolas de Berlim do é suposto. Mas deixemos que os dias corram despreocupados com cada um a aproveitar o merecido descanso durante os 5,8% do tempo que temos para ele!
Boas férias 😊
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.