Como pensa e sente alguém que deseja morrer?

É fundamental que, enquanto sociedade, possamos compreender e valorizar todo e qualquer comportamento auto-destrutivo, por mais subtil que possa parecer. E saibamos pedir ajuda ou encaminhar.

É fundamental que, enquanto sociedade, possamos compreender e valorizar todo e qualquer comportamento auto-destrutivo, por mais subtil que possa parecer. E saibamos pedir ajuda ou encaminhar.

O suicídio é um tema difícil de abordar e para muitas pessoas incompreensível. Talvez por essa razão se ouça dizer que ter uma casa, dinheiro ou mesmo filhos serão razões bastantes para o impedir. Acontece que, quem deseja morrer, não é assim que pensa.

Proponho um exercício de imaginação, pois nada melhor do que tentarmos colocar-nos no lugar do outro para o compreender.

Imagine que pensa em si mesmo como uma pessoa inferior, sem valor, incapaz e sem quaisquer competências. Olha à sua volta e vê um mundo repleto de obstáculos intransponíveis, ameaças gigantes e perdas irreparáveis. Ao mesmo tempo, vê o futuro totalmente desprovido de esperança, negro e sem saídas possíveis.

Se se imaginar desta forma, como se sente?

Pois é assim que se sente quem deseja morrer. Uma angústia e uma tristeza sem fim, de mãos dadas com a desesperança e a firme crença de que não existem alternativas para aquilo que se vive. Neste contexto, a ideia de fuga, de poder desaparecer e aliviar a dor que se sente pode surgir sem pré-aviso.

Uma angústia e uma tristeza sem fim, de mãos dadas com a desesperança e a firme crença de que não existem alternativas para aquilo que se vive. Neste contexto, a ideia de fuga, de poder desaparecer e aliviar a dor que se sente pode surgir sem pré-aviso.

Para quem está de fora, a aparência ilude. Pois tantas e tantas vezes a pessoa sorri por fora enquanto sangra por dentro. Convive quando o que mais deseja é o isolamento. Brinca e diz piadas quando, em boa verdade, os seus olhos perderam o brilho e traduzem um profundo vazio.

A ideação suicida é complexa e pode apresentar contornos diferentes em diferentes pessoas, dependendo de factores individuais, familiares e sociais. Ao mesmo tempo, importa desmistificar a ideia de que existem tentativas de suicídio que são meras chamadas de atenção e que, por esse motivo, não devem ser valorizadas. Todos os comportamentos auto-lesivos têm de ser devidamente escutados e valorizados. Mesmo quando o método escolhido não é seguramente letal, isso não significa que a intencionalidade suicida não seja elevada.

É fundamental que, enquanto sociedade, possamos compreender e valorizar todo e qualquer comportamento auto-destrutivo, por mais subtil que possa parecer. Escutar sem recriminações ou juízos de valor, abandonando a ideia estupidamente errada (perdoem-me a expressão, mas é assim que penso) de que a pessoa que deseja morrer ou concretiza o suicídio é, afinal de contas, fraca e cobarde.

Não é a questão da coragem (ou da falta dela) que aqui está em causa, mas sim a questão do sofrimento. De um profundo sofrimento.

E quem sofre precisa de ajuda para encontrar uma saída. Porque existe uma saída. Existem outras alternativas para além da morte.

Peça ajuda.

Encaminhe quem precisa de ajuda.

 

Linha da Ordem dos Psicólogos (para este momento de pandemia)

Contacto: 808 24 24 24.

SOS Voz Amiga

Contacto: 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660
Horário: todos os dias das 16h00 às 24h00

SOS Palavra Amiga

Contacto: 808 237 327 | 210 027 159
Horário: dias úteis das 15h00 às 22h00 | fins de semana das 19h00 às 22h00

SOS Estudante

Contacto: 96 955 45 45 ou 808 200 204 (das 20h à 1h, chamada local)

SOS Adolescente

Contacto: 800 202 484

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.