Celebrar o que temos

Num mundo onde o negativismo e a reclamação muitas vezes dominam, ser uma fonte de positividade e alegria pode ser verdadeiramente transformador.

Num mundo onde o negativismo e a reclamação muitas vezes dominam, ser uma fonte de positividade e alegria pode ser verdadeiramente transformador.

Num mundo onde as exigências e obrigações diárias muitas vezes nos empurram para a frente sem nos dar tempo para olhar para trás, é fácil esquecer a importância de sermos verdadeiramente gratos e de celebrar as nossas conquistas. Há relativamente pouco tempo ouvi dois discursos, aparentemente desconexos, que me fizeram pensar e mudar a minha forma de refletir sobre tudo aquilo que tenho. Um discurso falava sobre a importância de sermos agradecidos e o outro falava sobre como era importante termos a capacidade de celebrar. Ser agradecido e celebrar estão intrinsecamente ligados, e formam uma base de mentalidade positiva e construtiva que pode transformar a nossa vida. Bem transformar talvez seja exagero, mas torná-la mais leve tenho a certeza que sim.

A gratidão, muitas vezes subestimada, é uma qualidade fundamental que nos permite reconhecer e apreciar o que já temos nas nossas vidas. Muitas vezes olho à minha volta e vejo muita gente que caiu na fácil armadilha de pensar que o mundo nos deve tudo e que nós não lhe devemos nada, que merecemos muito mais do que já temos, alimentando um ciclo interminável de insatisfação e descontentamento. A típica expressão portuguesa “vai-se andando”, como quem diz que está bem mas podia estar muito melhor, representa bem esse estado de espírito. No entanto, quando de facto paramos para refletir sobre tudo o que conquistámos e tudo o que nos foi dado, percebemos que somos verdadeiramente privilegiados. A capacidade de sermos gratos não só nos traz uma sensação de felicidade e paz interior, como também nos torna mais resilientes face aos desafios que vamos encontrando ao longo do nosso caminho.

Da mesma forma, a celebração das nossas conquistas é essencial para cultivar uma mentalidade positiva. Muitas vezes, ficamos tão focados no próximo objetivo, na próxima meta a alcançar, que nos esquecemos de parar e olhar para o caminho que percorremos até então. Com isto não digo que celebrar os nossos sucessos seja sinónimo de montar uma grande festa, não. Celebrar sozinhos, reconhecer os nossos momentos bons, por mais pequenos que possam parecer.

É importante sublinhar que ser agradecido e ter a capacidade de celebrar não são apenas atitudes que beneficiam a nós mesmos, mas têm um impacto significativo naqueles que nos rodeiam. O nosso comportamento e mentalidade influenciam diretamente o ambiente que criamos à nossa volta, e cultivar um ambiente de gratidão pode inspirar e motivar os outros a fazerem o mesmo. Num mundo onde o negativismo e a reclamação muitas vezes dominam, ser uma fonte de positividade e alegria pode ser verdadeiramente transformador.

Não concordo quando dizem que é preciso estarmos sempre insatisfeitos e estarmos sempre a procurar sair da nossa zona de conforto. Pelo contrário, sermos gratos e estarmos satisfeitos com aquilo que temos não nos impede de querer mais e até nos dá mais um motivo para o fazermos. A experiência positiva e o reconhecimento por aquilo que fizemos irá levar-nos, com certeza, a procurar uma nova conquista com uma atitude mais positiva, com muito mais empenho e vontade. É possível ser ambicioso sem esquecer tudo aquilo que já temos.

Termino com uma frase, de que gosto muito e julgo pertencer ao humorista Herman José que de uma forma tão sucinta e perspicaz se torna um bom exemplo do que escrevo acima: “Fazer anos é bom, tendo em conta a alternativa”. É uma boa resposta para darem aqueles que não conseguem olhar de forma positiva para uma coisa tão boa como o facto de estarmos vivos. Porque é que havemos de olhar sempre para o lado mau de uma coisa que é naturalmente boa?

No final, é esta atitude de gratidão que torna esta jornada verdadeiramente significativa.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.