Caminhando juntos, servindo a justiça e a paz

No dia em que o Papa visita o Conselho Mundial das Igrejas, criado há 70 anos, D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana, aponta áreas cruciais para o futuro do movimento ecuménico, como a justiça e a paz, ou o cuidado com a criação.

No dia em que o Papa visita o Conselho Mundial das Igrejas, criado há 70 anos, D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana, aponta áreas cruciais para o futuro do movimento ecuménico, como a justiça e a paz, ou o cuidado com a criação.

Fundado em 1948 em Amesterdão (Holanda), o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) é uma comunidade de 350 Igrejas que, «confessando a Jesus Cristo como Deus e Salvador segundo o testemunho das Escrituras, procuram responder juntas a uma vocação comum, para glória do Deus único, Pai, Filho e Espírito Santo». Estas Igrejas representam mais de 500 milhões de cristãos que estão presentes em todas as regiões do mundo. Em Portugal, as Igrejas membro do CMI são a Igreja Lusitana (Comunhão Anglicana) e a Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal. Conjuntamente com a Igreja Evangélica Metodista de Portugal, estas Igrejas constituem o Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC), organismo ecuménico em Portugal.

Sendo o maior e mais representativo conselho ecuménico no mundo, o CMI tem nas Assembleias Gerais os pontos altos da sua atividade. Tive a graça e a felicidade de representar a Igreja Lusitana nas três últimas Assembleias; Harare (Zimbabué), em 1998, Porto Alegre (Brasil), em 2006 e Busan (Coreia do Sul), em 2013. Testemunhei como é possível viver a unidade na diversidade das diferentes tradições eclesiais presentes. Nesta última Assembleia, todos os cristãos e pessoas de boa vontade foram convidados a juntarem-se numa «peregrinação de justiça e de paz». De então para cá, cresceu o compromisso dos cristãos na resolução dos grandes problemas e desafios que se colocam às Igrejas e à humanidade no século presente. Temas como a economia para a vida, migração e inclusividade das comunidades, teologia da vida e justiça climática, justiça e paz, sida, saúde e cura, entre outros, têm mobilizado a ação conjunta das diferentes Igrejas e cristãos na vivência de uma unidade no compromisso e na ação concreta.

Tendo como objetivo da sua ação «a unidade visível dos cristãos numa só fé e numa só comunhão eucarística, expressa no culto e na vida comum em Cristo», o CMI promove a necessária reflexão teológica e bíblica em áreas como a eclesiologia, os sacramentos, a autoridade na Igreja, a liturgia e a missão da Igreja. Como um dos seus grandes desenvolvimentos podemos apontar o processo já em muitos países alcançado do reconhecimento mútuo do Batismo praticado nas diferentes Igrejas. O acordo neste ponto, alcançado e subscrito pelas Igrejas em Portugal no final do ano de 2013, é sem dúvida consequência deste pensar ecuménico global que se aplica depois ao concreto da vida e da missão das Igrejas nos seus próprios contextos.  Graças também ao trabalho do CMI, e através de um diálogo multilateral, existe hoje uma notável convergência teológica em áreas como a Eucaristia, o Batismo e o Ministério, que esperamos possa conduzir a uma cada vez maior unidade visível dos cristãos para que o mundo creia em Jesus Cristo.

No presente século XXI e 70 anos após a sua fundação, o CMI identificou cinco áreas cruciais para o futuro do movimento ecuménico; a transformação da realidade eclesial; a relação entre missão e ecumenismo; a luta pela paz e a justiça; as relações com outras tradições de fé e religiões e a crescente consciência da relação com a criação. Em cada uma destas áreas, requer-se um renovar do compromisso com o chamamento bíblico para a unidade em Jesus Cristo (João 17:21) e com o chamamento em sermos instrumentos de vida abundante para todos (João 10:10). Em Portugal, e entre as Igrejas comprometidas com o movimento ecuménico, importa relançar os meios e as estruturas de diálogo e de cooperação para que o testemunho conjunto possa dar frutos nas áreas atrás referidas.

Dou graças a Deus pelo muito que no poder e na ação do Espírito Santo o movimento ecuménico, e em especial o CMI ao longo destes 70 anos, já realizou e alcançou, transformando a vida de muitos homens e mulheres e ajudando na edificação do Reino de Deus. Se percebermos a unidade como um atributo da Trindade Santa e a aceitarmos como um dom a ser vivido na ação do Espírito Santo, e a ser testemunhado no tempo presente, o Ecumenismo será uma realidade cada vez mais transformadora do mundo em que vivemos e das Igrejas a que pertencemos. Assim Deus nos ajude.

 

Fotografia: Magnus Aronson (Conselho Mundial das Igrejas)

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.