Depois de quase 120 anos como revista de cultura, a Brotéria muda-se para o Bairro Alto para ser o lugar onde as culturas urbanas contemporâneas e a fé cristã se cruzam. O novo centro cultural dos jesuítas, situado no coração de Lisboa, abre ao público hoje, quinta-feira, no antigo Palácio dos Condes de Tomar, e resulta de uma parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Durante três dias a casa ganhará vida com uma programação variada e todos estão convidados. A abertura de portas acontece hoje com uma mesa redonda sobre as relações laborais na era digital e avança para sexta-feira com uma performance e momento musical com Domenico Lancellotti no pátio, um debate sobre os novos desafios da Igreja portuguesa e o lançamento da nova edição da Brotéria agora com design do estúdio Non-verbal Club seguido de um concerto de fado. Sábado há uma proposta de meditação na cidade partindo das fotografias de José Miguel Matias do deserto Getsêmane e do Jardim das Oliveiras em Jerusalém e, por fim, a exposição Todas as Coisas, sobre a evolução da Brotéria de revista de ciências naturais até aos dias de hoje, partindo do seu arquivo centenário. A inauguração fecha com DJ set de Bill Onair.
Este é um projeto em construção há dois anos, mas que começou a ser sonhado e pensado há quase trinta pela Companhia de Jesus. A programação cultural da Brotéria parte da atenção à cidade e a quem a habita, e procurará dar voz às preocupações das pessoas. Será uma casa onde há espaço para a espontaneidade e a discussão.
“Queremos que funcione mesmo como uma casa, com uma marca forte na forma como recebemos e acolhemos todos os que passem na rua e queiram entrar.”, explica o P. Francisco Mota SJ, director geral da Brotéria, acrescentando que “o desafio está em conseguirmos criar uma dinâmica de casa, familiar, mas juntamente com todo o trabalho rigoroso que aqui vamos produzir, sejam exposições, livros, conferências, debates”.
A Brotéria tem galeria, livraria, café com pátio e salas para debates, conferências ou encontros, entre as quais se destacam dois grandes salões, ambos com tectos trabalhados e capacidade para 80 pessoas cada, e a Sala dos Couros, o ex-líbris do edifício, com paredes totalmente forradas a couro trabalhado. O edifício acolherá ainda a vasta biblioteca da comunidade jesuíta, que contém mais de 160 mil volumes que ficam, agora, mais acessíveis ao público. No último andar do edifício vive a Comunidade de Jesuítas envolvida na vida da Brotéria, composta pelos seis padres Vasco Pinto Magalhães, António Júlio Trigueiros, João Norton de Matos, Manuel Cardoso, Francisco Mota e João Sarmento.
Da investigação ao debate, da arte à espiritualidade, passando pela comunicação digital e em papel, a Brotéria reúne pessoas de áreas e sensibilidades diferentes, assim como diferentes instituições, com o desejo de gerar transformação social. Será dinamizada por uma equipa de jesuítas em colaboração com pessoas das mais variadas idades e áreas de interesse.
A Brotéria espera ser um lugar de diálogo plural, inteligente e criativo, onde o trabalho cultural tenha impacto social, seja através da sensibilização, da investigação e de publicações, e também de projectos de intervenção local. Uma casa de reflexão teológica e estética, com uma linguagem contemporânea.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.