À entrada da Terra Prometida…

O Grupo Provincial das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus parte da sua experiência comunitária para nos fazer uma proposta para viver a primeira semana da Quaresma.

O Grupo Provincial das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus parte da sua experiência comunitária para nos fazer uma proposta para viver a primeira semana da Quaresma.

A Quaresma é tempo de perscrutar o Deus que habita a nossa história, que faz o caminho da Paixão no mais humano que tem a nossa realidade e aprofundar o quanto fala à nossa vida!

O convite à oração/contemplação de Jesus neste caminho de amor e de entrega é o fio condutor que nos proporciona um dinamismo de identificação com os Seus sentimentos de misericórdia e compaixão. Ele em nada se põe fora da humanidade. Fá-lo unido à vontade do Pai que O envia.

Dás-Lhe essa centralidade na tua vida? “Tens momentos em que te colocas na Sua presença em silêncio, permaneces com Ele sem pressa e deixas-te olhar por Ele?

É graças ao mistério Pascal e com os olhos postos na Ressurreição, que somos chamadas a viver a nossa condição de crentes e a alimentar a firme certeza que a nossa vida ganha sentido na medida em que o Outro e os outros também são parte de nós.

O convite ao jejum de alimentos e de outras coisas, importantes, mas secundárias, traz leveza interior; ajuda ao esvaziamento de si mesmo e prepara-nos para viver mais centrados no essencial, abdicando do supérfluo. Ajuda a re-centrar o coração e a deixar crescer a compaixão para com os mais frágeis do nosso mundo.

Como me ofereço para que outros sejam, também por meio de mim? Como Lhe ofereço o meu barro?

O jejum é trampolim para ir mais além, abarcando tudo o que pode reduzir as fronteiras de proximidade com o outro. Ele obriga a questionar-nos sobre como usamos e gerimos os bens e o tempo que nos são dados, a fim de que o amor a Deus e aos irmãos seja mais transparente e suplante os interesses demasiado pessoais.

O convite à esmola, coloca-nos no caminho dos pobres, com os quais partilhamos o que somos e temos; o seu verdadeiro sentido acontece quando é expressão de amor e gera comunhão. Neste contexto, a esmola ainda que num primeiro momento pretenda suprir uma necessidade, ganha densidade quando promove autonomia e dignidade.

Será que eu, como a viúva do Evangelho “dou tudo o que tenho” (Lc 21, 2), partilho tudo o que sou e me confio a Ele, na certeza de que é Ele o único tesouro?

Aqui nasce a forma mais prática e operativa da caridade, quando se dá aos outros mais lugar na nossa vida e, partilhando, se coloca ao serviço recursos pessoais ou económicos, como sendo bens de todos. Como comunidade, por aqui passa o amor a Deus que se concretiza na entrega gratuita às irmãs da comunidade, e aos doentes ou grupo de pessoas cujo grito ecoa no nosso coração, desafiando-nos a minorar os efeitos da exclusão ou da pobreza de que são vítimas.

O segredo da conversão reside em deixar-nos tocar por Ele, naquelas feridas que nos retraem e paralisam, ficando assim aberta a possibilidade de renascermos para uma resposta mais consciente, mais livre e gratuita a Deus como consagradas e como Hospitaleiras.

Aceito que verdadeiramente me restaure? Aceito verdadeiramente essa fadiga de fazer diferente daquilo que me agrada? De fazer como Ele me chama realmente a fazer? Aceito segui-l’O e fazer como Ele fez e como Ele faz comigo, hoje?

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.