A Província Portuguesa da Companhia de Jesus contará, a partir deste sábado, com dois novos diáconos. Os jesuítas João Sarmento e Nelson Faria foram admitidos às ordens sagradas e serão ordenados diáconos amanhã, dia 9 de fevereiro, em Madrid, onde estão atualmente a estudar. A celebração, que contará com a presença do provincial dos jesuítas portugueses, P. José Frazão Correia, será presidida pelo Cardeal Carlos Osoro, Arcebispo de Madrid, às 18.00, na Paróquia de São Francisco Xavier, no foram bairro da Ventilla.
João Sarmento tem 31 anos, e é do Porto. Entrou para a Companhia em 2008. Está atualmente em Espanha.
Neste texto, fala-nos um pouco sobre o seu percurso:
“Nasci no outono de 1987 na cidade do Porto. Cresci numa família de oito irmãos e muitos primos. Vivíamos todos na mesma rua com a casa da avó e os domingos como centro dos encontros.
Depois de anos de colégios e escolas, acabei por chegar aos estudos artísticos na Escola Soares dos Reis, seguido das Belas Artes do Porto. Durante estes tempos de esculturas e de muitos desenhos, estive implicado na paróquia dos Dehonianos, Nossa Senhora da Boavista (Foco), nos centros de formação do Opus Dei (o Vega Club) e no projecto Rabo de Peixe Sabe Sonhar, obra social dos centros universitários dos jesuítas. Em todas estas “redes” fui encontrando a espiritualidade dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, juntamente com a importância de estar disponível para amar e servir as realidades mais desafiantes.
Acompanhado num processo de discernimento, entrei no Noviciado do Santíssimo Nome de Jesus, em Cernache, em setembro de 2008, entrando assim na lenta formação de jesuíta, com todas as suas etapas, lugares e pessoas.
Agora, depois de dois anos de noviciado, três de estudos de filosofia em Braga, três de Magistério no Porto e mais três de estudos teológicos entre Roma e Madrid, chegou o momento em que a Igreja e a Companhia de Jesus decidiram ordenar-me diácono, com vista ao sacerdócio. Para que possa seguir a minha formação de jesuíta, estando ao serviço, segundo a vocação específica que me vem sendo dada.”
Nelson Faria tem 36 anos, é de Lisboa e entrou na Companhia em 2009. Está atualmente em Espanha.
Aqui fica a sua apresentação:
“O mais importante já sabe: sou católico, jesuíta, e serei ordenado diácono em breve. Mas há mais: cresci num bairro da Amadora, num ambiente extraordinário de mescla de pessoas e culturas; aprecio bons livros, e ainda mais uma boa discussão. Vivo em Madrid, onde estudo teologia e partilho vida com jesuítas de mais de três dezenas de países diferentes e seis continentes.
Batizado no dia de Santo António, deixei de crer durante a adolescência. Fui ateu, até conhecer o relativismo a que me conduzia. Flirtei com o comunismo, até conhecer as façanhas da União Soviética e dos seus satélites. Dediquei-me apaixonadamente à política, até cair na conta que a mudança não vem só por políticas, mas sim pela mão de santos. O santo, pecador em caminho, aponta o que está por vir plenamente. O santo precisa de um modelo, e o único modelo digno de fé é o Deus encarnado. É este Deus, o de Jesus Cristo, que me leva a arriscar uma peregrinação que não sei onde me leva.
Antes da Companhia percorri os corredores da Faculdade de Direito de Lisboa. E não podia estar mais feliz nessa faculdade de direito alfacinha, que nos permitia encontrar à mesma mesa toda a variedade de ideologias e crenças: de anarcas a fascistas, de ateus militantes a católicos empedernidos. Rapidamente me envolvi no associativismo, e algum tempo depois na militância partidária (PSD-JSD).
Pouco a pouco, o tema “valores” foi-se tornando cada vez mais importante. E a minha visão da moral, até aí utilitarista, pela mão de Bento XVI cai diante da consistência e da beleza da proposta católica. Inicialmente a contragosto, abre-se a porta da fé. E quando encontro os jesuítas concretiza-se o que buscava: uma proposta espiritualmente profunda e intelectualmente potente.
A vida na Companhia de Jesus permitiu-me ver o que é amar até ao limite com o Pe. Carlos Carneiro, a integrar vida intelectual e vida espiritual com o Pe. José Frazão, a estar atento aos outros com o Ir. Adão, e a viver a amizade na missão no Colégio das Caldinhas.
Neste momento, saboreio uma graça particular: vivo cada missa como um novo batismo em Cristo, em que toda a graça acolhida se torna palpável, e onde me alcança um vislumbre da muita graça por acolher no tempo que está por vir. Em cada Eucaristia, tenho experimentado como toda a Igreja deseja comprometer-se na construção do Reino, como ela se reúne e suplica ao Senhor que Ele se dê, e que a todos e tudo santifique. Vivo a Missa como o mais efetivo, o mais necessário, e o mais belo.
Reze por mim; eu estou a rezar por si.”