Venezuela: jesuítas condenam situação e reforçam acolhimento aos migrantes

Jesuítas da região denunciam gravidade da crise política, social e económica que assola país. Condenam manipulação do poder político e dizem-se disponíveis para ajudar a encontrar alternativas políticas que resgatem a dignidade do povo.

Os jesuítas da América Latina e do Caribe condenam a situação política e social que se vive na Venezuela e afirmam-se empenhados em ajudar a encontrar, juntamente com outras organizações, “alternativas políticas e de serviço que resgatem a centralidade e a dignidade inalienável de cada ser humano”. No final de um encontro realizado entre 4 e 6 de março, convocado pela Conferência dos Provinciais jesuítas da América Latina e do Caribe (CPAL) para analisar a situação política, social, económica e geoestratégica da Venezuela, e procurar alternativas à crise atual, os jesuítas denunciaram a gravíssima situação em que se encontram os venezuelanos e condenaram “qualquer manipulação do poder político que procure impor uma ordem que não reconhece a oposição, a pluralidade, os direitos coletivos dos povos e as liberdades civis e políticas”.

No comunicado emitido na semana passada, os 51 participantes nesta reunião que juntou leigos e religiosos, reconheceram que na Venezuela há “um povo que passa fome, que não tem onde receber cuidados médicos, que não tem o mínimo de serviços públicos, que sobrevive apesar do valor irrisório do rendimento que recebe; um povo que é perseguido quando protesta, que vive inúmeras formas de controlo social e político, com um governo agora questionado na sua legalidade e cada vez mais totalitário, que foi cooptado por um pequeno grupo de interesses corporativistas e que esbanjou escandalosamente a riqueza do país”.

“Há um povo que passa fome, que não tem onde receber cuidados médicos, que não tem o mínimo de serviços públicos, que sobrevive apesar do valor irrisório do rendimento que recebe; um povo que é perseguido quando protesta, que vive inúmeras formas de controlo social e político, com um governo agora questionado na sua legalidade e cada vez mais totalitário, que foi cooptado por um pequeno grupo de interesses corporativistas e que esbanjou escandalosamente a riqueza do país”.

Perante este cenário, que vai sendo percepcionado através dos milhares de migrantes que cruzam a fronteira e são acolhidos nos países vizinhos, os jesuítas reafirmam a sua total rejeição “de todas as formas de violação dos direitos direitos humanos”. E mostram-se disponíveis para “apoiar e fortalecer o serviço e atenção aos migrantes venezuelanos” que cheguem aos seus países, porque não só porque reconhecem o seu drama, mas também porque valorizam “a riqueza que trazem às sociedades que os acolhem”. Comprometem-se ainda a promover, de várias formas, uma compreensão cada vez mais completa da realidade venezuelana através do trabalho de pesquisa, publicação, divulgação, ensino e formação que se realiza nos seus serviços apostólicos para “ajudar a reduzir a desinformação, os preconceitos e a polarização que existe na opinião pública e ajudar a gerar uma solidariedade autêntica.”

Jesuítas mostram-se disponíveis para “apoiar e fortalecer o serviço e atenção aos migrantes venezuelanos” que cheguem aos seus países.

Alertam ainda que a ajuda necessária para a solução dos problemas atuais da Venezuela exige que as medidas de pressão que sejam exercidas a partir do exterior sejam concebidas de forma a não causarem mais danos a quem sofre e é afetado pelo erro que se destina a corrigir. “Eticamente não é certo nem bom lutar contra um mal com outro mal, o que significa piorar a situação de miséria, exclusão e exploração dos povos, especialmente dos pobres e indefesos”, lê-se no comunicado.

Com esta tomada de posição conjunta, os jesuítas subscreveram a posição já assumida em janeiro pela Assembleia Plenária da Conferência Episcopal da Venezuela, que afirmou que o país vive “um regime sem respeito pelas garantias previstas pela Constituição e pelos mais altos princípios da dignidade do povo”. Nesta comunicação pública, os bispos consideraram ainda que na atual crise política, social e económica, “a Assembleia Nacional, eleita pelo voto livre e democrático dos venezuelanos, atualmente é o único órgão de poder público com legitimidade para exercer plenamente as suas competências”.