Na manhã de 24 de abril, em Roma, o P. Arturo Sosa, Superior Geral da Companhia de Jesus, dirigiu-se à Imprensa internacional numa conferência marcada pelo tom de gratidão, admiração e esperança. A poucos dias do início do conclave que elegerá o sucessor de Pedro, o líder dos jesuítas falou ao mundo sobre a partida do Papa Francisco, sublinhando a profundidade espiritual, o estilo sinodal e o impacto humano do seu pontificado.
“Viu guardar a memória do Papa Francisco como um homem de Deus”, afirmou o P. Sosa, acrescentando que a motivação profunda do Papa foi sempre “colocar em prática a vontade de Deus” e contribuir para a transformação da humanidade, “para fazer deste mundo uma casa digna para todos os seres humanos”. O P. Arturo destacou a coragem de Francisco em tomar decisões difíceis, mesmo quando isso implicava desagradas a muitos: “Ele sabia que a sua ação e decisão não agradava a todos. O importante era escutar, dialogar com a complexidade da realidade, discernir o que era melhor em cada momento na sua oração e familiaridade com o Senhor.”
Interpelado pelo escritor Austen Ivereigh sobre o lugar do discernimento no pontificado de Francisco, o Superior Geral respondeu com clareza: “O discernimento não é exclusivo do Papa Francisco, é a disponibilidade para ouvir a vontade de Deus.” Sublinhou ainda que o Papa “foi um homem de oração” e que esse estilo espiritual influenciou diretamente o caminho sinodal iniciado na Igreja. Foi também um “Papa de surpresas” – sendo o discernimento central na sua vida, “para dar passos na direção certa”.
Sobre a personalidade do Papa, revelou traços de humildade e fraternidade: “Era uma pessoa normal, sobretudo entre irmãos jesuítas. Escutava com atenção e não tinha medo do desacordo.”
Quanto ao seu legado, afirmou que Francisco não foi um reformador isolado, mas um pastor fiel às reformas iniciadas no Concílio Vaticano II. E deixou claro que “o conclave não se reúne para eleger o sucessor de Francisco, mas o sucessor de Pedro”.
O Papa Francisco “pôs o Evangelho em primeiro lugar”, concluiu o Superior Geral. “A sua vida, os seus gestos ajudaram os jesuítas a ver a vida de uma forma mais evangélica.” Também as Preferências Apostólicas Universais da Companhia de Jesus – que orientam a missão dos jesuítas de todo o mundo – foram profundamente marcadas pelo pontificado de Francisco. “O Papa destacou que o essencial nestas preferências é o encontro e a experiência de cada pessoa com Deus.” Recordou também um encontro marcante em 2016, onde o Papa convidou os jesuítas a rezar pela consolação, “pedindo a Deus a consolação no Evangelho”, E não hesitou em repetir a mensagem mais urgente que Francisco deixou ao mundo: “Paz. Paz. Paz. O Papa deixou bem claro que o mundo precisa de paz. E a paz é construída por nós.”
A conferência está disponível na íntegra.