Ser Cristão: “É no tempo concreto em que vivemos que temos de seguir Jesus.”

A CVX da Beira Interior (CVX-BI) organizou uma conversa com o P. José Frazão Correia sj, provincial dos Jesuítas, que abordou questões sobre a vivência da fé no dia-a-dia.

O P. José Frazão Correia, provincial dos Jesuítas em Portugal, esteve recentemente na Covilhã para visitar a Comunidade de Jesuítas que ali vive e para contactar com a toda a atividade desenvolvida pela Companhia de Jesus naquela cidade.

A Comunidade de Vida Cristã da Beira interior (CVX-BI) aproveitou a ocasião e desafiou o Provincial dos Jesuítas para uma conversa com os seus membros e aberta a todas as pessoas que desejaram participar nesse momento. O encontro teve como título “Conversas Traçadas – Ser Cristão, hoje!” e decorreu na Paróquia de São Pedro da Covilhã no dia 13 de maio.

O formato escolhido para este evento foi o de uma conversa informal em forma de entrevista. A entrevista foi conduzida por Isabel Fael da CVX-BI. As perguntas foram previamente recolhidas por email entre os membros da CVX-BI, procurando-se assim ir ao encontro das suas inquietações.

A conversa começou com a apresentação do P. José Frazão sj, partindo do testemunho de muitos que o conhecem e o têm acompanhado desde o tempo em que foi colaborador da Paróquia na qual decorreu o encontro. Assim foi possível falar da vida do P. José como “uma vida de oração (vivida), cheia de Deus que, de forma humilde, toca e enche a vida de todos com o seu cuidado de a fazer querida, abraçada e rezada.” De acordo com o testemunho da CVX Maranathá: “O P. José vê para além do olhar… preza pela autenticidade e gera fecundidade. Revela coerência no que diz e faz, na forma como concretiza a palavra: nos gestos e nas atitudes. “

Depois da apresentação seguiu-se a conversa.

Ainda antes da primeira pergunta, o P. José Frazão recordou o desafio e a pertinência do tema – Ser Cristão, hoje! O provincial explicou que, no fundo, o tema é uma redundância “porque não se é cristão fora do presente, e é no tempo real e concreto que nos é dado viver que temos de seguir Jesus e ser sal e luz no mundo atual, diversificado, plural, dinâmico e cheio de solicitações.”

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Participantes na conversa - Foto de CVX-BI

Feita a introdução surge então a primeira questão: Quem diz que é Jesus, para si?

De forma apaixonada, o provincial foi respondendo à questão e com humildade e graça, rematou: “Eu não sou, sem Jesus Cristo.” Explicou que, sendo de Deus, é nessa pertença que treina o seu olhar e conduz a sua vida. Assim, ousa perceber que sede(s) há, que precisam de ser saciadas: nos adolescentes, nos jovens, naqueles que aderem a Cristo e naqueles que ainda não O conhecem. Só assim se pode “adequar a linguagem e, nesta tensão entre gestos e palavras, tornar fecundo o nosso tempo presente’ para que haja proximidade e encontro.”

A pergunta seguinte foi igualmente provocadora: Como se pode permanecer fiel à palavra de Deus, quando o mundo impõe outro viver? Quais as formas práticas de ser cristão na vida quotidiana?

Na resposta o P. José Frazão recordou que “é na autenticidade que somos testemunhas. Estamos no mundo, mas não somos do mundo, não podemos ser mundanos. Perceber que não nos devemos preocupar com os números, mas dar corpo ao Sal e ao Fermento. Em poucas quantidades, para dar sabor e fazer crescer a massa. O fermento é sempre uma porção pequena, o fermento não é um quilo. É uma porçãozinha pequenina, porque se o fermento for tão grande como a farinha, aquilo não dá pão.” E continuou: “É preciso olharmos para o Evangelho com olhos de ver e percebermos por que é que Jesus utilizou estes exemplos e não outros. Sal e Fermento, o que faz a diferença, uma pequena porção, uma minoria. Não tenhamos medo de ser poucos. Preocupemo-nos, sim, se o sal perder o sabor e se o fermento perder a virtude de fermentar.” Para nos ajudar a perceber se estamos a ser sal e fermento: “Há uma proposta para fazer, no final de cada dia, o Exame de Consciência (ferramenta da Espiritualidade Inaciana) e perguntar ‘Senhor, o que é que queres de mim? O que é que eu posso fazer por Ti? O que posso fazer pelo Teu Reino? Como mãe, pai, filho, neto, jardineiro, professor, padre…?’ Para que cada um possa Sê-lo, amanhã! Não no ideal, no salvar o mundo inteiro, mas nos pequenos milagres, amando aquele que me está sempre a pisar os calos.”

“O cristão não deve assumir a atitude de falar sem estabelecer comunicação. “

P. José Frazão Correia, sj

A pergunta seguinte trazia a marca da atualidade: Como ser cristão em debates como os da eutanásia e da mudança de género?

O cristão não deve assumir a atitude de falar sem estabelecer comunicação. É preciso dar lugar a diálogos francos e recordar o olhar convertido que decorre do Evangelho. É preciso lembrar que não somos um exército e que não estamos atrás de uma barricada. São temas difíceis, mas devemos procurar conversar serenamente, pondo sobre a mesa as diferenças de entendimento sobre as coisas, acreditando que assim se pode dar lugar à revelação do que é mais verdadeiro.

A pergunta final trouxe à conversa o modo como os cristãos se podem relacionar com quem tem diferentes perspectivas de vida. Relativamente a outras pertenças religiosas (judeu, muçulmano, hinduista, budista, confucionionista, agnóstico, etc.) «ser cristão» inclui ou exclui?

Inclui, sempre! Eu não posso ser cristão sem aquele que não o é, não nos podemos compreender sem aqueles a quem Jesus, também deu a Vida. ‘O Senhor não quis Ser sem todos.’

No final da conversa o P. José Frazão Correia sj agradeceu e pediu que: “continuássemos de forma franca e construtiva a conversar para sermos fecundos e testemunhas da pertença a Deus.

 

Foto de destaque: Igreja Paroquial de São Pedro da Covilhã – João Ferrand