Sá Carneiro e Amália na Brotéria de julho

Nova edição da revista dos Jesuítas aborda ainda o contexto e as questões deixadas pela pandemia, bem como o tema em torno do P. António Vieira. A apresentação presencial da mesma terá lugar na Brotéria no dia 30.

Acompanhando a onda de revisionismo histórico a que estamos a assistir e que se tem exprimido de muitos modos, alguns extremados, num juízo frequentemente descontextualizado sobre figuras e instituições de incontornável importância histórica, o editorial propõe critérios que ajudam a uma leitura desapaixonada da História e dos seus protagonistas.

Na secção de Atualidade cruzam-se dois olhares: um olhar sobre as políticas culturais praticadas na Europa em tempo de pandemia, da autoria de Miguel Magalhães. O exemplo de assertividade do governo alemão, as medidas implementadas em França e a situação e possibilidades de Portugal (tendo em conta a limitação de recursos disponíveis) são aqui alvo de análise, na tentativa de responder à pergunta que políticas culturais para o “dia seguinte”? O outro olhar, de José Eduardo Franco, sobre a obra do P. António Vieira, cuja figura tem sido recentemente alvo de uma desajustada polémica. O ensaio apresenta uma anatomia da inveja e uma psicologia dos invejosos na obra parenética daquele a quem Fernando Pessoa chamou o imperador da língua portuguesa.

A secção de Sociedade e Política apresenta dois ensaios: o primeiro de Maria João Avillez, sobre a figura do político Francisco de Sá Carneiro. Não quis ser um santo, não foi um herói, não é um mito, não foi sequer um político consensual, ou um chefe permanentemente amado, nem um homem livre de controvérsia, afirma a sua biógrafa. O segundo, de Nuno Cardoso da Silva, reflete sobre o problema da criação de uma união política na Europa, concluindo que basta rever o projeto consubstanciado no Plano Fouchet para se perceber que uma união política seria possível sem o caráter e os problemas da solução federal que muitos advogam.

Na secção de Religião, Pedro Vaz Patto apresenta a Declaração de Abu Dhabi como potencial geradora de uma aliança entre cristãos e muçulmanos que acreditam na paz, na fraternidade universal e na liberdade religiosa, rejeitando qualquer instrumentalização da religião para justificar a violência. Por seu turno, Luís Ferreira do Amaral reflete, em tempos de pandemia, sobre as questões teológicas que se levantam: será a Covid-19 uma espécie de punição ou castigo enviado por Deus? Ou será simplesmente mais um exemplo da destruição que as forças cegas da Natureza podem causar no nosso mundo? De uma forma ou de outra, como poderá Deus permitir tal situação?

Entre Religião e Ecologia, Vasco Pinto de Magalhães apresenta a surpreendente novidade da exortação Querida Amazónia, como um autêntico tratado sobre o segredo da evangelização, que, para o Papa Francisco, reside numa verdadeira inculturação e no consequente diálogo intercultural.

Na secção de Artes e Letras cruza-se Camões com o Fado. O texto de José Carlos Seabra Pereira, faz uma digressão pela lírica camoniana, que reativou com novo alcance o tópico clássico «todo o mundo é feito de mudança». Cátia Tuna, num ensaio oportuno, neste mês em que se celebra o centenário do nascimento de Amália, procura atender às dimensões religiosas do Fado em diversos âmbitos, designadamente no seu contexto, na sua poética, na sua performance e na sua mundividência.

O caderno cultural deste volume foi reformulado. Numa primeira parte, para além do Legómena, e de textos de divulgação de património, passámos a incluir uma nova rubrica intitulada ‘Ágora’ que se destina a publicar textos de opinião sobre artes e artistas, seguido de um Ensaio Visual. A segunda parte, assinalada por um tratamento gráfico em duas colunas, destina-se exclusivamente a textos de crítica de cinema, teatro, séries, música, exposições e recensões de livros. O caderno encerra com a secção ‘Na Brotéria’, para divulgação dos eventos promovidos na nossa casa da Brotéria.

Boa leitura!