A Brotéria de abril abre com dois artigos sobre a pandemia da COVID-19: Jorge Buescu analisa os números da evolução da epidemia no nosso país, procurando distanciar-se da espuma dos dias e levanta várias questões pós-covidicas: Como nos vamos reinventar e reestruturar? Estaremos à beira de uma Grande Depressão global que dure anos ou, pelo contrário, de uma recessão da qual podemos esperar recuperar quase totalmente, digamos, até ao final de 2020? José Tolentino Mendonça, por seu turno, refletindo sobre as limitações e potencialidades do momento presente, reitera que entre a calamidade e a graça o que vemos à partida são sobretudo as diferenças, duas linhas paralelas que parecem destinadas a nunca coincidir. Porém, somos desafiados a encontrar e a construir interceções entre ambas, repensando, para lá do previsível, o que pode ser um diálogo não só necessário, mas também fecundo.
Ainda sob o signo da pandemia da COVID-19, Francisco Ferreira, a propósito da crise dos transportes aéreos motivada pelo novo coronavírus, considera que basear demasiado uma economia em setores como o turismo é um risco muito elevado, dado que todas as atividades associadas são arrastadas para uma crise em cadeia e de grandes dimensões. De igual modo, Ana Carrilho num texto sobre sindicalismo, observa que se prevê que a pandemia COVID-19 seja responsável por uma perda de postos de trabalho que se situa entre os 5,3 milhões – no cenário mais favorável – e os 25 milhões, no pior, pelo que os sindicatos se já tinham muitos desafios pela frente com as novas formas de trabalho, em muitos casos, completamente à margem da legislação laboral, defrontam-se agora com situações que exigem mais ação e eficácia na defesa dos direitos dos trabalhadores.
À margem destas temáticas, dois ensaios deslocam o nosso olhar para outras geografias. O primeiro, de Teresa Nogueira Pinto, para a estratégia de parceria entre a UE e África, num quadro em que os desafios do crescimento sustentável e inclusivo, das migrações e do combate às alterações climáticas assumem um papel fundamental para os dois espaços, que não descure a atenção aos seus protagonistas e ao contexto global onde agora se movem. O segundo, de Paulo Afonso Brardo Duarte, pretende sublinhar a singularidade de Portugal, apontado como case-study na UE face ao pragmatismo frente à Faixa e Rota Chinesa.
Seguem-se três ensaios na secção de religião, Profetas para o nosso tempo, de Maria Luísa Ribeiro Ferreira; O lugar da palavra de Deus, de Miguel Rodrigues, e um conjunto de apotegmas para uma cultura que humaniza e nos transcende de Vasco Pinto de Magalhães SJ, intitulado Do Deserto ao jardim. Na secção Artes e Letras, José Souto de Moura evoca o grande pintor Rafael e o seu último quadro, no mês em que se completam seiscentos anos sobre a sua morte.
O Caderno Cultural, para além das propostas habituais de leitura, teatro, cinema, exposições e música apresenta algumas sugestões para dias de confinamento, que vão desde a apresentação de uma lista de filmes ambientados em realidades confinadas, de Guilherme Branquinho, às habituais recensões de séries e às duas sessões performativas do Aos Vossos lugares, propostas pela Brotéria para estes tempos peculiares.