Hoje, dia 13 de março, vivemos mais um dia do caminho da Esperança: da Quaresma até à Páscoa. É também o dia de rescaldo após o RAIO: Reunião de animadores interessados em ordenar-se.
Foram dias de grande consolação: de testemunho, amizade, unidade e comunidade; de (re)encontro de uma família tão bonita com várias gerações, com quem tanto tenho crescido e que afeta profundamente e transversalmente a minha vida e o meu olhar para as relações humanas. Isto porque os Gambozinos não é algo a que se “vai”, mas algo que se É ou se procura ser.
No entanto, na correria do dia a dia, há a tendência de se tornar algo que me é externo, como se fosse mais um compromisso na check list. Daí a importância deste fim de semana: foi um voltar à fonte; um reacender de uma missão que nasce e se alimenta da oração (caso contrário, pode cair num voluntarismo) e de um olhar diferente para a humanidade; o renovar de um SIM e o recentrar o coração no que de facto é necessário.
Mas, pessoalmente, foram também dias muito intensos. Não só por algumas preocupações com a preparação e concretização do fim de semana, mas também por dúvidas e incertezas que vieram ao de cima e que me inquietaram em alguns momentos de oração e em conversas importantes que foram surgindo com alguns gambozinos.
Uma imagem muito bonita destes dias foi precisamente uma que conheci na capela da CASA de Santo Afonso em Cernache (local do fim de semana). No retábulo tão colorido, eis que surge, no canto direito, um pedaço negro. No centro dessa escuridão, surgiu ainda uma esfera dourada luminosa: a “luz terna e suave no meio da noite”; aquela que, na incerteza, na dor, na tristeza, na solidão, no vazio, no pecado, “apaga a noite em mim”.
“É assim o coração de Deus: próximo de quem sofre; não faz desaparecer o mal e o sofrimento mas transforma-o habitando n’Ele”- Papa Francisco
Há uns anos uma amiga perguntou-me qual era o sentido do sofrimento, se Cristo já tinha sofrido tanto por nós? Os anos passaram, e hoje percebo que não é por sermos cristãos que a cruz, o sofrimento, a injustiça e as dúvidas, por muito que nos custem ou revoltem, não vão deixar de magicamente ser uma realidade nas nossas vidas e na dos outros.
Compreender isto é importante também para compreender a missão dos Gambozinos. Nas palavras de uma Gambozina Dinossaura, que agora faço minhas, não se trata de salvar ou mudar radicalmente vidas, isso seria um peso e uma frustração gigante. Será antes dar tempo e espaço para criar relações, construir pontes com outros irmãos iguais a mim, que como eu riem, choram, alegram-se e sofrem.
A cruz, seja ela qual for, é uma realidade muitas vezes demasiado dura para que alguma vez a possamos compreender. Podemos revoltar-nos, fugir dela, tornando-a ainda mais pesada…ou podemos rezar a mesma oração de Jesus no monte das Oliveiras e, num salto de fé no Pai, beber o cálice, abraçá-la, entregá-la por amor, tornando-a mais leve, a nossa e a dos outros, como Jesus se entregou na Sua por nós.
“No limiar da vida, não se trata do que ganhamos, mas o que demos: o dom de si mesmo, do serviço. Servir custa, porque significa gastar-se, consumir-se; mas, quem guarda demais a sua vida, perde-a”.
E que bonito saber que “há uma festa no céu” cada vez que ofereço a minha vida, que me coloco nas mãos d’Ele e aceito ser seu instrumento; cada vez que venço a minha autossuficiência e regresso à casa do Pai; cada dia em que Lhe entrego o meu sim, com tudo o que tenho e sou, simplificando-me.
Por muito que me sinta pequenina ou que me custe, Ele faz mesmo maravilhas com a vida de cada um e encarrega-se dos frutos muitas vezes imensuráveis e invisíveis aos nossos olhos.
A meu ver, é isto a Esperança! Não um otimismo vazio e irrealista de que vai correr tudo bem… Mas sim a certeza de que, mesmo quando tudo corre mal e nos deparamos com a Cruz e a incerteza do caminho a escolher/ para onde somos chamados, não estamos sozinhos.
Primeiro, porque Ele vive e vem sempre ao nosso encontro; e segundo, porque há por aí muito Simão de Cirene por aí disposto a partilhar e a tornar mais leve a nossa Cruz, e eu tenho a graça de lhes chamar, além de amigos e irmãos, Gambozinos.
Ana Lisete Miranda