Depois de muitos e bons anos como membro presente desta nobre associação, percebi que a melhor maneira de desenvolver os meus talentos (que os gambozinos tanto me ajudaram a descobrir e cuidar), e de os pôr a render, talvez estivesse noutra cidade e noutro país. Assim me lancei à aventura, triste por ainda ninguém ter inventado um meio de teletransporte que me permitisse estudar em Londres e caçar gambozinos ao fim de semana. Escolher entre coisas boas é mesmo difícil!
Foi assim que descobri que o mundo precisa mesmo de nós. As diferenças que parecem incompatíveis, os mundos que nunca se cruzam, existem em muitos lados. Noto muito esse choque de mundos no meu dia-a-dia. A minha universidade é uma das mais internacionais do mundo, e inevitavelmente dou por mim a conviver com culturas e costumes que me são alheias. E tanto que tenho aprendido! Infelizmente, ainda há alguma tendência a que se formem grupos por país, raça ou classe social. E é aí que fazem falta os valores dos gambozinos. É preciso quem olhe para os que são diferentes como potenciais amigos, que esteja atento às suas necessidades e pronto a construir pontes.
Tive também a alegria de descobrir que não estamos sozinhos! O sonho de coesão social e de quebrar as barreiras da diferença ultrapassa-nos. Há muitos gambozinos por aí. Alguns são daqueles camuflados, que, sem estarem organizados nem identificados, não deixam de ser exemplares no serviço. Arriscaria dizer que há muitos gambozinos que não acreditam n’O Gambozino, ou antes que até acreditam mas ainda não sabem. E depois há muitos gambozinos em associações que, de maneiras diversas, trabalham para a mesma missão. Por exemplo, neste momento trabalho com um grupo que quer aumentar a diversidade socioeconómica na minha universidade, e para isso damos explicações e apoio personalizado a alunos de bairros desfavorecidos. Sinceramente, só faltava um “Bom-dia, Senhor” para me sentir de volta a casa!
Tenho continuado a ajudar à distância, naquilo que me é possível, e por isso sou uma sortuda. Move-me a lealdade e a vontade de retribuir tanto bem recebido, mas é uma grande consolação perceber que, mesmo longe, posso continuar a ser gambozina no sítio onde vivo, na universidade onde estudo, e no local em que trabalho. Podia ser gambozina em Braga, em Londres ou em qualquer outro local do mundo. Porque ser gambozina é um modo de vida. Como dizemos sempre no fim dos campos, a parte fácil acabou, agora é altura de ir pelo mundo e fazer o mesmo!
Maria Portela