Gambozinos: Amantes furiosos; Fiéis ao romance
Os Gambozinos são um grupo de super-heróis que acreditam que os problemas desta civilização terrivelmente equivocada podem ser resolvidos. Eles propõem-se a devolver o Reino aos homens, a encontrar os lugares de Deus no Mundo e a fazer deles morada de todos.
A sua brava dança acontece desta maneira:
Oferecer a todos a possibilidade de um desenvolvimento pessoal, espiritual e humano, através de uma experiência de relação e comunidade que destrói as muralhas sociais e ergue pontes entre margens separadas pelo preconceito, pelo medo, pela indiferença, pela ignorância, pelo mundo. É precisamente este o trabalho de engenharia que distingue os Gambozinos de outro grupo de cariz social.
Estas margens sociais dividem-se por bairros carenciados em Peniche, Braga e Pragal, e pela generalidade da classe média alta de Lisboa, Porto, Coimbra e o resto do País. O desafio assenta no crescimento, fundamentado na espiritualidade inaciana, destas crianças e adolescentes de tal maneira que os muros caiam e surjam possibilidades de relação. Como numa canção do Paulinho Moska, na qual a certa altura o Chico César canta “Todos somos filhos de Deus, só não falamos a mesma língua”.
Há uma intuição fundamental que o projeto é uma coisa assimétrica: o Gambozino é um híbrido, um mestiço, alguma coisa nova que surge da união de partes diferentes, muito diferentes: na cultura, nas raízes, na pronúncia, no desenvolvimento intelectual, na conta bancária, na educação, nos horizontes.
Os Gambozinos exigem, também, uma aliança entre os Animadores e o sonho – do trabalho anual com os núcleos regionais, à experiência privilegiada de relação que são os Campos de Férias no Verão.
É na recusa dos Gambozinos como apenas movimento de campos de férias que são abertas as janelas de uma ideia de família. Ao assumi-lo como uma opção de vida, dizemos que não ficamos satisfeitos com a recordação e queremos, exigimos de nós próprios uma entrega incondicional a esta missão. Cada um à sua maneira, tentando compreender os desafios e de que maneira pode servir o outro, de que maneira pode levar o outro ao lugar de Deus.
Parece-me que, de alguma maneira, como numa história, os Gambozinos têm, também, um princípio, um meio e um fim. E estes têm nome, têm figuras muito concretas que os representam.
O princípio traduz-se em Santo Inácio de Loyola: o Risco, a Visão, a Coragem – erguer a cruz como uma espada e levar por diante um sonho, aparentemente, impossível, conseguindo vislumbrar, para lá dos nevoeiros, uma possibilidade criativa e necessária de recuperar Deus para os seus filhos;
O meio é São Francisco Xavier: a Paixão, a Compreensão, a Conquista – tal como o Santo Padroeiro dos Gambozinos, também nós nos aventuramos no mar alto das relações humanas. Tal como ele, também nós temos necessidade de procurar a melhor maneira de levar por diante estes objetivos. No Japão, Xavier compreendeu que a melhor maneira de ser aceite na corte do Imperador seria mostrando alguma da avançada tecnologia europeia, uma apresentação formal e cuidada. Também nós vamos percebendo que a melhor maneira de conquistar as realidades mais distantes da nossa vivência passa por compreendê-las para as poder conquistar, e quem diz realidades diz o outro. Este talvez seja um dos grandes desafios dos Gambozinos, o apuramento da sensibilidade. Só assim é possível discernir qual o método para mostrar os lugares de Deus no Mundo a um núcleo, a três rapazes, a uma família, a um bairro, a uma rapariga…;
O fim é o Reino.
Manuel Barbosa de Matos,
Um desses amantes