Saber parar e recentrar

Saber parar e recentrar

Os animadores dos gambozinos chegam de todos os lados, de todas as idades e de todas as realidades. Uns já trabalham, outros estão na faculdade, uns quase a reformarem-se disto que é animar, outros frescos, prontos para a sua primeira atividade. Aqui nada disso interessa, apenas o seu “sim”, basta. Mas rapidamente se percebe que nestas velocidades diferentes de movimentação do espírito, há que ter tempo para parar, recentrar e perceber em concreto, o que é isto que ando aqui a fazer e para que fui chamado. Este convite a fazermos parte dos gambozinos e, em concreto, de um núcleo, não só nos torna dignos de lá estarmos, pois foi Ele que nos escolheu e nos enviou, como também traz consigo a responsabilidade de estarmos inteiros e não só a ocupar mais uma tarde de sexta-feira.

Neste sentido, os núcleos fazem um serão de formação que se pode limitar a uma tarde ou estender por um fim de semana inteiro, conforme o mais indicado. Este mês, todos os núcleos tiveram o seu serão de formação. Neste, todos são chamados a estar, independentemente da quantidade de campos que já animaram, pois serve para reordenar os corações e também para ambientar os novos animadores. A cereja no topo do bolo é quando o serão termina no bairro, o que dá para alguns animadores matarem saudades dos gambozinos que já não vêm desde o verão e para outros conhecerem os gambozinos que vão animar e as suas famílias, que acabam por também fazer parte.

Sempre ouvi dizer que quem vai sozinho vai depressa, mas que quem vai acompanhado vai mais longe. E, nos gambozinos, temos ido muito longe.

 

Alice Burguete

Fui eu que te escolhi e te enviei

Fui eu que te escolhi e te enviei

Os Gambozinos escolheram como linhas de força para nos guiarem ao longo do ano uma frase tirada do Evangelho de S. João (Jo 15,16): “Fui Eu que te escolhi e te enviei”. Esta frase é dita por Jesus no contexto da Última Ceia, quando estava prestes a entregar a Sua vida, no maior gesto de amor. É fácil de perceber que palavras ditas em tal contexto têm um peso enorme; no fundo, são a vida de Jesus condensada em palavras.

Neste texto – Jo 15,1-17 – Jesus começa por nos dizer para permanecermos n’Ele, como os ramos permanecem ligados à videira. Era muito bom que reconhecêssemos que somos escolhidos, cada um, e que Jesus quer que n’Ele encontremos vida e alegria.

Jesus, que nos escolhe, que Se antecipa, também nos envia, como somos, a sermos sinal do Seu amor e da Sua alegria. De uma forma muito concreta, envia-nos para que os Gambozinos sejam, neste mundo e na vida de cada um daqueles que servimos, sinal da verdade, da liberdade, da justiça, da alegria e da paz do Reino. Somos enviados para que os Gambozinos sejam sinal do Céu.

Jesus precisa dos Gambozinos e dos seus animadores para continuar a fazer maravilhas, para continuar a fazer milagres, daqueles milagres de todos os dias, tão habituais nos Gambozinos.

Por tudo isto, somos convidados a conhecer, a renovar ou a redescobrir a nossa missão nos Gambozinos, confiando neste Deus que Se antecipa, que nos escolhe e envia, que nunca nos deixa sós (como isto é tão verdadeiro nos Gambozinos!). Somos convidados a fazer frutificar as relações entre os ramos, entre animadores e animados, e destes com a videira, lugar da verdadeira vida e da verdadeira alegria.

 

Duarte Rosado, sj

A alegria que colecionámos

A alegria que colecionámos

Num campo somos chamados a servir, quase de uma forma contínua, e, por algum motivo (acho que todos sabemos bem qual é), todos os desafios e tarefas que vão aparecendo sabem sempre a oportunidade para estar melhor e mais inteiro.

Do muito que fui aprendendo e continuo a aprender dos Gambozinos, vai-me sempre sendo relembrado o bom que é poder estar, com leveza e liberdade, ao serviço. Não contabilizar o muito ou pouco que cada um dá e faz, mas treinar o olhar para ver o que cada um oferece de si com admiração e humildade.

De repente, com esta mudança de olhar, fazer um aplauso na roda ganha a mesma força e dimensão que construir uma jangada, consolar um gambozino mais triste ou cortar cebola para o jantar!

Depois deste verão, o convite é regressar a casa, às aulas e ao trabalho, com a Alegria que colecionámos!

Somos chamados a olhar a nossa To-Do List, não como uma coluna entediante e interminável de quadrados, à espera do check que nos dá 2 segundos de tranquilidade e satisfação, mas a olhar os nossos dias, cheios e atarefados, com a leveza de um campo de férias.

Somos chamados a encarar as tarefas rotineiras (e tantas vezes aborrecidas!) com a alegria que descobrimos em lavar a loiça no rio, enquanto conversamos com o gambozino ao nosso lado. A entregar a mesma atenção e resiliência que dedicamos à pessoa nova que conhecemos na roda, aos colegas de turma com quem estamos todos os dias.

Acima de tudo, depois de um verão como o que passou, torna-se quase impossível não regressar com o coração cheio e com vontade de viver os nossos dias de uma forma leve e verdadeiramente gambozínica! No final de contas, como se descobre ao fim de 10 dias de campo, só assim somos verdadeiramente felizes!

 

Marta Pereira

Para tudo há um tempo

Para tudo há um tempo

Todos temos aquela camisola que somos incapazes de deitar fora. Já a temos há anos, mas tem nas suas fibras tantas memórias, que deixou de ser apenas uma simples peça de roupa. Faz parte da nossa história, de quem somos, porque a vestimos durante uma parte tão grande da nossa vida, que guardou em si um pouco de cada lugar por onde passou.

Eu também tenho uma camisola destas, que as pessoas sabem que é a minha se ficar perdida no final de um jantar em cima de um sofá. Uma camisola que fala de mim e de quem sou. E também eu estou na luta de a querer continuar a vestir, todos os dias e para todo o lado. Mas já chegou àquele ponto em que se a minha mãe me visse sair de casa com ela não ia deixar passar indiferente.

– “Essa camisola já teve o seu tempo, não?” – diria a minha mãe.

Agora, estou diante do meu armário. Com respeito, tiro a Camisola do armário, pouso-a em cima da cama e contemplo-a. Sinto no corpo a sensação incomparável de um fresquinho quentinho de estar sentada na roda, com uma guitarra na mão, acabada de tomar banho no rio e ter-me vestido na tenda, entre gargalhadas e partilhas. Vêm-me à memória viagens a Peniche, a velocidades questionáveis e música aos altos berros, enquanto terminamos os últimos pormenores da atividade que está prestes a começar. Vejo, ao longe, dois amigos a conversar sobre a vocação e o que os ajuda a encontrar Deus no dia-a-dia. Oiço vozes de pessoas a descobrir os planos do próximo ano e a perceber como podemos servir, cada vez mais, a nossa missão.

Diante desta Camisola, e da história que traz consigo, só posso agradecer tanto bem vivido e recebido, tantas pessoas que, ainda hoje em dia, me fazem acreditar que somos chamados a mais e que o Céu pode ser vivido hoje e aqui.

Pego na camisola – com cuidado, porque já tem o seu uso – e visto-a. Deixo-me habitar por ela. E, subitamente, não me sinto diferente. De repente, percebo que a camisola já faz parte de mim, quer esteja vestida ou não.

Isto de ser Gambozino tem muito que se lhe diga. «Para tudo há um momento. e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu» [Ec 3, 1]. Também ser Gambozino tem os seus tempos e momentos: há um tempo para ser animador, como se toda a nossa vida dependesse disso, e um tempo para se deixar ser animado. Há um momento para preparar atividades e outro para aproveitar o que os outros prepararam. Há um tempo para agarrar e outro para largar.

Mas a magia de ser Gambozino é que, verdadeiramente, nunca deixamos de o ser, mesmo quando já não participamos de forma tão ativa nas atividades desta Associação. Por isso, chegou o tempo de largar, de confiar a missão para quem este é o tempo e o momento de a viver, e de continuar a ser Gambozina na minha vida, naquilo a que hoje sou chamada.

Vou continuar a guardar e passear esta camisola, agora por outros lugares e novas aventuras. Sou Gambozina e o sonho mantém-se o mesmo: contribuir para a construção do Reino. E que bom que é saber que por aí há tantos que se passeiam com esta camisola, patrocinando este mesmo sonho.  E estão à distância de um jantar, uma missa ou uma conversa. Não estou sozinha na missão. Que bom é ser Gambozina e ter esta camisola.

Francisca Santos

Vestir a camisola

Vestir a camisola

Quer se tenha feito campos todos os anos, apenas um dia de Natal, que se tenha conhecido os gambozinos apenas como animador ou que já se seja sócio desde que se nasceu, os gambozinos marcam todos aqueles que por aqui passam.

Fazer gambozinos é uma experiência transformadora e impossível de passar indiferente. Aliás, não dizemos que “fazemos gambozinos”, mas sim que “somos gambozinos”, porque, não só os gambozinos nos tocam, como também deixamos um pouco de nós: com os nossos talentos, boa vontade e até ideias. Torna-se algo personalizado, vivo e movido por nós, em que tentamos ser testemunhos de Deus. Que nunca nos esqueçamos disto: somos TESTEMUNHO e os gambozinos são apenas um instrumento para o sermos. Que tudo o que fazemos em nome dos gambozinos tenha este objetivo, seja quando se pensa num jogo, na noite de fados ou numa visita ao bairro. Antes de representar os gambozinos, e vestir a camisola, estou a representar o Senhor. Por isso é que os gambozinos fazem parte de cada um de nós, uma vez que, entregando o nosso trabalho a Deus, tudo o que vem é bom e, consequentemente, o tempo nos gambozinos foi, é e será bom para cada um.

Os gambozinos dão-nos ferramentas, não só para sermos bons animadores, mas para sermos bons cidadãos e, acima de tudo, bons cristãos. Até nas coisas mais pequenas os gambozinos trazem algo de relevante que levamos para o dia a dia, desde as formações SPC, que nos ensinam a cuidar das nossas palavras e do impacto que podemos ter na vida de alguém, a atividades que, mesmo com o seu muito planeamento, não têm tanta adesão e que nos obrigam a trabalhar a paciência, em momentos em que esta pode ser bastante escassa. Há muitos outros exemplos, mas o importante a salientar é que, por mais pequena que seja a nossa contribuição como animador, retiramos sempre algo de útil para a vida comum.

É necessário que “ser gambozino” seja uma responsabilidade que encaramos com alegria; que, através dos nossos atos, quem nos rodeia perceba que fazemos parte desta família e, mais importante, que o Verdadeiro Gambozino vive em nós e quer transbordar para fora. Ser gambozino é, também, sair da nossa zona de conforto, não ter medo de arriscar e confiar nos convites que nos são feitos ao longo do tempo, rezando-os sempre e tentando perceber a vontade de Deus.

Ser gambozino é ser alegre e reconhecer-me amado por Deus. Ser gambozino é amar e não deixar ninguém de parte. Ser gambozino é gritar o “dizem que somos locos de la cabeça” num comboio apinhado de gente nas JMJ. Ser gambozino é viver na simplicidade. Ser gambozino é respeitar a natureza. Ser gambozino é rezar a minha vida com Deus.

Ser gambozino é tudo isto e mais alguma coisa. Não é necessária uma lista detalhada na qual vou fazendo “checks”, para identificar se o sou ou não. Apenas sei que tu, se já estiveste em contacto com os gambozinos, deixaste um pouco de ti durante a tua caminhada.

Beatriz Melro