Tantas vezes digo ao orvalho sou como tu é o nome da nova exposição na galeria da Brotéria, que inaugura na quinta-feira, dia 1 de outubro, às 18h, e conta com obras dos artistas Alberto Carneiro, Baralho, Sérgio Carronha e Rita RA.
A inauguração da exposição continua com a conversa “Arte, ética ambiental e espiritualidade”, às 19h30, entre Rui Martins e Sofia Guedes Vaz, moderada por Ana Patrícia Fonseca da Fundação Fé e Cooperação (FEC). A conversa será transmitida na página de Facebook da FEC e no Café Brotéria.
Nos últimos meses, a utilização do prefixo «pan» tem-nos feito experimentar mais radicalmente o inevitável modo sistémico em que se compõe a existência no tempo e no espaço universais. A FEC — Fundação Fé e Cooperação uniu-se à Brotéria, numa tentativa de traçar uma revisitação visual da encíclica do Papa Francisco, Laudato Si: Sobre o Cuidado da Casa Comum, que nos lembra que “tudo está interligado”, desenhando um ritual de reorganização da consciência integral da Natureza através de uma experiência artística imersiva.
A inauguração da exposição continua, na quinta-feira, com a conversa “Arte, ética ambiental e espiritualidade”, às 19h30, entre Rui Martins e Sofia Guedes Vaz, moderada por Ana Patrícia Fonseca da Fundação Fé e Cooperação (FEC).
Convoca-se para o espaço urbano um encontro com a matéria da terra, sinalizando, através da raiz da árvore (Alberto Carneiro), da marcação primitiva da incidência do sol (Sérgio Carronha), de um elicário de paisagens (Baralho) e do gesto primordial da oferta do pão (Rita RA), um enraizamento com própria natureza humana, indissociável do nosso lugar na ordem dos elementos.
A exposição está patente na galeria da Brotéria, no Bairro Alto, até sábado, dia 28 de novembro, de segunda a sábado, das 10h às 18h. A entrada é gratuita, com lotação limitada.
Sobre os artistas:
ALBERTO CARNEIRO
Coronado, Trofa, Douro Litoral, 1937.
Entre 1947 e 1958 trabalha em oficinas de arte religiosa da sua terra, iniciando-se nas tecnologias da madeira, da pedra e do marfim. Frequenta o ensino secundário na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, Porto, e na Escola António Arroio, Lisboa. Termina o curso de escultura da ESBAP em 1967. No ano seguinte parte para Londres como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para frequentar a Saint Martin’s School of Art (1968-1970), onde é aluno de Anthony Caro e Philip King.
Em Londres contacta com as novas tendências artísticas emergentes no final da década de 1960, nomeadamente com a arte minimal e conceptual britânicas. A partir daí desenvolve projetos inovadores para o contexto português, entre os quais O canavial: memória metamorfose de um corpo ausente (1968) e Uma floresta para os teus sonhos (1970), onde se aproxima da Land Art, revelando uma “atenção especial aos valores de uma arte de «envolvimento», que abandona a primazia do trabalho manual para considerar o projeto conceptual, numa progressiva desmaterialização da obra de arte. Esta visão antropológica da criatividade artística combina-se com uma aproximação às filosofias orientais da essência e da natureza (budismo zen, tantrismo) e levam-no a elaborar o Manifesto de Arte Ecológica (1968-72) que repudia o dualismo ocidental sensualidade/espiritualidade e promove a reabilitação das coisas mais simples no significar da comunicação estética” [Melo, Alexandre – Arte e artistas em Portugal. Lisboa: Bertrand Editora; Instituto Camões, p. 152.]
SÉRGIO CARRONHA
Frequenta o curso de escultura na FBAUL até 2010, a partir de quando se dedica a explorar matérias primas como madeira, terra, pedra, matérias vegetais, desenvolvendo gradualmente um interesse pelos processos de recoleção e transformação dessas matérias. Ao longo do tempo, outros aspetos ganham importância para a sua linguagem: percorrer a paisagem e transportar os sentidos para o campo da plasticidade. Cresce o interesse pela arqueologia, provocando uma vontade de conhecer as mais diversas raízes das culturas antigas, particularmente as mais próximas dos seus antepassados. Muda-se para o interior do país (Alentejo), onde investiga e adapta os conhecimentos à prática artística. Hoje está envolvido num projeto pessoal de florestação e desenho de paisagem, de onde vem a experiência para a presente exposição. Apresentadas desde 2012, as suas obras foram expostas em museus, galerias e outros espaços culturais de Lisboa, Porto, Madrid e Roma.
RITA RA
Rita Rebelo de Andrade (Rita RA), 1992 Lisboa.
Licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Estudou Arte Multimédia, um semestre na Academia de Artes e Design de Ljubljana – Eslovénia –, viveu em Londres e reside atualmente em Lisboa onde colabora com artistas visuais, músicos, performers numa prática transdisciplinar, individual e coletiva, de criação artística. (mais informação em rita-ra.com)
BARALHO
Coletivo artístico formado por uma fotógrafa, um arquiteto e um artista plástico. Intercetam-se no centro de um espaço em contínua expansão, onde a singularidade de cada um é capaz de gerar uma posição consistente e renovadora, liberta da identidade pessoal. A sua vontade é descobrir com que amplitude se olha o mundo, e de que forma o conseguem transformar, quando a articulação de três posições artísticas e existenciais distintas se concretiza na resolução de um só gesto plástico. O seu trabalho tem vindo a incidir objetivamente na prática artística, entendida como um campo semântico capaz de ativar toda a extensão antropológica do Homem; no desenvolvimento e concretização de mobiliário de autor, aliando a compreensão sensível dos materiais e o seu tratamento escultórico, com o desenvolvimento da tecnologia artesanal; e pela intervenção sobre arquitetura, entendida como uma atitude concreta de ocupação e modelação do território, como o culminar de um desenvolvimento tecnológico, e como realidade plástica em sim mesma.