Urgentemente

A urgência a que somos chamados não se trata de andar a correr desenfreadamente ou de viver em constante sobressalto. A urgência do amor leva-nos a caminhar, a permanecer, a empenhar, a perseverar. Porque sempre em confiança com Deus.

A urgência a que somos chamados não se trata de andar a correr desenfreadamente ou de viver em constante sobressalto. A urgência do amor leva-nos a caminhar, a permanecer, a empenhar, a perseverar. Porque sempre em confiança com Deus.

“É urgente o amor. É urgente um barco no mar.” As palavras são de Eugénio de Andrade, nascido José Fontinhas a 19 de janeiro de 1923. Celebramos o centenário do seu nascimento, o que me levou a recuperar o seu Urgentemente. Destruir palavras de ódio, inventar alegria, descobrir rosas e rios. É urgente o amor. O poeta escreve a urgência de uma entrega sem medida à vida. Não é esta a missão de Deus para nós? Entregarmo-nos à urgência do amor é fazer de Cristo o centro de toda a vida.

A urgência a que somos chamados não se trata de andar a correr desenfreadamente ou de viver em constante sobressalto. A urgência do amor leva-nos a caminhar, a permanecer, a empenhar, a perseverar. Porque sempre em confiança com Deus.

Ser urgente de amor é ser urgente de vida alegre e agradecida. Mas como inventar alegria ou motivos para nos alegrarmos? Só com um olhar de luz sobre todas as coisas. De maravilhas estamos repletos quando nos permitimos ser tocados por elas. As mais  invisíveis, pequenas, ínfimas, transparentes. São assim as maravilhas de Deus, grandes aos olhos do coração.

Também Jesus, no meio da multidão, se faz sempre motivo de alegria para nós, revelando-nos a urgência que temos do Seu amor. Somos todos chamados a inventar alegria e a sermos alegria viva para o mundo. Mesmo quando nos parece impossível, mesmo quando tudo parece gritar o oposto.

Eugénio de Andrade também escreve a urgência de destruir o ódio, a crueldade, lamentos e espadas e a urgência de multiplicar beijos e searas, rios e manhãs claras. Eis o convite de permanecermos na simplicidade de tudo aquilo que é dádiva, oferta e dom.

Para quem quiser ouvir o poema Urgentemente cantado, vale a pena pela voz da artista A garota não. Para quem anda pelo Porto, a exposição “Eugénio de Andrade, A Arte dos Versos”, a decorrer na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, está aberta ao público até 29 de abril.

 

URGENTEMENTE

É urgente o amor

É urgente um barco no mar

É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,  é urgente descobrir rosas e rios  e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz  impura, até doer.

É urgente o amor, é urgente

permanecer.

Eugénio de Andrade, in “Até Amanhã

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.