UNESCO – 75 anos pela Paz

Todos, juntos, na nossa diversidade, precisamos de trabalhar para construir novas defesas da paz, em tempos marcados por novos desafios, do digital à inteligência artificial, da biogenética à automatização, e por novas formas de violência.

Todos, juntos, na nossa diversidade, precisamos de trabalhar para construir novas defesas da paz, em tempos marcados por novos desafios, do digital à inteligência artificial, da biogenética à automatização, e por novas formas de violência.

Uma vez que as guerras se iniciam nas mentes dos homens e das mulheres, é nas mentes dos homens e das mulheres que devem ser construídas as defesas da paz.

A UNESCO foi criada com esta frase, no dia 16 de Novembro de 1945. Desde então, em momentos distintos da história mundial, tem procurado ser uma voz pela paz, através da educação, da ciência e da cultura.

Nas primeiras décadas, talvez o mais relevante tenha sido a luta contra o racismo, também através da ciência, e pela descolonização. Portugal esteve afastado deste tempo da UNESCO.

Nas décadas seguintes, o princípio da Educação para todos ganha grande visibilidade, a par de temas como a igualdade de género, a defesa do património cultural ou a protecção dos Oceanos. Portugal tem um papel importante nesta fase, depois do 25 de Abril, graças, em particular, a Maria de Lourdes Pintasilgo e a Mário Ruivo, as duas referências maiores da nossa presença na UNESCO.

Actualmente, todas as energias estão centradas na resposta à pandemia. Em 2018, Portugal apresentou duas iniciativas, uma para pensar Os futuros da educação, outra para elaborar uma recomendação sobre A ciência aberta. Lançadas antes da Covid-19 acabaram por ter grande influência na acção recente da UNESCO e na forma como está a projectar o seu trabalho nos próximos anos.

Ao mesmo tempo, no decurso das últimas décadas, têm-se consolidado uma série de programas que colocam o selo UNESCO em bens, territórios e ecossistemas relacionados com o património mundial (cultural e natural), o património imaterial, os geoparques e as reservas da biosfera. Proporcionalmente à sua população e dimensão, Portugal está extraordinariamente bem representado nestes programas.

Agora, neste final de 2020, quando as primeiras vacinas contra a Covid-19 começam a ser distribuídas, todas as atenções se viram para o mundo pós-pandemia. Como construir uma humanidade comum? Como repensar a educação como um bem comum global? Como olhar para a ciência de forma aberta e partilhada? Como colocar o património ao serviço de uma sociedade convivial? Como proteger a biodiversidade enquanto elemento central da nossa “casa comum”, o planeta Terra?

Por isso, Portugal propôs, no último plenário do Conselho Executivo, realizado no dia 2 de Dezembro, que a UNESCO celebrasse o seu 75.º aniversário com uma Declaração sobre a humanidade comum. O sentido é o mesmo que o Papa Francisco deu à sua última encíclica Fratelli tutti, “sobre a fraternidade e a amizade social”. É o mesmo que assinalava Federico Mayor Zaragoza, Director-Geral da UNESCO entre 1987 e 1999, no 70.º aniversário da UNESCO, sublinhando três princípios-chave: com-partilhar, co-operar e com-prometer-se.

Todos, juntos, na nossa diversidade, precisamos de trabalhar para construir novas defesas da paz, em tempos marcados por novos desafios, do digital à inteligência artificial, da biogenética à automatização, e por novas formas de violência e de intolerância. Como diz José Saramago, “eles querem a guerra, mas nós não os vamos deixar em paz”.

 

O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.