Uma oração pelo mundo

Caminhar aprendendo o valor da oração de intercessão. Abrir-se ao mundo, através das súplicas que recordam tantas necessidades. Deixar cair as pedras para erguer as mãos a Deus. Foi também esta a experiência do P. Abel, como Inácio.

Caminhar aprendendo o valor da oração de intercessão. Abrir-se ao mundo, através das súplicas que recordam tantas necessidades. Deixar cair as pedras para erguer as mãos a Deus. Foi também esta a experiência do P. Abel, como Inácio.

“Se estamos todos com as mãos cheias de pedras, a atirar uns aos outros, quem pode levantar as mãos ao céu para rezar a Deus?” Esta foi uma interrogação que fez caminho com Abel, que foi meditando sobre os problemas e dramas do mundo ao mesmo tempo que percorria montes e vales rumo a Manresa. A oração é uma arma poderosa, relembra, citando Bento XVI que a classificava como mais forte do que as bombas, por isso o sacerdote jesuíta passou grande parte do tempo a rezar.

Caminhava e rezava. Não só através de uma oração abstrata ou contemplativa, mas também com preces concretas, lembrando pessoas específicas e intenções pontuais. De terço na mão, orava pelos que se iam cruzando com ele na estrada, o acolhiam à chegada às povoações, pelos que lhe pediram orações, pela Igreja universal e pela Companhia de Jesus. Orava pelo mundo.

“Rezei muito pela Terra Santa, partilha o P. Abel Bandeira, recordando que foi com o propósito de chegar a esse local sagrado que Inácio saiu de casa, em Loiola, e se fez ao caminho, chegando até Manresa. Nos dias em que o sacerdote peregrinava, a terra por onde andou Jesus voltava a ser notícia nos telejornais e palco de violência e morte, depois de o presidente dos Estados Unidos ter anunciado que iria mudar a localização da embaixada americana de Telavive para Jerusalém. Também sobre isso Abel rezou, pedindo a intervenção de Deus para ajudar a sarar um conflito antigo mas que parece não ter fim. “É preciso acreditar que este mundo que Deus criou para nós pode ser reparado”.

A esta intenção concreta da Terra Santa, o jesuíta juntou muitas outras, relacionadas com a atual situação social e política – desde a Coreia do Norte, à Síria ou outros locais marcados pela opressão e a guerra – , e “num mundo que parece não ter solução”. Mas Deus, afirma Abel, quer a nossa oração de intercessão e de reparação, “quer que hoje alguém levante os braços ao céu e diga ‘Senhor, tem piedade de nós’. Foi isso que tentei fazer nesta peregrinação”. Mas voltando ao início deste relato, por vezes parecemos demasiado concentrados em ocupar as mãos com pedras, em vez de as juntarmos e virarmos para Deus.

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Ilustração de Mário linhares

 

Tenho o mundo e as suas necessidades presentes na minha oração? 

Nos Passos de Inácio V

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.