Revisitar o Românico

Para esta semana, a Brotéria recomenda um artigo que dá a conhecer um exemplar escondido da arquitectura românica em Portugal: a Igreja de Santa Maria em Covas do Barroso

Para esta semana, a Brotéria recomenda um artigo que dá a conhecer um exemplar escondido da arquitectura românica em Portugal: a Igreja de Santa Maria em Covas do Barroso

A aldeia de Covas do Barroso (Boticas, Vila Real) surpreende-nos em todos os aspetos. A pitoresca arquitetura, a simpatia das suas gentes, a disponibilidade da presidente da freguesia – Lúcia Mó, a beleza da praia fluvial… Mesmo antes de lá chegarmos, a serenidade do caminho pela serra antecipa o que na aldeia se experiencia. Contudo, a igreja de Santa Maria é incontornavelmente o seu ex-libris. Tendo sido igreja da apresentação do duque de Bragança, foi considerada Imóvel de Interesse Público em 1967 e destaca-se como um dos mais insignes exemplares do estilo românico da região. Foi alvo de intervenções em períodos subsequentes e de restauros em 2018/2019.

O seu exterior simples contrasta com o rico interior do qual são protagonistas as pinturas murais. As mais antigas são datáveis do 4º quartel do séc. XV e as mais recentes do 1º quartel do séc. XVIII e representam Santos ou cenas da vida de Cristo e de Nossa Senhora, como o Nascimento do Menino Jesus, a Adoração dos Pastores, o Menino Jesus entre os Doutores, a Ressurreição de Cristo ou a Assunção de Nossa Senhora.

A larga janela temporal onde se inserem estas decorações parietais e a grande diversidade de temas tornam este espaço num precioso documento histórico para o estudo da evolução dos gostos e das técnicas pictóricas. Bastante renegada em relação à pintura de cavalete – provavelmente por ter sido posteriormente tapada por retábulos, por estar em pior estado de conservação ou por ter menor qualidade plástica, regra geral – a pintura mural é certamente merecedora de atenção. Ao contrário do que acontece com a maioria das outras tipologias de arte, esta tende a permanecer no local de origem, o que possibilita a abordagem da relação deste tipo de pintura com o espaço, geográfico e arquitetónico, em que se insere. Assim, poder-se-á tentar compreender os motivos pelos quais foram escolhidos determinados temas para determinados locais.

Para além disso, o facto de permanecer no local para o qual foi concebida, em vez de ser levada para museus em cidades mais populosas do País, permite que a pintura mural preste um generoso serviço à sua região, promovendo o seu interesse cultural. Para além de certas esculturas, é digno de atenção o túmulo com estátua-jacente de Afonso Anes Barroso, escudeiro do 1º duque de Bragança, sepultado em 1459, como se lê na inscrição epigráfica: «Aqui:jaz:afomse:anes:bar/rosso:oqual:foy:muito:hõrrado/escudeiro:do:duq[ue]:de:b[r] agãca:fi/delrey de jon finouse na e[ra] do s[enh]or de I iiij:/IX ano».

 

Património :Igreja de Santa Maria

Covas do Barroso, Vila Real

Fotografia: Carolina Vaz Pinto

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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